Embrapa Trigo Documento Online Nº 1, nov./99

2 - Efeitos do spd sobre o solo

O spd concentra resíduos nos primeiros 10 a 15 cm de solo, aumentando, nesse perfil, a quantidade e a diversidade da população de patógenos de solo associados a restos culturais, como R. solani e Pythium sp. A população total de fungos é maior de 0 a 10 cm de profundidade, declinando até 30 a 40 cm em spd. Em preparo convencional ocorre baixa população de 0 a 10 cm de profundidade, aumentando até 20 a 30 cm, resultando em populações relativamente uniformes na camada arável. A possibilidade de necrose de raízes, de nanismo e de plantas deformadas por fitotoxinas de compostos em decomposição também é aumentada em spd, principalmente em climas mais frios (Sumner et al., 1981; Salton et al., 1998). Por outro lado, o aumento do teor de matéria orgânica dos solos é importante para o cultivo de feijão, pois confere melhores condições de resistência a danos de doenças e favorece a atividade microbiana, induzindo o desenvolvimento de populações de microorganismos benéficos e de controle biológico (Sumner et al., 1981).

Atualmente, os desafios em spd são as doenças radiculares, principalmente devido à compactação do solo, que favorece o estresse hídrico. Por não revolver o solo, o spd apresenta, geralmente, uma elevação da densidade do solo na camada superficial, de 0 a 10 cm, a qual, sob condições normais, não causa problemas e tende a desaparecer com o decorrer dos anos. Entretanto, se o spd for mal conduzido (ausência de rotação de culturas e/ou de cobertura adequada do solo, semeadura em condições de excesso de umidade), pode ocorrer compactação nas camadas de 8 a 15 cm (Salton et al., 1998) (Figura 6).

No Rio Grande do Sul, tem-se observado que a realização das práticas de semeadura de soja em spd em solos com elevado teor de argila e em condições de excesso de umidade, causando compactação das paredes laterais do sulco de semeadura, está aumentando a incidência de podridões radiculares, principalmente no início do desenvolvimento da cultura (Figura 7). Os sintomas nas plantas são necrosamento da extremidade da raiz principal e, nas folhas, amarelecimento e necrosamento dos bordos, semelhante à deficiência de potássio. Das raízes, são isolados fungos dos gêneros Fusarium e Rhizoctonia, provavelmente saprófitas, aproveitando-se do estresse sofrido pelas raízes (Figura 8). Tais sintomas também vêm sendo observados nos locais de trânsito de máquinas. Solos compactados favorecem o desenvolvimento de todas as doenças radiculares, como podridão vermelha da raiz, podridão da raiz e da haste e podridão cinza da raiz, em soja, e podridões por Fusarium, em feijão.

Em um estudo de três anos, plantas de soja em parcelas manejadas sob spd apresentaram significativamente mais podridão vermelha da raiz que em parcelas cujo preparo do solo foi realizado com disco ou com sulcador (Wrather et al., 1995), sugerindo que a restrição do crescimento de raízes e o aumento do teor de umidade no solo, devidos ao aumento da densidade do solo verificado nas parcelas em spd, tenham causado o aumento da doença (Rupe, 1999).

A ocorrência da podridão da raiz e da haste da soja, causada por Phytophthora sojae, em várias lavouras no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, contraria informações de que sua ocorrência estaria condicionada a solos de áreas de baixadas (Figuras 9 e 10). Vários relatos asseguram que essa doença é mais severa em cultivo reduzido e em spd (Schmitthenner, 1985; Workneh et al., 1998). A umidade é o principal fator que condiciona sua ocorrência, pois solos saturados são essenciais para a formação de zoósporos e para a disseminação do inóculo. Como a taxa de percolação de água é mais baixa em spd, resultando em longos períodos de solo saturado, esta pode ser uma explicação para o aumento da doença em spd. O desenvolvimento da doença também está associado à monocultura de soja, ao solo compactado, que dificulta a drenagem, e à cobertura de palha, que mantém o solo úmido por períodos mais longos. Para Schmitthenner (1985), soja cultivada em sistema convencional de preparo de solo rendeu 19 % a mais que soja cultivada em spd, na presença dessa doença. Workneh et al. (1998) concluíram que a freqüência de recuperação de P. sojae foi duas a três vezes superior até 7,5 cm de profundidade em solos sob spd, o que sugere que o potencial de tombamento de plântulas de soja possa ser maior nesse sistema de cultivo. Houve correlação positiva entre peso seco de restos culturais em spd e porcentagem de recuperação do fungo, o que não foi verificado em preparo convencional, confirmando a importância dos restos culturais como fonte primária de inóculo.

Têm havido severas perdas na cultura de soja em períodos de estiagem com temperaturas elevadas, que resultam em estresse hídrico na planta, em conseqüência da podridão cinza da raiz (Figura 11). Levantamento realizado no Centro-Sul do Paraná e no Oeste de Santa Catarina, no fim da safra 1998/99, mostrou que essa doença foi responsável por reduções de 10 % a 40 % no rendimento de grãos, em conseqüência de estiagem e de alta temperatura ocorridas nos meses de janeiro e fevereiro, bem como da compactação do solo (Figura 12) (J. T. Yorinori, Embrapa Soja, inf. pess.).


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