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ISSN 1517-4964
Fevereiro, 2014
Passo Fundo, RS

Imagem: Flávio M. Santana

Eficiência de fungicidas para controle de giberela em trigo: resultados dos ensaios cooperativos - safra 2012

Flávio Martins Santana1; Douglas Lau1; Adeliano Cargnin2; Claudine Dinali Santos Seixas3; Carlos André Schipanski4; Heraldo Rosa Feksa5; Caroline Wesp6; Marta Blum7; Manoel Carlos Bassoi3

Introdução

A giberela do trigo, causada por Gibberella zeae Schwain. (Petch.), cuja forma imperfeita é Fusarium graminearum Schwabe, é uma das mais importantes doenças desse cereal no mundo. Por ser altamente dependente de condições climáticas, que variam entre anos e locais, os danos por essa doença também são variáveis, com registros médios de 20% a 50%, englobando redução no rendimento de grãos, descoloração e chochamento de grãos. O fungo também produz micotoxinas nos grãos, sendo Deoxinevalenol (DON), a mais comum, altamente tóxica a humanos e animais (MCKEE et al., 2010).

Para o controle da doença são indicadas, basicamente, três estratégias, que devem ser empregadas de maneira integrada: resistência genética, pelo uso de cultivares com maior número de genes que conferem resistência à doença; manejo cultural, pela escolha de época/local menos favorável à doença; e controle químico, pela aplicação de fungicidas.

Em 2011, uma ação conjunta envolvendo instituições de pesquisa e empresas fabricantes de fungicidas foi iniciada, com o objetivo de verificar a eficiência de fungicidas, registrados ou em fase de registro, no controle de giberela em trigo.

Foram conduzidos ensaios padronizados por sete instituições, em 2011 (SANTANA et al., 2012) e por seis instituições, em 2012, instalados simultaneamente nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. O presente documento apresenta os resultados obtidos em 2012.

 

Material e métodos

Os ensaios foram conduzidos por seis instituições, listadas na Tabela 1. Para os tratamentos, foram utilizados fungicidas do grupo triazol isoladamente ou em mistura com estrobilurinas. Um indutor de resistência foi incluído no tratamento 7. O tratamento 1 foi constituído pelo controle negativo, sem aplicação de fungicida, e o tratamento 2 foi o controle positivo, com aplicação de fungicida padrão, definido em função das opções de fungicidas indicados pela Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, e em comum acordo com o representante da empresa fabricante. Os tratamentos estão apresentados na Tabela 2. O ensaio conduzido pela FAPA (Guarapuava) não continha os tratamentos 2, 8 e 9.

O experimento foi conduzido em delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições. A cultivar utilizada foi BRS 208, que é suscetível à giberela.

As unidades experimentais (parcelas) foram constituídas de, no mínimo, 12 m2. Foram realizadas duas aplicações de fungicidas, sendo a primeira com 25% a 50% de florescimento e a segunda, 7 a 10 dias após a primeira.

Em cada parcela, a severidade (S) e a incidência (I) de doença foram determinadas, coletando-se espigas em um metro de cada uma das três linhas centrais da parcela, totalizando 3 m lineares. As avaliações foram realizadas no estádio de grão massa mole (85 da escala Zadoks) (ZADOKS et al., 1974). Das espigas coletadas cada uma recebeu uma nota de severidade, de acordo com escala de Stack & McMullen (1985). A severidade média da parcela foi obtida pelo produto do somatório das notas de severidade, dividido pelo número de espigas avaliadas.

Ao final do ciclo da cultura, uma área de 4 m2 por parcela foi colhida, para avaliação do rendimento de grãos. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e ao teste de comparações de médias de Duncan (p=0,05). Todas as análises foram realizadas pelo programa Genes, da Universidade Federal de Viçosa (CRUZ, 2007). As análises foram realizadas em separado para cada ensaio, a exceção do ensaio da FAPA (Guarapuava) que não incluiu todos os tratamentos.

 

Resultados e Discussão

Ocorrência da doença

A ocorrência de giberela foi variável entre os diferentes ensaios. A incidência média no controle negativo foi de 45,2%, sendo maior nos ensaios da Embrapa Soja (Ponta Grossa, 78,5%) e da CCGL-TEC (Cruz Alta, 51,3%). A severidade média no controle negativo foi de 7,2% sendo maior no ensaio da FAPA (Guarapuava, 16,5%). Em Passo Fundo, a incidência e a severidade de doença foram as mais baixas entre os seis locais (tabela 3).

Eficiência de fungicidas

A eficiência dos fungicidas variou em função dos locais de experimentação e da variável analisada. No ensaio de Ponta Grossa, realizado pela Embrapa Soja, não houve diferença estatística entre os tratamentos para incidência e rendimento de grãos. Neste ensaio, mesmo havendo diferenças para a severidade, nenhum dos tratamentos diferiu do controle negativo. Por outro lado, no mesmo local, no experimento realizado pela Fundação ABC, a incidência da doença foi menor para os tratamentos PNR4 e Bendazol que, juntamente com Fox, Opera Ultra e PNR1, apresentaram os menores valores de severidade (tabelas 4 e 5). O maior rendimento de grãos foi obtido no tratamento Opera Ultra (tabela 6).

Em Cruz Alta, menor incidência foi obtida nos tratamentos Fox e Opera Ultra, que no entanto, não diferiram do controle positivo, do PNR1, do PNR4 e do Bendazol. Resultado semelhante foi observado na avaliação de severidade de doença (tabelas 4 e 5). Na avaliação de rendimento de grãos, os maiores rendimentos foram obtidos por Fox, Opera Ultra e PNR1; os quais não diferiram do controle positivo (tabela 6).

Em Capão Bonito do Sul, menor incidência foi obtida nas parcelas tratadas com Opera Ultra e Bendazol. Estes tratamentos também apresentaram a menor severidade, mas não diferiram de PNR4, PNR3 e Fox (tabelas 4 e 5).

Neste ensaio, outros fatores afetaram o desenvolvimento normal da cultura, resultando em baixo rendimento de grãos. Mesmo assim, houve diferença de rendimento entre o controle negativo e os tratamentos PNR2, Opera Ultra, Fox e PNR1 (tabela 6).

Em Passo Fundo, todos os tratamentos reduziram a incidência e severidade de giberela (tabelas 4 e 5). PNR4 foi o tratamento que resultou em melhor rendimento de grãos (tabela 6).

Para o ensaio de Guarapuava, não foi realizada análise estatística por falta de dados em diversos tratamentos. No entanto, todos os tratamentos avaliados apresentaram ocorrência de doença (severidade) bem abaixo do controle negativo.

 

Considerações finais

Considerando o conjunto dos ensaios e as três variáveis analisadas, há evidências de que o tratamento com fungicidas reduziu os níveis de giberela e minimizou os danos ao rendimento de grãos.

A redução média da incidência foi de 6,1% (45,2% para 39,1), da severidade de 1,5% (5,3% para 3,8%) e no rendimento de grãos evitou uma redução de 140,9 Kg/ha (5%).

Na média dos ensaios, Opera Ultra foi mais eficaz na redução da incidência (9,7%) e da severidade (2,4%), propiciando o maior rendimento de grãos 2794 Kg/ha versus 2507,6 Kg/ha no controle negativo.

Os dados obtidos até o momento, incluindo o ano de 2011, mostram que o controle de giberela por fungicidas apresenta pouca eficiência. Esse é um indicativo que novas estratégias devem ser adotadas para que se possa melhorar o desempenho dos fungicidas no controle de giberela.


1 Embrapa Trigo, Passo Fundo-RS.
2 Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves-RS.
3 Embrapa Soja, Londrina-PR.
4 Fundação ABC, Castro-PR.
5 Cooperativa Agrária-FAPA, Guarapuava-PR.
6 CCGL-TEC, Cruz Alta-RS.
7 Seeds, Passo Fundo-RS.


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