Dezembro, 2009
113
Passo Fundo, RS
Sementes

Somente usar sementes de híbridos registrados, com elevado potencial produtivo, produzidas sob condições especialmente favoráveis à disponibilizar sementes livres de doenças, para:

1) evitar a introdução de inóculo de doenças da canola na lavoura;

2) diminuir o risco de ter que resemear lavouras e atrasar o próximo cultivo; e,

3) garantir a emergência vigorosa e uniforme do cultivo reduzindo as perdas causadas pela desuniformidade na maturação.

• É extremamente importante evitar a introdução na América do Sul de sementes de canola transgênicas, com resistência a herbicidas, devido ao risco de gerar plantas voluntárias (“guachas”) ou plantas daninhas com resistência a diversos herbicidas, através de seu cruzamento com outras crucíferas, como o nabo forrageiro (Raphanus sativus L. var. oleiferus Metzg), nabiça (Raphanus raphanistrum L.) e “mostacilla” (Rapistrum rugosum L.,) muito disseminada na Argentina. No Canadá, a Dra. Linda Hall (Hall et al, 2002) observou elevado fluxo de genes através do pólen de canola transgênica resistente a Glifosato e a Glufosinato (de uso predominante no Canadá). A elevada taxa de fecundação cruzada observada em canola, até 21,8%, facilita o fluxo de genes via pólen, o qual pode ocorrer até a distância de 2 km (Rieger et al, 2002 citado por Hall et al, 2002). No Brasil, somente são liberadas para comércio, as sementes testadas e comprovadas como livres de OGM´s.

• As sementes de híbridos importados têm apresentado elevada sanidade e sido tratadas com fungicida no país de origem, evitando a introdução e a disseminação de doenças como o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), as manchas de alternaria (Alternaria spp.) e a canela-preta.

• Não semear grãos colhidos em lavouras de híbridos (geração F-2 ou Fn), pois, freqüentemente, esses grãos estão contaminadas com fungos, como Alternaria spp, e geram lavouras com baixo estande e com desenvolvimento de plantas e maturação desuniforme. O valor da perda de rendimento de grãos é superior ao custo das sementes que, além de alto valor genético e sanidade, apresentam custo por hectare inferior à maioria dos outros cultivos.

• As variedades de polinização aberta de canola testadas no Brasil, como a PFB-2 e Global, apresentam ciclo mais longo que híbridos, como o Hyola 401 (Santos et al., 2000). A maturação das variedades é menos uniforme do que a maturação dos híbridos. Nenhuma das variedades citadas acima apresentam resistência à canela-preta, doença que causou grandes perdas em diversas lavouras do Noroeste do RS, desde o ano 2000. No estado do Paraná o rendimento de grãos obtido com híbridos precoces invariavelmente superou o rendimento de outras cultivares (Carraro & Balbino, 1993, 1994).

•Usar genótipos resistentes à canela-preta (Fig. 1) constitui a solução mais econômica para evitar os prejuízos causados por essa doença. Estudos permitiram a identificação de híbridos resistentes à raça do fungo existente no sul do Brasil e no Paraguai (Fernando et al., 2003). Os híbridos desenvolvidos pela Pacific Seeds Pty. Ltd., Hyola 60 e Hyola 43, registrados no Brasil em dezembro de 2002, foram os primeiros genótipos, testados que comprovaram resistência à raça do patógeno que ocorre no sul do Brasil e no Paraguai. Os híbridos Hyola 61, Hyola 411 e Hyola 433 distinguem-se de Hyola 43, Hyola 60 e Hyola 432 por possuirem resistência poligênica ao fungo causador da canela-preta. A soma das contribuições conferidas por um número maior de genes de resistência, presentes em Hyola 61, Hyola 433 e Hyola 411, tende a ser mais durável e mais estável que a resistência derivada de Brassica rapa ssp sylvestris, a qual, segundo o Dr. Greg Buzza5, provavelmente está associada a apenas três genes.

• Por outro lado, variedades e híbridos de canola considerados resistentes à canela-preta na Europa e América do Norte se mostraram altamente suscetíveis ao grupo de patogenicidade da canela-preta existente no Brasil e Paraguai (Fernando et al., 2003), sofrendo perdas totais em áreas com presença do fungo. Além disto, a maioria dos cultivares disponíveis mundialmente possuem ciclo e características agronômicas inadequadas para cultivo no RS, por serem canola “de inverno” ou por serem desenvolvidas para latitudes bem maiores que àquelas das regiões de produção brasileiras.

Cultivares (de polinização aberta) x híbridos de canola

As pesquisas e o cultivo de canola no Brasil iniciaram em 1974 empregando cultivares de polinização aberta. As antigas cultivares foram substituídas por híbridos de canola, os quais apresentam maturação mais uniforme e ciclo menor. Os produtores preferiram empregar sementes híbridas apesar dos esforços realizados pela Embrapa Trigo, na década de 1990, para manter o uso de cultivares de polinização aberta com menor custo das sementes. Com a posterior ocorrência da canela-preta de forma epidêmica, o uso das cultivares antigas se tornou ainda menos viável.

O emprego de híbridos adequados, em substituição às cultivares de polinização aberta, permite obter rendimentos de grãos mais elevados, provenientes dos benefícios do vigor híbrido e do maior potencial genético de materiais desenvolvidos recentemente. O potencial de rendimento de grãos dos híbridos de canola modernos é, até 32% superior ao de cultivares de polinização aberta (GOODWIN, 2006). Além disto, como no caso de milho híbrido, o vigor híbrido das sementes de canola híbrida proporciona um estabelecimento de plantas mais rápido e uniforme. Os híbridos de canola apresentam ainda a vantagem adicional da maturação mais uniforme que a das cultivares de polinização aberta, característica de importância fundamental para a redução de perdas por debulha natural.

A substituição das antigas cultivares de polinização aberta ocorreu em função, principalmente, da maturação desuniforme, característica que dificulta o manejo de colheita, a qual causava elevadas perdas na colheita, que facilmente podiam superar a 30% da produção. A maioria das cultivares de polinização aberta também apresenta ciclo longo causando atrasos na semeadura de soja e milho, e assim, comprometendo o potencial de rendimento destas culturas.

A canela-preta, doença causada pelo fungo Leptosphaeria maculans (Desm.) Ces. et de Not./Phoma lingam (Tode:Fr.) Desm., tem causado prejuízos no Rio Grande do Sul e no Paraguai, desde o ano 2000 (TOMM, 2005), e na Argentina, desde o ano 2004 (GAETÁN, 2005).

O grupo de patogenicidade da canela-preta presente no Brasil e no Paraguai é o mesmo que ocorre na Austrália. Os cultivares considerados resistentes à canela-preta no Canadá e na Europa se mostraram altamente suscetíveis e com grande risco de perdas no Sul do Brasil, no Paraguai e em determinadas áreas da Argentina. A alta capacidade de evolução deste fungo constitui desafio ao melhoramento genético para disponibilizar cultivares com resistência durável. Em outras palavras, são necessários esforços contínuos para gerar e disponibilizar novos genótipos resistentes às populações do agente causal que se desenvolvem pela pressão de seleção sobre os genes de resistência presentes nas cultivares em uso nas lavouras (Howlett, 2004).

No início da década de 1990, uma nova fonte de resistência a canela preta foi descoberta (Crouch et al., 1994) em Brassica rapa ssp sylvestris. Esta resistência conferiu uma resposta praticamente imune à canela-preta e foi usada pela Pacific Seeds no desenvolvimento de híbridos como Hyola 43, Hyola 60 e Hyola 432. Pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul permitiram iniciar, em 2003, o emprego de híbridos, como Hyola 43 e Hyola 60, que além de produtivos, possuem a resistência à canela-preta, derivada de Brassica rapa ssp. sylvestris, alicerçando a retomada e aumentando a segurança no cultivo de canola no Brasil e Paraguai. Entretanto, no sul da Austrália (Peninsula Eyre) grandes prejuízos começaram a ocorrer em 2003 em variedades com a resistência de sylvestris. Antecipando-se a este tipo de situação, após extensiva experimentação coordenada pelo primeiro autor, no Brasil e no Paraguai, se iniciou, em 2006, o emprego de Hyola 61, híbrido que apresenta resistência poligênica, com menor risco de quebra de resistência ao fungo causador da canela-preta. A partir de 2008, estão disponíveis para cultivo os novos híbridos Hyola 433 e Hyola 411, que também possuem resistência poligênica e foram indicados para cultivo comercial após avaliação em uma rede com dezenas de experimentos em diversos locais e épocas de semeadura. As principais características observadas nestes experimentos estão resumidas no Quadro 3. O emprego de híbridos de canola com resistência ao grupo de patogenicidade da canela preta existente no Brasil e no Paraguai, comprovado, tanto em experimentos de vários locais e anos, como nos anos de cultivo comercial, traz mais segurança aos investimentos pela redução de riscos causados pela canela-preta. Os custos associados à aplicação de fungicidas também são evitados.

Todos os cálculos baseados em avaliações de lavouras realizados pelo primeiro autor junto com técnicos de fomento nos últimos seis anos indicaram que os benefícios do emprego de sementes híbridas com adequada resistência às doenças que ocorrem na América do Sul invariavelmente foram muito superiores ao custo das sementes híbridas.

A seguir são apresentadas em ordem cronológica de registro no Brasil, as principais características dos híbridos (Quadro 3) observadas, desde 2002, em uma rede de experimentos conduzidos por diversos técnicos, empresas e instituições em diversos locais e condições, relacionadas na base do Quadro 3. De maneira geral, o menor número de dias entre a emergência e a floração e menor altura de planta apresentados no quadro, foram observados em locais que apresentam menor altitude e temperatura mais elevadas do que nos locais que correspondem aos demais dados apresentados.

 

HYOLA 401

Híbrido utilizado com sucesso em países da América do Norte, Oriente Médio, Ásia e América do Sul, devido a elevada estabilidade de rendimento em grande amplitude de ambientes.

Um dos híbridos mais precoces cultivado no Brasil. Indicado para semeadura em regiões com latitudes menores que 24 graus (região norte do Paraná) onde tende a ocorrer escassez de chuvas a partir de junho.

• Evitar seu cultivo em regiões com risco de geadas durante seu cultivo pois seu curto período de floração implica em uma menor capacidade de compensação dos danos de geada quando comparado com híbridos que apresentam período de floração e ciclo mais longo.

• A altura menor de plantas deste híbrido, aliada a sua arquitetura compacta, confere grande resistência ao acamamento, permite colheita rápida e proporciona a passagem de menor quantidade de palha através da colhedora (possui elevado índice de colheita).

Suscetível à canela-preta.

 

HYOLA 420

Híbrido com período de floração e ciclo mais longo que Hyola 401.

• Híbrido com ampla adaptação e excepcional estabilidade.

• Observou-se após a colheita, em determinados anos com elevada umidade, elevado rebrote de plantas de Hyola 420, sendo necessárias duas dessecações para a implantação de lavoura de soja.

Suscetível à canela-preta.

 

HYOLA 43

Híbrido com resistência à canela-preta proveniente de Brassica rapa ssp sylvestris.

• Apresenta período de floração e ciclo da emergência a maturação pouco mais longo do que Hyola 420.

• Altura de plantas: Dependendo da combinação de temperatura e umidade no início do ciclo, podem ocorrer algumas plantas mais altas, sem efeito significativo no rendimento de grãos.

 

HYOLA 60

Híbrido com resistência à canela-preta proveniente de Brassica rapa ssp sylvestris. Possui o período de floração e ciclo mais longo entre todos os híbridos recomendados.

• Seu amplo período de floração (de 37 até 82 dias) se mostrou muito eficaz para manter elevado rendimento de grãos, ao ocorrerem geadas durante a floração, pois outras camadas de flores compensam aquelas que são abortadas pela ação do frio intenso.

Especialmente indicado para áreas com risco de ocorrência de geadas.

• Dos híbridos em cultivo comercial é o mais sensível ao fotoperíodo. Portanto, para que possa expressar seu potencial de rendimento de grãos superior aos mais precoces, semear este híbrido o mais cedo possível após a colheita das lavouras mais precoces de soja ou milho. Em regiões relativamente quentes do RS, como Três de Maio, maior produtividade tem sido obtida quando semeado em meados de abril (TOMM et al., 2004).

É altamente sensível a resíduos de herbicidas usados em soja e em milho.

 

HYOLA 432

Híbrido com duração do ciclo bastante influenciado pela época de semeadura.

• Quando semeado no início do período recomendado apresenta ciclo mais longo que Hyola 61 e apresenta ciclo mais curto quando semeado no fim do período recomendado (interação genótipo x ambiente).

• Híbrido com resistência à canela-preta proveniente de Brassica rapa ssp sylvestris.

 

HYOLA 61

Híbrido com elevada estabilidade de rendimento de grãos e ampla adaptação: excelente desempenho tanto sob deficiência hídrica como sob frio intenso.

• Híbrido mais empregado na América do Sul.

• Este genótipo apresentou grande estabilidade de rendimento de grãos quando cultivado em condições variadas, como àquelas observadas na safra 2006 sob baixa precipitação e altas temperaturas no Mato Grosso do Sul (Tomm et al., 2007), até condições de elevada umidade e geadas, como no RS.

Apresenta resistência poligênica à canela-preta, que tende a ser mais duradoura que àquela proveniente de Brassica rapa ssp sylvestris, por estar associada ao somatório da contribuição de diversos genes.

 

HYOLA 433

Híbrido de ciclo curto indicado para solos de elevada fertilidade.

• Este genótipo apresenta elevada exigência de condições ambientais favoráveis, especialmente solos de alta fertilidade, para expressar seu elevado potencial.

Evitar a semeadura em ambientes com limitações de umidade e de fertilidade de solo.

• Apresenta resistência poligênica à canela-preta, que tende a ser mais duradoura que àquela proveniente de Brassica rapa ssp sylvestris, por estar associada ao somatório da contribuição de diversos genes.

 

HYOLA 411

Híbrido de ciclo curto indicado para solos de elevada fertilidade.

Evitar a semeadura em ambientes com limitações de umidade e de fertilidade de solo.

• Apresenta resistência poligênica à canela-preta, que tende a ser mais duradoura que àquela proveniente de Brassica rapa ssp sylvestris, por estar associada ao somatório da contribuição de diversos genes.

Na maioria dos ambientes do RS, o ciclo dos híbridos se apresenta em ordem, do mais precoce para o mais tardio, como segue:

Hyola 401, Hyola 420, Hyola 411, Hyola 433, Hyola 43, Hyola 61, Hyola 432 e Hyola 60. Entretanto, a partir de determinadas épocas de semeadura, Hyola 432 passa a ser mais precoce que Hyola 61 (apresenta interação genótipo X ambiente).

Armazenamento, transporte, manuseio de sementes até a semeadura

As sementes híbridas têm elevado valor genético e econômico. As sementes são organismos vivos. Temperatura e umidade elevadas, durante o seu armazenamento ou transporte, aceleraram o envelhecimento causando perda de vigor. O emprego de sementes com baixo vigor pode gerar lavouras com estabelecimento deficiente quando ocorrem condições adversas (temperaturas baixas, solo seco ou encharcado) durante a emergência.

• Manusear e transportar as sementes de forma seca, limpa e coberta, visando a manter o potencial genético e tecnológico das mesmas.

• Evitar a exposição de sementes a vapores de produtos químicos, particularmente herbicidas do grupo Fenoxi (2,4-D, Banvel, Tordon ou Picloran) durante o transporte e armazenamento antes da semeadura.


5Comunicação verbal do Eng. Agrôn. Dr. Greg Buzza, melhorista de canola, ex-Pacific Seeds Pty Ltd, para Gilberto Omar Tomm, em 3.9.2003.

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