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Previsões

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. 

O valor das previsões de Mãe Dináh para o próximo milênio todo mundo sabe. Pelo que está escrito nos informativos publicitários, divulgados em jornais de grande circulação, não custam nada. Talvez também não sirvam para nada, mas isto não importa. São distribuídas gratuitamente, segundo os anúncios. Na verdade, custam aos incautos R$ 5,00. Sabe como é, apenas um óbolo para as despesas postais. E as previsões meteorológicas, você saberia atribuir algum valor?

Difícil responder, porém, hoje, há uma certeza: não serve mais como resposta o velho ditado "todo mundo fala sobre o tempo, só que ninguém sabe o que fazer com isto". E, portanto, não se pode colocar valor em uma previsão meteorológica. É claro que o valor de uma previsão meteorológica depende do que se faz com ela.

Mais do que nunca, informação tem sido vista como negócio neste quase final de século. No Brasil, a tradição existe na área de consultoria econômica e mercadológica. Há várias empresas e consultores individuais atuando e prestando serviços para órgãos públicos e para empresas privadas. Para os meteorologistas, apesar de existir, o mercado deste tipo de atividade ainda é incipiente. Alguns grandes conglomerados de comunicação contam com assessoria privada voltadas especificamente para a melhoria na prestação de serviços envolvendo meteorologia nos seus veículos. Outras empresas demandam informações e produtos principalmente nas instituições oficias que atuam em meteorologia no Brasil.

Nos Estados Unidos o quadro é diferente. Consultoria privada em meteorologia existe e vem de longa data. Especificamente, de forma mais marcante desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando os meteorologistas militares, formados no grande esforço de guerra, passaram a se incorporar às atividades civis, tornando, com isto, uma realidade o mercado de consultoria privada em meteorologia, apesar de toda excelência do serviço meteorológico nacional americano. Anúncios classificado de profissionais e empresas especializadas nessa área, contando com o selo de aprovação da Sociedade Americana de Meteorologia para este exercício, dão prova da dimensão e da existência deste mercado naquele país. Algo diferente se passa no Brasil, onde os meteorologistas, até pouco tempo, tinham como empregador quase que única e exclusivamente o Estado. Hoje, empresas privadas, a maioria sediada em São Paulo, têm despontado como fonte de empregos para os meteorologistas brasileiros.

Depois da navegação aérea, que demanda informações meteorológicas a todo momento nos aeroportos e nas rotas comerciais das aeronaves, o maior beneficiário potencial de informações meteorológicas é, sem dúvida, o setor agropecuário. E esses benefícios potenciais podem ser considerados tanto no nível de planejamento de atividades como nas praticas de manejo das culturas.

Há dois tipos de previsão em meteorologia. As chamadas previsões de tempo e as previsões de clima. Cada uma delas tem as suas peculiaridades e usos diferentes, quando voltadas para aplicações na agricultura. As previsões de tempo são aquelas que indicam, para um dado local e para um determinado dia a variabilidade das condições meteorológicas. Informam, por exemplo, se vai chover, se vai fazer frio, se vai haver formação de geadas, qual a amplitude de temperaturas (mínima e máxima), velocidade do vento esperada, umidade relativa e assim por diante. Este tipo de previsão é feita com um horizonte de tempo que, para fins operacionais, não vai além de cinco dias ou até sete dias, em alguns casos. Portanto, não é possível ainda, e talvez não seja nunca, saber se numa determinada data, com trinta dias de antecedência, vai chover ou vai fazer sol. As previsões climáticas, por sua vez, não informam a variabilidade diária dos elementos meteorológicos, em um determinado local. Não indicam quando vai chover ou quando vai fazer sol, só para ilustrar. Seus indicativos são feitos em escalas estacional (três meses) e interanual. Tão somente informam como, no período considerado, deverão se comportar as variáveis meteorológicas em relação aos valores considerados normais. Ou seja, ficarão abaixo, ao redor ou acima dos mesmos.

As previsões de tempo são indispensáveis para se fazer um manejo racional das práticas agrícolas. Os produtos hoje disponíveis podem aumentar, e muito, a eficiência de operações de semeadura, aplicação de Nitrogênio em cobertura, aplicações de produtos químicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas etc.), fenação a campo, antecipação de colheita e muitas outras. Quanto vale este tipo de previsão? Calcule o custo destas operações, cuja falta ou ocorrência de chuva pode afetar a sua eficiência, e principalmente os reflexos que isto pode ter no resultado final da lavoura, por exemplo, que você passará a considerar informação meteorológica como mais uma das coisas que faz a diferença nos resultados obtidos na atividade agrícola.

Quem acompanhou, nos últimos três anos, os alertas sobre prognósticos climáticos baseados nas fases do fenômeno El Niño-Oscilação do Sul (ENOS) pode comprovar a evolução das chamadas previsões climáticas para aquelas regiões do Globo onde existem sinais de variabilidade climática associados com El Niño e com La Niña. Especificamente para o sul do Brasil, chuvas acima do normal em anos de El Niño e chuvas ao redor ou abaixo do normal em anos de La Niña.

Quem considerou, associado a estas informações, os estudos complementares de impactos da variabilidade climática associada com as fases do ENOS e seus reflexos sobre o rendimento econômico das culturas, pode montar estratégias de manejo para reduzir riscos climáticos e melhorar o seu desempenho na atividade. Os alertas de que todos os sinais indicavam que as probabilidades de sucesso com a cultura de trigo eram altas em 1999, foram dados desde maio. Quem ouviu e decidiu tendo a consciência que este tipo de informação é probabilístico e não absoluto pode ter uma amostra da diferença em produzir e dimensionar seu sistema de produção em um ambiente de riscos climáticos conhecido. Muito diferente do obscurantismo de outros tempos, quando anos de bons rendimentos e de fracassos eram vistos como meras obras do acaso, sem qualquer possibilidade de previsibilidade. Quanto vale isto? Faça suas contas. Quanto ganhou, deixou de ganhar ou perder, considerando ou não estas informações.

São muitas e variadas as aplicações das previsões meteorológicas. Vão desde usos comuns e corriqueiros no dia-a-dia das pessoas até as mais estranhas e inusitadas finalidades. Para toda e qualquer circunstância imaginável existe demanda por informações meteorológicas. Exemplifico com uma passagem verídica, apesar de rara, relacionada com a meteorologia e suas previsões.

Tudo aconteceu no fim dos anos 80, quando cumpria o programa de doutorado em agrometeorologia pela UFRGS, em Porto Alegre. Nome e datas são fictícios, por razões óbvias e por serem irrelevantes para o fato.

Era fim de expediente de um dia qualquer daquele mês de março, quando o telefone tocou no departamento de agrometeorologia.

  • Alo!

Do outro lado da linha, uma voz de mulher:

  • Boa tarde, é da meteorologia?
  • Sim, às suas ordens.
  • Por favor, que hora o sol se põe no dia 27 de agosto?

Seguiu-se um breve silêncio, afinal a pergunta não era propriamente sobre meteorologia. Estava mais para a astronomia . De qualquer forma, não era difícil responder. Bastava pedir um minuto e consultar o anuário de efemérides astronômicas, publicado pelo Observatório Astrônomico Nacional, para se ter uma resposta.

  • Ok! a tal hora e tantos minutos.
  • Muito obrigada. E as condições de tempo: céu claro, nublado ou chuva, no momento do por do sol?

Agora sim o questionamento dizia respeito à meteorologia.

  • É muito cedo para se ter este tipo de reposta. Faltam muitos dias para 27 de agosto. Não existe, no mundo, serviço meteorológico capaz de fazer uma previsão tão específica como esta e com tanta antecedência. Desculpe a curiosidade, mas o que você vai fazer com esta informação?

Foi então que ela se identificou. Se chamava Roberta e estava marcando a data do seu casamento para o dia 27 de agosto. Até ai nada demais. Acontece que, por razões que não nos diz respeito, a cerimônia seria realizada em um clube às margens do Rio Guaíba e Roberta queria marcar a hora do casamento e dizer o sim no exato momento que o sol se pusesse sobre as águas do falso rio que banha a capital dos gaúchos, formando um matiz de cores que é decantado em prosa e verso. Só para ilustrar, há muitos anos, Glênio Fagundes, no programa Galpão do Nativismo da TVE, fez menção a um dicionário alemão onde constava que o pôr-do-sol mais bonito do mundo era o do Rio Guaíba, em Porto Alegre. E era isto que, com certeza, justificava a escolha de Roberta.

Diz a lenda que os deuses da meteorologia conspiraram e fez um dia magnífico naquele 27 de agosto. Roberta se casou sob o turbilhão de cores do pôr-do-sol do Guaíba e, pelo que consta, é feliz até hoje.


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