Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
289
ISSN 1517-4964
Dezembro, 2010
Passo Fundo, RS

Foto: Vânia Bianchin

Técnica para amostragem, coleta e triagem de ácaros Eriophyideos em Poaceas

Vânia Bianchin1, Paulo Roberto Valle da Silva Pereira1, Douglas Lau1, Denise Navia2

Introdução

O ácaro do enrolamento, Aceria tosichella Keifer (acari: Eriophyidae), é uma importante praga para a cultura do trigo. Este ácaro encontra-se distribuído nas principais regiões produtoras de trigo do mundo: América do Norte, Ásia (SMITH, 1972; SLYKHUIS, 1980), Europa, Índia, Jordânia, Nova Zelândia (OLFIELD, 1970), África do Sul (MEYER, 1981), Austrália (ELLIS et al., 2003), dentre outros locais. Entretanto, é uma praga recente na América do Sul; em 2004 foi detectado na Argentina (NAVIA et al., 2006) e em 2006 no Brasil, em quatro municípios do Rio Grande do Sul: Passo Fundo, Palmeira das Missões, São Luiz Gonzaga e Santo Antônio das Missões (PEREIRA et al., 2009).

Este ácaro tem como hospedeiro principal o trigo, entretanto, mais de 100 espécies de poaceas são relatadas abrigando-o (JEPPSON et al., 1975), entre estas espécies estão as cultivadas, como milho, sorgo, arroz, aveia e cevada, espécies daninhas e espontâneas.

Os principais danos causados pelo A. tosichella se deve a transmissão de vírus. Os principais vírus transmitidos são o Wheat streak mosaic virus (WSMV) (Família Potyviridae, gênero Tritimovirus) e o High plains virus (HPV) (família e gênero não designado). Este último está sendo (tentativamente) denominado de Maize red stripe virus (SKARE et al., 2006). Os vírus transmitidos por este vetor ainda não foram identificados no Brasil.

Uma vez verificada a presença de A. tosichella no Brasil, surge a necessidade de acompanhar a ocorrência e a distribuição nas principais regiões tritícolas. Para tanto, desde 2006 (data de detecção) estão sendo feitas coletas sistemáticas, abrangendo os estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nestas amostras, além da detecção de ácaros, há também a investigação a fim de verificar a presença dos vírus associados.

Material e métodos

Até o ano de 2009, as coletas visavam cobrir as áreas de fronteira e, a partir de 2009, as amostras passaram a ser retiradas de áreas núcleos de coletas (fixas). Destas áreas são amostrados pontos distintos (um ou mais) tanto no espaço como no tempo, visto que a rota 1 é feita em três períodos do ano e que todas as rotas são refeitas, ano após ano (Fig. 1). Além dos núcleos fixos de coleta, são amostradas plantas que exibem sintomas típicos de infecção pelas viroses e/ou sintomas de enrolamento por ácaro.

A amostragem é realizada pelo corte das plantas rente ao solo, com o uso de uma tesoura de poda (Fig. 2). Cada amostra é identificada e acondicionada em saco plástico (Fig. 3). Estas são encaminhadas ao laboratório de entomologia da Embrapa Trigo, para processamento e triagem de ácaros Eriophyideos.

No laboratório, são destacadas as folhas dos colmos (Fig. 4) e as plantas são cortadas (Fig. 5) em pedaços com aproximadamente cinco centímetros. O material é lavado em uma solução de água + detergente, de uso doméstico, na concentração aproximada de 1% do volume total (Fig. 6). A lavagem é feita através de agitação manual de 1 a 2 minutos (Fig. 7).

Após o processo de lavagem, segue-se duplo peneiramento, com uma peneira de 24 mesh posicionada sobre uma peneira de 400 mesh (Fig. 8). Na peneira superior, de malha mais grossa, são retidos os resíduos maiores que são descartados e, o material retido na peneira de menor malha é coletado em tubos plásticos com o auxílio de uma pisseta contendo álcool 70% (Figs. 9 e 10). O material coletado, é armazenado e destinado à triagem sob microscópio estereoscópico, com aumento de 40 vezes objetivando a retirada dos ácaros.

Os ácaros eriophyideos encontrados durante a triagem em microscópio estereoscópico, são separados e transferidos para lâminas contendo meio de Berlesse modificado; a lâmina é coberta por uma lamínula e levada para secagem em estufa a 45°C por 7 dias. As lâminas são enviadas ao Laboratório de Quarentena de Plantas, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília, DF, para identificação do A. tosichella.

Resultados e discussão

Até o presente momento 277 pontos georeferenciados (espaço-temporal) foram amostrados. Tais pontos abrangem 79 municípios nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Foram coletadas plantas de aveia, azevém, trigo, milho, dentre outras espécies de poaceas não cultivadas.

Considerando os levantamentos efetuados desde 2006, são 47 amostras positivas que correspondem a 16 municípios localizados no estado do Rio Grande do Sul (Fig. 11). Nos anos 2006/2007 cinco locais apresentaram amostras positivas quanto ao ácaro; em 2007/2008, 26 amostras foram positivas para o ácaro, representando dez municípios distintos e, em 2009, 15 amostras apresentaram o ácaro em 11 municípios, todos do Rio Grande do Sul.

O total de amostras obtidas desde o início das coletas em 2009 e 2010 foi de 692. Em 2010, até o momento (levando-se em conta que as amostras estão em fase de análise) detectou-se uma amostra positiva, também no Rio Grande do Sul. A presença de A. tosichella (BIANCHIN et al., 2010) foi detectada em 16 municípios gaúchos.

As populações do ácaro encontradas nestes pontos, ainda são consideradas baixas, entretanto, é visível ao longo dos anos, que a ocorrência de expansão geográfica, está ainda concentrada no estado do Rio Grande do Sul. Os vírus transmitidos por este vetor (WSMV, HPV), até o momento, não foram encontrados no Brasil, o que reforça a necessidade de monitoramento constante, tanto do ácaro como dos vírus. Para o monitoramento do A. tosichella, a técnica de amostragem, coleta e triagem descrita acima tem se mostrado uma ferramenta bastante eficiente.


1 Embrapa Trigo, Rodovia BR 285 km 294, Cx. Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.
2 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.


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