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Meteorologia em Tempo de Guerra

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS.

Em tempo de paz, a meteorologia possui inumeráveis aplicações. Porém, durante as guerras, há registros na história, que vários confrontos tiveram seus resultados influenciados pelas condições atmosféricas. Exemplos não faltam. O americano Louis Wolfe, no livro "Explorando a Atmosfera: História da Meteorologia", cita vários, da antigüidade até os tempos modernos, que serão descritos a seguir.

Há mais de dois mil anos, Alexandre da Macedônia montou um exército considerado imbatível. Conquistou a Grécia, a maior parte da Ásia, a Pérsia e o Egito. Nada o detinha. Avançou contra a Índia e alcançou o Punjab sem encontrar resistência. Alexandre, todavia, não conhecia a violência das monções indianas. Pois, uma monção de sudoeste destruiu o seu exército, parando com o seu avanço na Índia.

Por volta de 1588, a Espanha contava com uma esquadra que ficou conhecida como a "Invencível Armada". Então, decidiu invadir a Inglaterra. Não havia chance de defesa para os britânicos. Quando a esquadra espanhola chegou ao Canal da Mancha, travou-se uma série de batalhas. Os ingleses estavam condenados à derrota, porém inesperadamente ocorreu uma terrível tempestade que obrigou os galeões espanhóis a navegarem para o norte e abandonar a luta. Pela tempestade, os espanhóis sofreram perdas irreparáveis, vários de seus barcos afundaram e tiveram que lançar seus cavalos ao mar. Por isso, não foi em vão que o governo inglês, quando cunhou uma medalha para comemorar a batalha, gravou-lhe a inscrição: "Deus soprou e eles foram dispersados".

Após a fuga da ilha de Elba, Napoleão voltou à França e montou um poderoso exército. Estava decidido a recuperar a glória perdida. Porém, a Inglaterra, a Prússia, a Áustria e a Rússia decidiram acabar com Napoleão. E desta vez para sempre. Napoleão achava que podia derrotar os inimigos. Na noite de 16 de junho de 1815 acampou seu exército ao sul da cidade de Waterloo, na Bélgica. As tropas inglesas estavam um pouco mais ao norte. Napoleão sabia que os prussianos estavam a caminho para se juntar aos ingleses , por isso decidiu atacá-los antes que chegasse o reforço. Assim destruiria os ingleses e depois cuidaria dos prussianos. Não levava em conta os russos e os austríacos que estavam longe. Porém, uma chuva torrencial alagous as estradas e os campos. Napoleão adiou o ataque. No dia seguinte, as chuvas continuaram e mais uma vez o ataque foi adiado. Quando a chuva parou, os campos e estradas estavam encharcados. Napoleão teve que esperar mais quatro horas para se lançar ao ataque. O tempo foi suficiente para que os prussianos se juntassem aos ingleses e com isso aniquilaram os franceses.

Na Primeira Guerra Mundial foram utilizadas armas novas: canhões de grande alcance, zepelins, aviões e gases venenosos. Também foi nessa guerra que a meteorologia passou a ser considerada pelos estrategistas militares. A tal ponto de as previsões de tempo serem tidas como informações secretas. Foram suspensas as transmissões de previsões por rádio e a sua publicação em jornais. Para obter informações sobre o tempo, os alemães mandaram submarinos equipados com postos de observação para as costas da Irlanda e para o Atlântico. Por falta de informações meteorológicas, muitos navios alemães foram surpreendidos por violentas tempestade no Canal da Mancha e alguns zepelins dirigidos para bombardear Londres acabavam tendo suas rotas desviadas pelos ventos fortes.

Também os Aliados sofriam com a falta de conhecimentos meteorológicos na Primeira Guerra Mundial. Em fevereiro de 1915, a esquadra inglesa fundeou à entrada dos Dardanelos, os estreito que conduz a Constantinopla. Nessa época, Constantinopla era a capital da Turquia e uma forte aliada dos alemães. Dominar a cidade era decisivo para os Aliados. Para isso, precisavam fazer um ataque surpresa. Durante o ataque, ocorreu uma forte tempestade e os barcos de guerra tiveram que recuar. Os aliados desembarcaram suas tropas a muitos quilômetros de Constantinopla. Os turcos reforçaram a defesa e os Aliados após uma sangrenta campanha desistiram da idéia de conquistar Constantinopla.

Como a guerra continuou por vários anos e em função dos seu papel estratégico nasceu uma nova especialização na meteorologia: a meteorologia militar. Até o final da guerra, os generais e almirantes passaram a dar especial atenção às condições de tempo, quando planejavam uma batalha.

Porém, foi na Segunda Guerra Mundial que a meteorologia militar atingiu a sua maturidade. Muitos meteorologistas foram transferidos para os quadros do exército, da marinha e da aeronáutica. Nenhum comandante planejava a sua estratégia de ataque ou defesa sem primeiro consultar os seus meteorologistas.

Na marcha sobre a Polônia, em setembro de 1939, muitos peritos militares pensaram que Hitler estava louco. Setembro é a época das chuvas na Polônia. Imaginavam muitas dificuldades meteorológicas para o ataque. Porém, o tempo foi bom naquele mês e o exército germânico invadiu a Polônia e alcançou uma grande vitória. O segredo é que Hitler havia solicitado aos seus meteorologistas uma previsão especial para aquele mês sobre a Polônia e a utilizou de forma estratégica.

Há também a heróica retirada dos ingleses em Dunquerque, em 1940. Um nevoeiro cerrado caiu sobre o Canal da Mancha e impediu que os alemães aniqulassem o exército inglês.

Com a entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1941, os meterologistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, foram alistados na Força Aérea americana, disponibilizando o que de mais moderno se conhecia sobre meteorologia para as aplicaçoes militares.

O papel mais importante da meteorologia na Segunda Guerra Mundial ficou por conta do comitê meteorológico que assessorava o Supremo Comandante das Forças Aliadas, Dwight D. Eisenhower. Esse comitê, chefiado pelo capitão escocês J. M. Stagg, era composto por onze meteorologistas. E teve a responsabilidade de realizar a previsão de tempo para decidir sobre a invasão da Europa, através da França, visando conquistar a Alemanha. O consgrado episódio conhecido como dia D foi inicialmente marcado para 4 de junho de 1944. E como datas alternativas, os dias 5 e 6. O comitê meteorológico se reunia com Eisenhower duas vezes por dia (às 4h e às 21h30min). No dia 3 de junho, a previsão para o dia 4 foi desfavorável, uma zona de baixa pressão estendia-se sobre o Atlântico e encaminhava-se para a Europa. Na madrugada do dis 5 de junho houve uma nova reunião. Toda a atenção estava voltada para a previsão que seria anunciada pelo capitão Stagg. E a previsão novamente não era favorável para os dia 5 e 6 de junho. Havia uma pequena chance de o tempo ficar claro por algumas horas e permitir o desembarque das tropas. O comitê meterológico não recomendava a invasão. A decisão ficou por conta de Eisenhower que optou em não cancelar novamente a operação. E tal qual a previsão aconteceu: o tempo ficou limpo por algumas horas apenas, porém foi o suficiente para os Aliados invadirem a França com êxito.

Com o fim da guerra, os meteorologistas militares, de volta à vida civil, deram início à fundação das empresas privadas de consultoria em meteorologia, nos Estados Unidos. Mas isso já é assunto para uma outra ocasião.


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