Embrapa Trigo
 
Junho, 2013
142
Passo Fundo, RS
O centeio no Brasil

No Brasil, o centeio foi introduzido por imigrantes alemães e poloneses no século XIX, sendo cultivado, principalmente, em solos ácidos e degradados e em altitudes acima de 600 m (BAIER, 1994).

O inicio do cultivo de centeio no Brasil ocorreu com o uso de variedades e cultivares estrangeiras, boa parte trazida pelos imigrantes. Baier (1994) relatou o cultivo de populações “Gayerovo” e “Centeio Branco”, em São Paulo; “White Rye”, originário dos EUA, no Paraná; “Abruzzi”, de origem italiana, introduzida através da Argentina, e populações coloniais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, na década de 1990. Em 1986, houve o lançamento da primeira cultivar brasileira, a cultivar BR 1, pela Embrapa Trigo. Quase quinze anos após, em 2000, houve o lançamento de uma nova cultivar, o centeio IPR 89, pelo IAPAR. Atualmente, existem quatro cultivares de centeio registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: BR 1, 1986, Embrapa; IPR 89, 2000, IAPAR; BRS Serrano, 2005, Embrapa; Temprano, 2010, Atlântica Trading Ltda.

Segundo Mundstock (1983), no Rio Grande do Sul, a expansão do centeio ficou restrita a pequenas áreas coloniais e, posteriormente, a áreas de pastejo em algumas regiões do estado. Para o autor, tal limitação foi devida a pequena utilização do centeio na alimentação humana e a restrita área propícia para a cultura. Já Baier (1994) mencionou como fatores de redução da área de cultivo de centeio no Brasil, os subsídios à cultura de trigo, a extinção de moinhos coloniais de centeio, a incidência de doenças, e pesquisa reduzida. Contudo, outros fatores também podem estar associados, tais como: menor disponibilidade de sementes quando comparada ao trigo, à cevada e à aveia; demanda restrita; e preferência das novas gerações por culturas de maior rentabilidade econômica.

Em geral, as estatísticas oficiais de área colhida e produção não consideram o cultivo do centeio, solteiro ou consorciado com outras espécies, com fins de cobertura de solo ou para pastejo. A Figura 2 e a Tabela 5 apresentam dados da evolução da cultura (grão) no Brasil, a partir da década de 1940. Destaca-se a redução da área da cultura nas décadas de 1970 e 1980 e o crescente aumento do rendimento da cultura a partir da década de 1980.

Após crescimento de área colhida de centeio no país nos anos de 1940, nas décadas de 1950 e de 1960, a área manteve-se “estável” oscilando entre 21 a 29 mil hectares colhidos por ano e produção média anual foi de 18,45 e 17,77 mil toneladas, respectivamente. O ano de 1953 registrou a maior área colhida no país; com 28,8 mil hectares colhidos. A partir de 1975, houve queda de área colhida atingindo novo patamar, entre 2,3 a 10,0 mil hectares, com média anual de 5,9 mil hectares, na década de 1990, e de 4,4 mil hectares, na primeira década dos anos 2000. Nos últimos três anos (2010-2012), a área oficial colhida de grãos tem se mantido em 2,3 mil hectares. Entretanto, a área colhida de centeio, em grãos, pode ser próxima a 8 mil hectares considerando que os estados de SP, MS e SC não constam das estimativas oficiais. No entanto, alguns locais onde a área de cultivo não é representativa não são computados como no caso do MS, onde há relato de cultivo anual de pelo menos 3 a 5 mil hectares[11].

Por outro lado, o cereal obteve ganhos de rendimento crescentes nesse período, passando de 710 kg/ha, na década de 1950, para 966 kg/ha, na década de 1990, atingindo 1.164kg/ha na primeira década dos anos 2000. A estimativa de 1.774 kg/ha, na safra de 2012, configura-se como registro recorde de rendimento até agora. O ganho médio anual no período 1990 a 2012 foi de 18,8 kg/ha/ano. Tal situação tem estreita relação com os esforços iniciados na década de 1980 de estruturação de coleções de variedades cultivadas no país, realização de experimentação de avaliação dos genótipos e do lançamento da primeira cultivar de centeio no Brasil em 1986.

Os menores rendimentos observados no Brasil, comparativamente as médias mundiais entre 2.300 a 2.600 kg/ha, decorrem, principalmente, pelo perfil das cultivares e ciclo de cultivo. No hemisfério norte, o uso preferencial é pelas cultivares invernais, de ciclo mais longo, semeadas no outono. Biologicamente esses materiais tem maior potencial para rendimento de grãos, devido ao período de acumulação de reservas durante a fase vegetativa maior. No Brasil, todas as cultivares são primaveris, tem um menor ciclo de cultivo, e menor tempo para acúmulo de reservas, resultando em menor potencial de rendimento. O ciclo menor das cultivares semeadas no Brasil é necessário por não dispormos de horas de frio suficientes para o desenvolvimento e crescimento das cultivares invernais. Além disso, para a adequação dos diversos cultivos, que em alguns casos chegam a três lavouras, em um período de apenas um ano, cultivares de menor ciclo são necessárias.

Em decorrência dos rendimentos crescentes, enquanto a redução de área entre as décadas de 1950 (década de maior cultivo do cereal) e de 2000 foi de 83%, a redução da produção foi de 72%. A maior quantidade produzida registrada no país foi de 24,4 mil toneladas na safra 1981. Entre 1993 a 2012, a média das taxas anuais de crescimento foi 7%, o que indica, apesar da redução de área, crescimento constante da produção sustentado pelo aumento dos rendimentos do cultivo.

Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o estado do Paraná foi responsável por mais de 60,0% da produção de centeio no Brasil[12], com quantidades médias de 10,1; 17,4 e 13,9 mil toneladas, respectivamente (Tabela 6). Na década de 1970, houve redução expressiva de área de cultivo no país, especialmente, no estado do Paraná. Em 1973, o estado colheu 11,2 mil de hectares (56,0% da área colhida no país). Já em 1977 e 1978 essa área foi de apenas 1,7 mil hectares. Embora na década de 1980, o estado apresentou alguns picos de cultivo, em 1981 (15,2 mil hectares) e em 1985 (11,1 mil hectares), houve intensa redução de área no estado e durante 2003 a 2012 oscilou entre 260 a 1.600 hectares representando de 14,3 a 37,3% da produção nacional.

O estado de Santa Catarina apresentou comportamento similar ao Paraná. Entre os anos de 1940 a 1960, o estado representou um quarto da produção nacional de centeio. A partir da década de 1970, houve redução da área colhida e, entre os anos de 1996 a 2006, o estado manteve registros de área de cultivo do cereal menores a 100 hectares (entre 50 a 90 hectares), não havendo registro de cultivo nos anos de 2007, 2008, 2009, 20011 e 2012.

Na contramão dos estados do PR e de SC, o estado do Rio Grande do Sul ampliou a área colhida a partir da década de 1970, alcançando uma área colhida de 6,95 mil hectares em 1979 (64,0% da área total colhida de centeio no Brasil naquela safra). Na década de 1980, houve redução de área que oscilou entre 460 a 700 hectares entre 1984 a 1988. Nos anos 1990, houve novo crescimento de área colhida e, em 1998, o estado registrou 7,5 mil hectares colhidos, maior registro do estado, correspondendo a 75,7% do total colhido no Brasil. A partir do final dos anos de 1990, tendência de redução de área de cultivo foi observada no RS, mas o estado mantém a posição de maior produtor, a qual ocupa desde a safra de 1989. No período de 1989 a 2012, a produção de centeio do estado tem representado de 60,2 a 83,1% do total produzido no país.

Segundo os dados oficiais, os estados de São Paulo e de Mato Grosso do Sul possuem registros esporádicos de cultivo de centeio. No caso de São Paulo, houve registro de cultivo de centeio, em proporções limitadas, nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Já no Mato Grosso do Sul, esses registros foram nas décadas de 1980, 1990 e 2000.

Nos últimos três anos (2010-2012), a área anual média colhida no Brasil foi de 2,3 mil hectares, sendo 1,7 mil hectares (71,9%) localizados no Rio Grande do Sul e 646 hectares (27,7%) no Paraná. No entanto, o maior rendimento observado nas lavouras paranaenses faz que a representatividade relativa da produção do estado do PR seja maior (32,4% do total do país) que sua representatividade na área colhida. A produção gaúcha média, de 2,4 mil toneladas, representou no período 67,2% do total brasileiro.

Considerando o período de 1980-2012, constata-se que os maiores acréscimos médios anuais no rendimento, ocorreram em Santa Catarina (acréscimo de 37,8 kg/ha/ano), seguido pelo Paraná (27,4 kg/ha/ano) e pelo Rio Grande do Sul (10,9 kg/ha/ano).

Em termos espaciais, na década de 1970, as microrregiões de Vacaria (região nordeste rio-grandense) e de Canoinhas (sudeste catarinense) possuíam importância expressiva na produção de centeio (aproximadamente 50,0% da produção). Na década de 80, a microrregião de Cascavel (oeste paranaense), assumiu importância na produção de centeio respondendo por 38,6% da quantidade produzida. Já nos anos 1990, as regiões noroeste rio-grandense (microrregiões de Ijuí e Carazinho) e sudeste paranaense (microrregião de Prudentópolis) responderam por aproximadamente 65,0% da produção de centeio. No inicio dos anos 2000, a região noroeste rio-grandense (microrregiões de Ijuí, Carazinho e Três Passos) consolidou-se como a principal região produtora de centeio no Brasil (DE MORI et al., 2007). Na Figura 3, pode ser observada a distribuição espacial do cultivo de centeio na safra de 2011, ratificando a concentração da produção nas regiões noroeste rio-grandense e centro-ocidental do Paraná. No período de 2008-2011, essas mesorregiões foram responsáveis por 73,1% e 80,1%, respectivamente, da produção brasileira de centeio. Nesse período, as microrregiões de Ijuí/RS (39,0%), de Cruz Alta (15,3%) e de Carazinho (9,9%) responderam por 64,2% da produção. No Paraná, destacam-se as microrregiões de Pato Branco, Guarapuava, Prudentópolis e Ponta Grossa, tradicionais produtoras do grão, que juntas responderam por 12,9% da produção nacional e 48,4% da produção paranaense.

Considerando as produções municipais no período de 2009-2011, os municípios de Chiapetta/RS (10,3%); Santa Barbara do Sul/RS (9,7%); Salto do Jacuí/RS (8,9%); Palmeira das Missões/RS (8,8%); Giruá/RS (6,1%); Condor/RS (5,2%) e Panambi/RS (5,1%) responderam por, aproximadamente, 50,0% da produção nacional nesse período. Em 2011, dentre os 27 municípios que tiveram registro de cultivo de centeio no país, os municípios de Santa Bárbara do Sul/RS, Chiapetta/RS, Guarapuava/PR e Salto do Jacuí/RS se destacam pelas maiores áreas colhidas e quantidades produzidas de centeio. Em termos de rendimento, segundo os dados do IBGE (2012), os municípios de Jacutinga/RS, Santa Bárbara do Sul/RS, Porto Amazonas/PR e Ponta Grossa/PR apresentaram os maiores registros (Tabela 7).


[11] Informação fornecida por Alfredo do Nascimento Junior, da Embrapa Trigo, em Passo Fundo, em fevereiro de 2013.
[12] O estado do Paraná foi responsável por 61,8%, 63,7% e 62,0% da produção média das décadas de 1940, 1950 e 1960, respectivamente.

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