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E agora, São Pedro?

 Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. 

Drummond, onde estiver, perdoa a heresia. Mas, "La Niña chegou, a chuva diminuiu, o solo secou, a plantação morreu e agora, São Pedro?" É claro que a realidade da seca e a angustia dos produtores rurais do sul do Brasil em relação às previsões de chuva não tem nada de poético. Para alguns, está mais para uma tragédia previamente anunciada do que qualquer outra coisa.

Desde 1997, o sul do Brasil tem as suas condições meteorológicas influenciadas pelo fenômeno El Niño-Oscilação do Sul (Enos). Naquele ano foi o El Niño ou fase quente, um dos eventos mais fortes do século, que trouxe excessos de chuva no período de primavera-verão, implicando em inundações e problemas de defesa civil, prejuízos na cultura de trigo e sendo o responsável direto, na safra 1997/1998, pelo maior rendimento histórico obtido com a cultura de soja no Rio Grande do Sul (2091 kg/ha). Em meados de 1998, encerrado o El Niño imediatamente teve início um evento La Niña ou fase fria do fenômeno Enos. E com ele começou um ciclo de anos bons para os cereais de inverno, a safra de trigo de 1999 comprovou este fato, e de prejuízos por falta de água para as culturas de verão. Problemas causados por estiagens ocorreram na safra de verão 1998-1999 e pelo jeito estão se repetindo na atual safra, 1999-2000. O fenômeno Enos é assim, favorece algumas coisas e prejudica outras, dependendo da sua fase: El Niño (fase quente) é bom para as culturas de verão e mau para os cereais de inverno, com La Niña (fase fria) ocorre exatamente o contrário.

Exageros dos números a parte. Não há dúvida que a redução de chuvas no sul do país, decorrente da atuação do fenômeno La Niña, já causou seus estragos na safra gaúcha de verão 1999-2000. Estão ai os municípios decretando situação de emergência e os relatos de perdas em lavouras de milho e de feijão, queda na qualidade e produção das pastagens, falta de água nos açudes para irrigação de arroz, alguns problemas na soja, etc., etc. e etc. Apesar das perdas já configuradas, também é claro que é cedo para dimensionar o prejuízo global da agricultura sul-rio-grandense. Há regiões mais afetadas do que outras. É fato bem conhecido que a metade sul do estado e a região noroeste, em anos de La Niña, são mais fortemente atingidas pela seca do que as demais. Isto não implica que as outras partes do estado não sofram redução nas chuvas. Também sofrem, porém em menor escala.

Há que se considerar ainda que as culturas têm as suas fases críticas em relação à falta de água. E assim não são todas as lavouras do estado que apresentam perdas irreversíveis ou totais neste momento. No milho é de domínio público que quando falta água no subperíodo do pendoamento-espigamento os prejuízos podem ser grandes ou até mesmo totais. A soja é mais resistente, mas de qualquer forma necessita de umidade no solo para um bom estabelecimento da lavoura e após a floração, abrangendo o período de enchimento de grãos, quando se verifica deficiência hídrica pode haver redução no rendimento final. Também é fato bem conhecido a perda de potencial de rendimento em soja nas chamadas semeaduras tardias, fim de dezembro ou janeiro, comparativamente às semeaduras de outubro e de novembro. E este ano, algumas lavouras de soja foram semeadas fora do período preferencial, implicando, independentemente das condições hídricas, já em um certo comprometimento do potencial de rendimento.

De qualquer forma, a situação preocupa e a expectativa é grande em relação ao comportamento das chuvas nos próximos meses. Deixando de lado especulações e exercícios de futurologia inúteis, na seqüência, é apresentada uma síntese das previsões climáticas para o trimestre janeiro a março de 2000, na região sudeste da América do Sul, onde está situado o sul do Brasil.

Nos dias 14 e 15 de dezembro de 1999 foi realizado em Montevidéu, Uruguai, o VII Fórum Regional sobre Perspectivas Climáticas para o Sudeste da América do Sul. Na ocasião, especialistas brasileiros, argentinos, uruguaios, paraguaios e americanos se reuniram para debater a situação atual e formular um prognóstico de consenso para o período janeiro a março do ano 2000. A chamada região sudeste da América do Sul, delimitada entre 20 e 40 graus de latitude Sul e situada a leste da Cordilheira do Andes, que envolve o sul do Brasil, o Uruguai, o Paraguai e parte da Argentina, se destaca como uma das áreas do Globo onde, pelo forte sinal de variabilidade climática associada às fases do fenômeno El Niño-Oscilação do Sul, a aplicação de produtos de previsões climáticas, na escala estacional, já pode ser considerada uma realidade.

Tendo como antecedentes a ocorrência de um evento La Niña e indicativos da sua persistência nos próximos meses, baseando-se principalmente em estudos diagnósticos de impactos dos eventos La Niña sobre as chuvas na parte sudeste da América do Sul, os especialistas elaboraram o chamado prognóstico de consenso para o período janeiro-fevereiro-março de 2000. Eis uma síntese das conclusões, sempre em termos probabilísticos:

  • Na região central do Paraguai e no noroeste da Região Sul do Brasil, há maior probabilidade de ocorrência de precipitação acima dos valores normais;
  • Numa área desde o sul do Rio Grande do Sul, passando pelo nordeste da Argentina e chegando até a parte central deste país, precipitações inferiores aos valores normais apresentam maior probabilidade de ocorrência;
  • No sul do Uruguai e no leste da Província de Buenos Aires, há uma tendência para precipitações superiores aos valores normais;
  • No noroeste da Argentina a tendência é de precipitações ao redor dos valores normais, com maior chance para valores superiores do que para valores inferiores;
  • Para as outras áreas do sudeste da América do Sul, espera-se a ocorrência, no trimestre janeiro a março, de quantidades de chuvas próximas dos valores das normais.

É importante lembrar que nesta época do ano, janeiro a março, os impactos dos eventos La Niña não são homogêneos ao longo dos três meses. Os meses de janeiro e fevereiro, geralmente, apresentam um comportamento diferente do mês de março. Com isso, em março, naquelas regiões que se indicou uma maior probabilidade de chuvas acima dos valores normais para os totais do trimestre, podem ocorrer anomalias negativas de chuvas.

O boletim Infoclima, do Cptec-Inpe, ano 6, número 12, liberado em 14 de dezembro de 1999, também destaca a continuidade do fenômeno La Niña, com as águas superficiais do Oceano Pacífico equatorial apresentando um grau Celsius (1°C) abaixo dos seus valores normais. Também o Índice de Oscilação do Sul (IOS), com valor de 1,1 em novembro, indica a permanência do atual evento. Além destes indicadores, o campo de ventos em baixos níveis confirma a situação de continuidade do fenômeno La Niña.

Os modelos oceânicos do Centro Americano (NCEP) e do Centro Europeu (ECMWF) indicam a continuidade do atual fenômeno La Niña nos próximos meses. Assim, até fevereiro do ano 2000 (integrando o trimestre dezembro de 1999 e janeiro e fevereiro de 2000), com base nos modelos de Circulação Atmosférica do Cptec-Inpe, do Centro Americano (NCEP), do Centro Nacional de Pesquisa da Atmosfera dos Estados Unidos (NCAR), do Centro Europeu (ECMWF), do Centro Alemão (Instituto Max Plank) e na persistência das características climáticas globais, a tendência é de chuvas próximas da normal climatológica na Região Sul do Brasil.

É sempre importante lembrar que quantidade de chuvas normais no sul do Brasil não atende plenamente a demanda de água das culturas no período de primavera verão. Por isso não é atoa que os maiores rendimentos das culturas de verão se verificam em anos de El Niño, quando chove acima dos valores normais.

A previsão climática está posta. Necessariamente, deve ser interpretada sempre em termos probabilísticos e não absolutos. As anomalias de chuvas têm apresentado um padrão consistente em eventos La Niña passados. Em geral, com redução de chuvas na primavera, revertendo o quadro no começo do verão e retornando um período de estiagem no outono e no começo do inverno. Nada garante que o comportamento seja assim neste ano. Porém, o mais provável é que ASSIM SEJA.


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