Embrapa Trigo
 
Junho, 2013
142
Passo Fundo, RS
O complexo agroindustrial do centeio

Um complexo agroindustrial (CAI) consiste de um conjunto de processos agrícolas, de processamentos industriais e comerciais, sequenciais e interdependentes, aplicados a uma determinada matéria-prima agrícola base, por exemplo, centeio, trigo, milho ou leite, que resultam diferentes produtos destinados ao consumidor final. Segundo Batalha e Silva (2007), a formação de um complexo agroindustrial contempla um conjunto de cadeias de produção, cada uma delas associada a um produto final ou família de produtos.

O CAI do centeio compreende os elos de indústrias e serviços de apoio, de produção agrícola, de indústrias de primeira transformação (moagem), de indústrias de segunda transformação (por exemplo, panificação), de comércios internacional, atacadistas e varejistas, e de consumidores finais. Além do conjunto de elos envolvidos diretamente no processo produtivo, o complexo está inserido em um ambiente organizacional e institucional, não diretamente envolvido no processo produtivo, mas que o influencia. A Figura 7 apresenta esquema do Complexo Agroindustrial do Centeio, situando esses diferentes componentes.

a) Indústria de serviços e apoio: elo composto de/por organizações que dão suporte à produção primária e ao processamento industrial. Esse conjunto contempla, por exemplo, instituições e empresas de produção de sementes, indústria de fertilizantes, de defensivos e de equipamentos agrícolas, revendedores de combustível, indústrias de máquinas e equipamentos de processamento, de aditivos químicos e de embalagens, dentre outras. Esse elo é, geralmente, comum aos demais complexos agroindustriais de outros cereais.

b) Produção primária – a produção de centeio no Brasil concentra-se nos estados do RS e do PR, mais especificamente nas regiões noroeste rio-grandense e centro-ocidental do Paraná, com registro do cultivo em, aproximadamente, 30 municípios. Segundo os dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2012), em 2006, a produção de centeio foi registrada em 136 propriedades, sendo quase metade (43,4%)[20], propriedades com área total entre 10 a 50 hectares e quase um terço (30,9%) eram propriedades com mais de 100 hectares. Em 33,8% das propriedades, a área de plantio de centeio foi menor que dois hectares e, em 19,1%, a área plantada foi de 2 a 5 hectares. Somente 3,7% das propriedades registraram área de plantio de centeio de 100 a 200 hectares, maior faixa de semeadura por propriedade com registro. A grande maioria das propriedades com cultivo de centeio (69,9%) se dedicavam a lavoura temporária como atividade econômica e 22,1%, tinham a pecuária e criação de animais como principal atividade. Mais da metade dos estabelecimentos (56,6%) com registro de cultivo eram estabelecimentos familiares, no entanto, somente 17,3% da quantidade produzida de centeio advinham de estabelecimentos de origem familiar (82,7% da quantidade de centeio foram produzidas por estabelecimentos não familiares). Em termos de tecnologia empregada, considerando a área total colhida registrada nos dados do Censo, a totalidade do cultivo ocorreu em condições de sequeiro, somente um terço da área colhida (29,3%) fez uso de semente certificada, 78,4% da área teve aplicação de agrotóxico, 63,3% da área foi empregada adubação química[21] e 97,2% da área foi colhida mecanicamente. Adicionalmente, 7,9% da área foi cultivada com uso de agricultura orgânica, sendo que 96,5% dessas áreas eram certificadas por entidade credenciada. Em termos de assessoria técnica, 50,0% dos estabelecimentos com registro recebiam assistência técnica regularmente, 29,4%, assistência ocasional e 20,6%, não contaram com assistência. A assessoria em 53,6% dos estabelecimentos tecnicamente assistidos era feita por cooperativas e em 17,6%, por empresas privadas de planejamento. Do total produzido no ano de 2006, segundo os dados do Censo, 36,2% da quantidade não foi comercializada, sendo 28,4% consumida no estabelecimento, 23,6% empregada no consumo de animal no estabelecimento e 37,8% utilizada como semente. Do total comercializado, 52,9% foi vendido ou entregue a cooperativa, 25,7% comercializado diretamente com a indústria, 16,7% vendido como semente, 13,4% negociado diretamente com intermediários, 6,6% fornecidos diretamente ao consumidor e 1,3% entregues a empresas integradoras. As principais cooperativas que recebem, armazenam e comercializam grãos de centeio são Cotrijuí, Cotrimaio, Cotrirosa (RS), Agrária e Batavo Agroindustrial (PR). Algumas cooperativas como a Cotrijuí e a Cotrirosa também atuam na moagem do cereal.

c) Indústria de processamento/transformação: O principal destino do centeio no Brasil é a moagem e produção de pães. Diversas empresas no país ofertam farinha de centeio (por exemplo, Cotrirosa, Cotrijuí, SL Alimentos, Ferla, Magi Alimentos, Cerélus, Jandira Alimentos, Stival Alimentos, Jasmine, Grings Alimentos, Vitao, Yoki, Moinho Germani dentre outras), flocos de centeio (por exemplo, SL Alimentos), misturas ou pré-mesclas para pão de centeio (por exemplo, Cotrirosa, Moinho Globo, Fleishmann, Moinho Galopólis, ADIMIX, Moinho Tondo, Puratos, Moinho Nordeste, dentre outras) e pães industriais de centeio (por exemplo, Wickbold, Nutrella, Seven Boys, etc.). É comum a produção de pão de centeio em padarias, em especial nas chamadas panificadoras especializadas ou boutiques. Estima-se que o Brasil possui mais de 63,0 mil panificadoras (PERFIL..., 2010).

d) Distribuição e varejo/consumidor – A distribuição dos derivados é efetuada por atacadistas, pequenos varejos, supermercados, padarias e restaurantes. O consumidor final deste tipo de produto pertence às classes alta e média com preocupações em consumo de dieta saudável ou consumidores com vinculo de descendência europeia de tradição de consumo. Não há informações específicas do consumo de pão de centeio, mas segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar, em 2008, o consumo médio de pães integrais no Brasil era de 0,191 kg/habitante/ano (IBGE, 2012). Tal consumo apresentou-se crescente com o aumento de renda, sendo de 0,040 kg/habitante/ano para famílias com renda inferior a R$ 830,00 e de 0,757 kg/habitante/ano para famílias com renda superior a R$ 6.225,00, demonstrando um perfil associado ao aumento de renda.


[20] Dados apresentados foram calculados pelos autores com base nas informações do IBGE (2012).
[21] Em 31,2% da área colhida não houve uso de adubação; em 3,6% foi aplicada adubação química e orgânica e em 1,8% da área foi utilizada adubação orgânica.

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