8. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS – "MIP"

A cultura de soja está sujeita ao ataque de insetos durante todo o seu ciclo. Logo após a emergência, os insetos como o "tamanduá" ou "bicudo-da-soja" (Sternechus subsignatus Boheman, 1836 - Coleoptera, Curculionidae) podem atacar as plântulas. Posteriormente, a "lagarta-da-soja" (Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 - Lepidoptera, Noctuidae) e as "lagartas falsas-medideiras" (Pseudoplusia includens - Lepidoptera, Noctuidae e Rachiplusia nu - Lepidoptera, Noctuidae) atacam as plantas durante as fases vegetativa e reprodutiva. A "broca-das-axilas" (Epinotia aporema) ataca as plantas até a formação de vagens. Com o início da fase reprodutiva, aparecem as "lagartas-das-vagens" (Spodoptera latifascia - Lepidoptera e Spodoptera eridania - Lepidoptera), que atacam entre a formação e o enchimento das vagens, e os "percevejos" (Nezara viridula Hemiptera, Pentatomidae e Piezodorus guildinii - Hemiptera), que causam danos desde a formação de vagens até o desenvolvimento final das sementes (R3 – R6).

Os insetos têm suas populações controladas naturalmente por predadores, por parasitóides e por doenças. Porém, quando atingem populações elevadas, acima dos níveis críticos, são capazes de provocar perdas significativas na produtividade da cultura e necessitam ser controladas. Apesar de os danos causados por insetos na cultura de soja serem, em alguns casos, alarmantes, não se indica a aplicação preventiva de inseticidas químicos, pois, além do grave problema de poluição ambiental, a aplicação desnecessária pode elevar o custo de produção.

O uso do "MIP" para o controle das principais pragas de soja consiste de vistorias regulares à lavoura, para verificar o nível de ataque através da desfolha, do percentual de plantas atacadas, do percentual de vagens atacadas, do número e do tamanho das pragas.

No caso específico de "tamanduá-da-soja", as amostragens devem ser realizadas - antes de planejar o cultivo - nos locais em que, na safra anterior, foram observados ataques severos do inseto. O grau de infestação deve ser avaliado, preferencialmente, na entressafra, de maio a setembro. Para cada 10 hectares, devem ser retiradas quatro amostras de solo, centradas nas antigas fileiras de soja, com 1 m de comprimento, com largura e profundidade de uma pá de corte. Durante a amostragem, deverá ser avaliado o número de larvas hibernantes e, se encontradas de 3 a 6 larvas/m2, existe a possibilidade de, no mínimo, 1 ou 2 indivíduos atingirem o estádio adulto, podendo reduzir significativamente a produtividade de soja, na safra seguinte. Uma vez constatada esta população, deverá ser recomendado o cultivo de soja em toda a área, mas com tratamento de sementes com inseticidas (tabelas 8.1 e 8.2) quando o agricultor não pretende fazer a rotação com plantas não hospedeiras do inseto. Quando o agricultor faz essa rotação, a soja deve ser substituída por plantas não hospedeiras como: milho, sorgo, girassol ou milheto. Neste caso, recomenda-se o tratamento de sementes de soja com inseticidas, apenas em bordadura de área com soja, de aproximadamente 15 m de largura, evitando a infestação da cultura com insetos oriundos de áreas com soja infestadas no ano anterior, mas, nesta safra com culturas não preferenciais da espécie. Nas espécies de plantas como crotalária, sesbânia, caupi, fedegoso, mucuna, leucena e feijão azuki, o inseto também não se desenvolve e, conseqüentemente, há a interrupção do seu ciclo biológico. Para aumentar a eficiência de controle, essas plantas não hospedeiras ou hospedeiras não preferenciais devem ser circundadas por plantas hospedeiras preferenciais (como soja). Desse modo, ao atrair e manter os insetos nesta bordadura da lavoura, o produtor deve usar inseticida químico em tratamento de sementes ou pulverizar um inseticida apenas numa faixa (bordadura) de, aproximadamente, 25 m. Esse controle nas bordaduras deve ser feito quando a maior parte dos adultos sai do solo, e repetido em pulverização sempre que o inseto atingir os níveis de dano econômico, conforme a fase da cultura. O controle do inseto justifica-se quando, no exame de plantas de soja com duas folhas trifolioladas, for encontrado, em média, 1 adulto por metro de fileira de soja e em plantas com cinco folhas trifolioladas (próximo à floração), até 2 adultos por metro linear, incluindo a face inferior das folhas e o caule. As pulverizações não devem ser realizadas no período das 10:00 às 16:00 horas, em dias ensolarados.

Nos casos específicos de lagartas desfolhadoras e de percevejos, as amostragens devem ser realizadas com um pano-de-batida, preferencialmente de cor branca, preso em duas varas com 1 m de comprimento cada, o qual deve ser estendido entre duas fileiras de soja. As plantas da área compreendida pelo pano devem ser sacudidas vigorosamente sobre o mesmo, havendo, assim, a queda das pragas, que deverão ser contadas. Esse procedimento deve ser repetido em vários pontos de lavoura, considerando, como resultado, a média de todos os pontos amostrados. No caso de lavouras com espaçamento reduzido entre as linhas, usar o pano batendo nas plantas de uma fileira. Principalmente com relação a percevejos, estas amostragens devem ser realizadas nas primeiras horas da manhã (até as 10:00 horas), quando os insetos localizam-se na parte superior da planta, sendo mais facilmente visualizados. Indica-se, também, realizar as amostragens com maior intensidade nas bordaduras da lavoura, onde em geral, os percevejos iniciam o ataque, inicialmente nas cultivares precoces, seguidas das médias e, por fim, nas tardias. As vistorias para avaliar a ocorrência dos percevejos devem ser executadas do início da formação de vagens (R3) até a maturação fisiológica (R7). A simples observação visual não expressa a população real presente na lavoura.

As lagartas desfolhadoras devem ser controladas quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes (com mais de 1,5 cm) por pano-de-batida ou se a desfolha atingir 30% antes ou 15% após a floração. No caso de ataques da "lagarta-da-soja", deve dar-se preferência ao uso do inseticida biológico Baculovirus anticarsia. Optando-se pelo uso do vírus da "lagarta-da-soja", devem ser consideradas até, no máximo, 40 lagartas pequenas (no fio) ou 30 lagartas pequenas e 10 lagartas grandes por pano-de-batida. O Baculovirus, nas doses de 70 LE (lagartas mortas pelo vírus/ha) ou de 20 gramas de formulação em pó molhável/ha, pode ser usado em pulverização convencional como em aplicação aérea empregando-se, como veículo, a água, na quantidade de 150 ou 15l/ha, respectivamente. O preparo do material deve ser feito batendo-se, em liquidificador, a quantidade de lagartas mortas, ou pó, juntamente com a água e coando-se a calda em tecido tipo gaze, no momento de transferir para o tanque do pulverizador ou do avião (caso a aplicação tenha início pela manhã, o preparo do material pode ser realizado na noite anterior). Nas aplicações aéreas, ajustar o ângulo da pá do "micronair" para 45o; estabelecer a largura da faixa de deposição em 18 m e voar a uma altura de 3 a 5 m, a 105 milhas/hora, com velocidade do vento não superior a 100 km/h. Em situações nas quais a população de lagartas grandes já tenha ultrapassado o limite para a aplicação de Baculovirus puro (mais de 10 lagartas grandes/pano-de-batida) e for inferior ao nível preconizado para o controle químico (menos de 40 lagartas grandes/pano-de-batida), o Baculovirus pode ser utilizado em mistura com os inseticidas químicos Endossulfan em dose reduzida (35 g i.a./ha) ou Profenofós em dose reduzida (30 g i.a./ha).

Quanto aos percevejos, o controle deve ser iniciado quando forem encontrados 4 percevejos adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm por pano-de-batida. Para o caso de lavouras de produção de sementes, este nível deve ser reduzido para 2 percevejos/pano-de-batida.

Para as brocas-das-axilas, o nível crítico está em torno de 30% das plantas examinadas com os ponteiros atacados. No caso específico da lagarta-das-vagens, o nível de ação é de 10% de vagens atacadas ou 20% de desfolhamento.

Os inseticidas indicados para o controle das principais pragas encontram-se na Tabela 8.2. Na escolha do inseticida, deve-se levar em consideração a toxicidade, o efeito sobre inimigos naturais (Tabela 8.1) e o custo por hectare. Além disso, o mesmo ingrediente ativo não deve ser usado em duas aplicações sucessivas para o mesmo inseto, visando prevenir o surgimento de resistência do inseto àquele produto químico. Para tanto, deve-se observar a Tabela 8.3., onde consta o mecanismo de ação dos grupos de inseticidas.

Quando ocorrerem ataques de lagarta-da-soja no início de desenvolvimento da cultura (plantas até o estádio V4 - três folhas trifoliadas) e associadas com períodos de seca, não usar Baculovirus e, sim, outros produtos seletivos e indicados, visto que, nessas condições, poderá ocorrer desfolha acentuada, que prejudicará o desenvolvimento das plantas.