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Trigo brasileiro tem qualidade, falta é quantidade

Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. 

Nem sempre foi assim na triticultura brasileira. Houve um tempo que se plantava e colhia muito trigo no País, mas a qualidade ficava aquém da desejada pela indústria moageira. O exemplo típico foi a nossa propalada quase auto-suficiência, na safra de 1987, quando foram produzidas ao redor de 6,1 milhões de toneladas. Hoje, a situação mudou radicalmente. Temos produto com qualidade, porém numa quantidade que sequer é capaz de atender à metade do nosso consumo, estimado entre nove e dez milhões de toneladas, no ano 2000.

A opinião de que, no momento, o trigo brasileiro tem qualidade e que está faltando mesmo é produzir uma quantidade maior foi expressa por Acir Martins da Silva, gerente do Moinho da Cotriguaçu, Palotina, Paraná, na palestra que proferiu no "Encontro do Trigo", realizado em Toledo, PR, no dia 19 de abril. Na ocasião, ele representava a Abitrigo, Associação Brasileira da Indústria do Trigo, cujas posições já tornadas públicas pelo presidente da entidade, o empresário Roland Guth, são de apoio e incentivo ao desenvolvimento da triticultura no Brasil; desde que tenha competitividade em qualidade e em preço com as ofertas do mercado internacional. Na visão da Abitrigo, trata-se de um produto estratégico, por isso não pode o País ter uma dependência externa tão acentuada. Ao mesmo tempo que a entidade se põe na defesa firme do mercado nacional de trigo e de farinha, chegando a pedir salvaguardas para estes produtos frente à concorrência externa, também deixa claro que a indústria moageira não pode comprar trigo brasileiro levada apenas por pressões emocionais. A mesma lógica do consumidor que, em tempos de globalização da economia, também não vê razões para se manter fiel ao "made in Brazil" , na hora de adquirir farinhas e seus produtos derivados, prestando especial atenção aos quesitos qualidade e preço.

O "Encontro do Trigo" de Toledo foi promovido pela Associação dos Engenheiros-agronômos local e contou com o apoio do CREA-PR, da Prefeitura Municipal de Toledo, da Secretária Estadual da Agricultura e do Abastecimento-PR e da Emater-PR, tendo como patrocinadores 13 empresas que atuam no setor de insumos para a agricultura. O município de Toledo está situado no Oeste do Paraná. Uma região onde o trigo, apesar de ser uma cultura tradicional naquela área, vem cada vez mais perdendo espaço para o milho safrinha. Foi neste cenário que os organizadores do evento, atentos à safra 2000, reuniram 180 pessoas no Teatro Municipal de Toledo, envolvendo pesquisadores, representantes da área industrial, agentes de órgãos governamentais, profissionais da assistência técnica e produtores rurais, para discutir e transferir um conjunto de informações relevantes, na atualidade, sobre a cultura de trigo no Brasil.

Na programação do "Encontro do Trigo" de Toledo foram contemplados assuntos como variabilidade climática e seus impactos sobre a cultura de trigo no Brasil, perspectivas históricas, políticas e tecnológicas da cultura, além de aspectos ligados à comercialização de trigo pela indústria e os novos instrumentos de política agrícola que ora estão sendo postos em prática pelo governo federal, como forma de incentivar o plantio deste cereal.

No evento, a Embrapa Trigo, de Passo Fundo, RS, apresentou os resultados de seus estudos relacionados com variabilidade climática e trigo no Brasil, particularmente a variabilidade associada com as fases quente (El Niño) e fria (La Niña) do fenômeno El Niño-Oscilação do Sul. Os dados indicam as condições de La Niña e de neutralidade como probabilisticamente as mais favoráveis para a cultura de trigo no Sul do Brasil, no que diz respeito ao comportamento das variáveis meteorológicas. Diante dos resultados e das projeções climáticas indicarem para uma condição de La Niña fraca e de volta à normalidade no segundo semestre deste ano, pode-se inferir que, pelo menos no momento, não há uma sinalização clara de que anomalias climáticas extremas, tipo os grandes excessos de chuva dos anos de El Niño, deverão causar problemas para o trigo na safra 2000; como aconteceu em 1997, por exemplo.

O chefe-geral da Embrapa Trigo, dr. Benami Bacaltchuk, deu destaque aos pontos fortes da triticultura brasileira, porém sem esquecer das nossas fragilidades. Segundo ele, a tecnologia hoje disponível permite estabilidade de rendimentos em anos ruins e o seu incremento em anos favoráveis. Nada parecido com o que acontecia em um passado não muito distante, quando em anos ruins chegamos a produzir menos de 400 quilogramas por hectare. O domínio de tecnologia própria para produzir trigo se soma ao fato deste cereal ser uma das poucas opções capazes de agregar renda na safra de inverno e gerar empregos nos diferentes segmentos da economia. Apesar das ameaças, atreladas aos pontos fracos (trigo visto como moeda de troca no Mercosul, preço condicionado pelo mercado internacional e seus subsídios, custo de produção influenciado pelo "Custo Brasil", estrutura de armazenagem com deficiências e a existência de algumas restrições tecnológicas), a oportunidade para a produção de trigo no Brasil é grande, haja vista sermos um mercado consumidor em expansão que, neste ano, deverá superar os nove milhões de toneladas. Por tudo isso, vislumbra-se que num prazo de três anos será possível atender, com produto nacional, pelo menos 60% deste mercado.

Na área federal, os acenos dados pelo governo são claramente de incentivo ao aumento da produção nacional de trigo, basta ver que, na definição dos preços mínimos, o trigo foi a cultura que teve melhor reajuste (R$ 205,00 por tonelada, produto tipo 1). Na palestra que realizou, José Maria dos Anjos, da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, salientou os instrumentos de política agrícola que estão sendo postos em prática nesta safra. Aos já conhecidos crédito de custeio, Proagro, preço mínimo, PEP, AGF, EGF e CPR, acrescentaram-se o contrato de opção de venda, a recompra deste contrato e a implementação de seguro agrícola privado. O novo contrato de opção de venda é uma garantia de preço ao produtor. Funciona via bolsa de mercadorias e pode ser visto como um "seguro" contra as oscilações negativas de preço, cabendo ao produtor o direito de exercer ou não a opção de vender ao governo pelo preço acordado.

Trigo no Brasil, a discussão é antiga e os receios do produtor em plantar e ter prejuízo continuam. De qualquer forma, pelas regras de mercado hoje vigentes, o risco é algo inerente em qualquer atividade econômica. O tamanho do nosso mercado interno, apesar do consumo modesto por habitante, seja de pão (28 kg por ano) ou de massa (6,1 kg por ano), comparativamente com outros países, tipo Argentina (83 kg de pão por habitante por ano) e Itália (28 kg de massas por habitante por ano) por exemplo, apresenta, mesmo já chegando perto dos 10 milhões de toneladas por ano, ainda muito espaço para crescimento. É claro que o limite deste crescimento vai estar atrelado ao crescimento da renda da população.

No tocante à qualidade das nossas cultivares e à tecnologia para produzir trigo no Brasil, não obstante a existência de espaços para melhorias, pelo menos isso temos. O negócio é estar atento a segmentação de mercado. Não adianta produzir trigo para biscoito e querer vender para quem quer produzir farinha para pão e vice-versa. Pelo jeito o trigo brasileiro continua o mesmo, mas a qualidade: quanta diferença!


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