Link para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Link para o Portal do Governo Brasileiro
Equipe
Publicações on-line
Informações Meteorológicas
El Niño/La Niña
Previsão
Artigos
xxx
xxx
xxx
xxx
Embrapa Sede
SAC Embrapa Trigo
Ouvidoria Embrapa
Opinião sobre Site
Mapa Site

Trigo é bom

 Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. 

Chega de ditados populares que, por mais espirituosos que pareçam, expressam, em essência, nada mais que preconceitos. Esse é o caso do muito repetido "ruim com trigo, pior sem ele". Não é nada disso. Trigo é bom e economicamente uma das melhores opções, no momento, para os sistemas de produção de grãos do sul no Brasil. Pelo menos, foi com essa sensação que saíram as pouco mais de 200 pessoas que participaram do I Seminário Técnico do Trigo, realizado de 21 a 24 de fevereiro de 2000, em Londrina, no Paraná.

O I Seminário Técnico do Trigo foi promovido e organizado pelo Instituto Agronômico do Paraná, o IAPAR, contando, para a organização do mesmo, com a colaboração da Embrapa Soja. Teve por objetivo propiciar uma ampla discussão dos diferentes aspectos relacionados com a cultura de trigo no Paraná, no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Na prática, acabou restrito, até mesmo pela importância, ao Paraná, principal estado produtor de trigo no Brasil. Palestras, análise da safra de 1999, apresentação de resultados de pesquisa, organização de novos experimentos cooperativos e discussão de recomendações técnicas para a safra 2000 fizeram parte das atividades do evento.

Na palestra de abertura, "Perspectiva de Mercado Futuro de Trigo", o empresário Roland Guth, presidente da Abitrigo-Associação Brasileira da Indústria de Trigo, manifestou o apoio da entidade para elevar a produção de trigo no Brasil para algo em torno de 5 milhões de toneladas e aumentar o consumo per capita de derivados de trigo em até 50%, nos próximos três anos. Segundo ele, isso poderia representar uma economia de divisas para o País de US$ 400 milhões por ano. Roland Guth, ao mesmo tempo que "pediu" salvaguardas para o trigo e para a farinha brasileiros, deixou claro que o trigo produzido no Brasil tem que adquirir competitividade com os preços praticados no mercado internacional, além de qualidade, pois a indústria moageira não pode pautar seus negócios por aspectos meramente emocionais.

A sessão de abertura contou também com uma justa homenagem ao dr. Milton Alcover, melhorista de trigo e entusiasta desta cultura no Brasil, morto há cinco meses. O dr. Milton Alcover trabalhou no Instituto Agronômico de Campinas, o IAC, e posteriormente no IAPAR, em Londrina, onde encerrou sua carreira. Foi organizador de programas de melhoramento genético de trigo e criador de muitas cultivares. Ganhou notoriedade com o trigo IAC 5-Maringá, que, em função da sua característica de adaptabilidade ampla aos mais diferentes ambientes, durante muito tempo ocupou grande área de cultivo no Brasil.

A Embrapa Trigo, a Emater-PR e as principais cooperativas agrícolas que trabalham com a cultura de trigo no Paraná foram responsáveis pela organização e apresentação de um estudo diagnóstico de avaliação da safra de trigo 1999 naquele estado. As apresentações deixaram muito claro que existe tecnologia para produzir trigo competitivamente no Brasil. Os principais problemas apontados não são nada novos e têm sido sistematicamente repetidos desde o fim da compra estatal de trigo brasileiro, em 1990. Tipo: custo de produção alto, preço de comercialização baixo, falta de políticas de incentivo e, invariavelmente, riscos climáticos. Também ficou claro que várias coisas citadas como problemas verificados na safra de 1999 são meras questões de aplicação do conhecimento existente. E se deram por vários motivos. Desde o lado econômico, implícito na descapitalização do produtor para fazer gastos com insumos, até a falta de informação sobre a melhor forma de proceder pela assistência técnica. Nesta categoria enquadram-se perfeitamente: controle de pragas, adubação, controle de doenças e escolhas de cultivares mais adequadas aos diferentes ambientes. Ou seja, um melhor manejo da cultura, tomando as decisões mais adequadas nas ocasiões oportunas.

Um dos melhores momentos do I Seminário Técnico do Trigo foi a palestra "Custos de produção de trigo nos diferentes sistemas de produção", proferida por Antônio Carlos Ostrowsky, engenheiro-agrônomo do Departamento Técnico da COAMO, Campo Mourão, PR. Ele vem realizando cálculos de custos de produção para trigo desde 1988 e na sua palestra mostrou de forma inequívoca que os sistemas de produção de grãos mais rentáveis são aqueles que a cultura de trigo está presente na safra de inverno. Particularmente, em sistemas de rotação de culturas. Nas suas contas e palavras: "uma inocente cultura de aveia preta, com a finalidade única de cobrir o solo, deixa como gastos diretos para o produtor R$ 77,58 por hectare." Cabe ao produtor fazer os cálculos e ver quantos sacos de soja tem de produzir a mais, na sua média, para pagar esta conta. Também destacou que nos últimos anos a opção pelo trigo começou a ser suficiente par cobrir os custos diretos e sobrar dinheiro para fazer uma melhor lavoura de soja.

Preocupa a indicação quase unânime, pelo segmento ligado à área de produção de trigo, dando destaque ao custo alto das lavouras como um dos principais problemas para a produção de trigo no Brasil. Neste cenário acrescente-se a descapitalização do produtor rural e a alternativa para redução de custos acaba sendo, quase sempre, um menor uso de tecnologia. Como conseqüência, caem os rendimentos e, muitas vezes, a rentabilidade esperada com a cultura. A melhor opção pode estar também no aumento de rendimento que pode ser obtido com aumento de custos, via o uso de um maior nível de tecnologia, explorando o potencial de rendimento da cultura de trigo que é muito maior do que mostram as nossas estatísticas.

O objetivo é sempre maximizar os ganhos e minimizar os custos e com isto nem sempre o ideal econômico é igual ao ideal técnico. Portanto, o uso de indicadores econômicos são imprescindíveis, tanto para dar suporte na definição do nível tecnológico a ser empregado na condução das lavouras, quanto na hora de decidir em plantar ou não trigo.

Apesar da forte inclinação dos produtores paranaenses em plantar milho safrinha em vez de trigo, a área com este cereal pode aumentar em 2000, naquele estado. Especialmente em função dos bons resultados alcançados na safra de 1999. Afinal, não há cultura imune aos riscos de natureza climática, muito menos fazer uma cultura de verão, como é o caso milho, literalmente espremida entre o outono e o inverno.


Versão para impressão

Obs.: a versão deste documento para impressão encontra-se em PDF, para abrí-la é necessário o programa Acrobat Reader.

   
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa
Todos os direitos reservados, conforme Lei n° 9.610.
Política de Privacidade
Embrapa Trigo - sac@cnpt.embrapa.br

Embrapa Trigo
Rodovia BR 285, km 294
Passo Fundo - RS - Brasil - CEP 99001-970
Fone: (54) 3316-5800 Fax: (54) 3316-5801/5802