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Os saudosistas meteorológicos

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS.

Há vários tipos de saudosismo. Um deles é o meteorológico. Quem nunca ouviu expressões desse tipo: "Ah, no meu tempo o clima era mais regular e não havia seca assim em Passo Fundo", " jamais choveu desse jeito em outubro", "calor desse tipo em agosto, não me lembro de ter vivido", "ventania como a de ontem, nunca aconteceu" e tantas outras do gênero.

O jornalista Sérgio da Costa Franco, em sua coluna de Zero Hora, publicada em 12 de agosto de 1986, que infelizmente não existe mais, pois ele sempre abordava a questão clima com muita propriedade, foi cruel com os saudosistas meteorológicos. Escreveu ele: "Sempre me insurjo contra essa tendência, que associa pessimismo com ressentimento pela perda da mocidade, e, em regra, desinformação. Rigorosamente, em matéria de clima gaúcho nada há de novo embaixo do sol."

Pois 1997 foi um prato cheio para os saudosistas meteorológicos. Um ano de contrastes climáticos. No final de verão e no outono, foi a seca. Quem não se lembra dos problemas causados pela falta de água no estado: lavouras perdidas, criações morrendo por fome e sede, açudes secos, economias municipais irreversivelmente comprometidas e racionamento no abastecimento urbano de água, ocupavam os principais espaços nos veículos de comunicação regionais. Voltaram as chuvas e essa fase caiu no esquecimento. E na primavera, por obra e graça de El Niño 97, novamente o clima gaúcho voltou a ser o centro das atenções. Porém, por motivo oposto: pelo excesso de água. E vieram as enchentes e os desabrigados da fronteira noroeste. Os problemas nas lavouras de trigo e de cevada, pelo excesso de chuvas. As tempestades de primavera, com ventanias e chuvas fortes, destelhando casas, derrubando árvores, destruindo pontes e estradas. Um verdadeiro caos, exigindo ações emergenciais na área de defesa civil.

Final de verão e outono seco, em particular março e abril, e primavera chuvosa, especificamente outubro e novembro, foram os principais destaques climáticos no Rio Grande do Sul, em 1997. E foram tão convincentes que suscitam dúvidas se algo parecido já havia ocorrido antes. Os saudosistas meteorológicos, evidentemente, nunca viram nada igual, pois, no "seu tempo", o clima não era assim. Para não morrer com essa dúvida, o jeito é conferir.

Resumindo, sob o ponto de vista climático, em Passo Fundo, no ano de 1997, destacaram-se:

  • Mês mais seco: março, com 33,2 mm de chuva,
  • Mês mais chuvoso: outubro, totalizando 550,4 mm de chuva,
  • Maior chuva em um dia: 122,8 mm, ocorrida em 5 de novembro,
  • Maior temperatura: 32,8 C, verificada em 8 de Janeiro,
  • Menor temperatura: -0,6 C, registradas nos dias 28 e 30 de junho.

Felizmente, Passo Fundo possui uma memória meteorológica que data de 1° de janeiro de 1913 até o presente. O que facilita tirar dúvidas, quanto ao ineditismo ou não das ocorrências climáticas na região.

Adotando-se, por exemplo, o período de referência definido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), para fins de estabelecimento de normais climatológicas, 1961- 1990, constata-se que nenhum dos valores climáticos extremos, verificados em 1997, superou os registros existentes no referido período. Assim, em 1997, não foram quebrados os recordes de 38,3 C (maior temperatura, verificada em 16 de novembro de 1985), de –3,8 C (menor temperatura, registrada em 20 de julho de 1981) e de 164,6 mm de chuva em um dia, conforme ocorreu em 12 de abril de 1987.

Tampouco, março e outubro de 1997, com seus 33,2 e 550,4 mm de chuva, foram os meses mais seco e mais chuvoso, respectivamente, da história de Passo Fundo, como chegaram a cogitar algumas pessoas. Há registro de que no mês de janeiro de 1933 choveu apenas um dia e o total de chuvas no mês inteiro foi de 0,9 mm. Deve ter sido uma seca terrível, na época, pois no mês de fevereiros desse mesmo ano houve apenas quatro dias com chuva, totalizando no final do período 27,5 mm de água. Por outro lado, nunca houve tanta chuva em Passo Fundo como no distante mês de junho de 1916, quando em 16 dias com chuva foram registrados 853,8 mm. E olhe que esses extremos do nosso clima ocorreram em uma época que não havia Itaipu, não se falava em buraco na camada de ozônio e nem em efeito estufa e, com certeza, havia muita floresta em toda essa região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul. Isso serve para mostrar que o nosso clima possui uma variabilidade climática natural que vai além das mudanças causadas pelo homem no nosso território nesse final de século.

Assim, não tenha dúvida, os eventos ocorridos em 1997, há muito tempo, fazem parte da variabilidade natural do nosso clima. O que devemos sim é aprender a conviver com ela, atenuando os impactos negativos e otimizando o aproveitamento das condições favoráveis. Por isso, faço minhas as palavras de Sérgio da Costa Franco, escritas em 1986: "Apesar de 1997, em matéria de clima em Passo Fundo, nada há de novo embaixo do sol".


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