Embrapa Trigo
 
Junho, 2013
142
Passo Fundo, RS
Aspectos econômicos e conjunturais da cultura do centeio no mundo e no Brasil
Claudia De Mori1
Alfredo do Nascimento Junior1
Martha Zavariz de Miranda1
Introdução

O centeio (Secale cereale L.), espécie originária do sudoeste da Ásia, pode ser cultivado sob condições ambientais bem diversificadas quando comparado aos outros cereais de inverno. Podem ser encontradas lavouras de centeio desde o Círculo Polar Ártico até o extremo sul da América do Sul, em locais próximos ao nível do mar ou à 4300m de altitude (BAIER, 1988). Esse cereal também pode ser encontrado em regiões de clima seco ou frio e em solos arenosos e pouco férteis. A produção do centeio está concentrada nas regiões centro e norte da Europa. É o oitavo cereal em termos de área semeada no mundo, com média anual de 5,55 milhões de hectares e produção anual média de 14,50 milhões de toneladas[2].

O centeio destaca-se pela resistência a baixas temperaturas (inicia a atividade fisiológica de crescimento a partir de 0ºC, o trigo a partir de 2,8 a 4,4ºC e a aveia apenas acima de 4,4ºC, conforme Baier, 1988); tem grande rusticidade e adaptação a solos pobres, particularmente arenosos; apresenta crescimento inicial vigoroso e produção de grande quantidade de massa verde para forragem e para cobertura de solo; o sistema radicular profundo e abundante, lhe confere alta capacidade de absorver água e nutrientes sob condições de seca; e ainda destaca-se pelas características dietéticas do grão. É o mais eficiente dos cereais de inverno no uso de água, pois produz a mesma quantidade de matéria seca com apenas 70% da água que o trigo utiliza. Contudo, o centeio é sensível à temperatura elevada durante a floração e a formação de grãos, além de que a moagem dos seus grãos tem maior consumo energético e há restrições na aceitação dos seus derivados (BAIER, 1994).

Devido a sua estabilidade de rendimento com pouco uso de insumos agrícolas, incluindo agrotóxicos, o centeio é um cereal com propriedades ecológicas e orgânicas importantes.

É empregado na alimentação humana, na forma de farinha para produção de produtos forneados (pães, biscoitos, etc.), em cereais matinais e em produtos dietéticos; na produção de bebidas destiladas claras (por exemplo, uísque e vodca); na elaboração de produtos não alimentícios (misturas adesivas e colas, fármacos, cosméticos, álcool, etc.), bem como na alimentação animal, na forma de forragem (pastejo ou feno ou silagem), ou na forma de misturas que incluem o grão ou na composição de ração. Também pode ser utilizado como cultura cobertura para o solo e sua palha empregada como cama para animais, cobertura morta em horticultura e fruticultura, material inerte para enchimento em caixas e na fabricação de papel e aglomerado de palha.

O presente documento tem por objetivo contextualizar aspectos relacionados ao agronegócio do centeio no mundo e no Brasil, bem como aspectos de comercialização e descrever brevemente a composição do complexo agroindustrial do centeio no País. Para tanto, foram agregadas e sistematizadas informações estatísticas e conjunturais obtidas por meio de revisão documental (MARCONI; LAKATOS, 2007). A organização destas informações justifica-se pela dispersão dos dados sobre a cultura e escassez de trabalhos atualizados que possibilitem uma visão geral desse cultivo em língua portuguesa.

São apresentados a origem e os diferentes usos do cereal, seguindo dos panoramas mundial e brasileiro da cultura, buscando analisar a dinâmica do balanço de oferta e demanda e a dinâmica do comércio exterior. Posteriormente são abordadas algumas informações sobre perfil de mercado e comportamento de preços, bem como a composição do complexo agroindustrial do centeio.


1Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: claudia.de-mori@embrapa.br; alfredo.nascimento@embrapa.br; martha.miranda@embrapa.br.
[2] Média do período de 2008-2012, com base nos dados do USDA (2012).

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