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Os insatisfeitos meteorológicos

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS.

Não é possível agradar a todo mundo. Assim diz um ditado popular. Pois, no caso das condições meteorológicas, esta parece ser uma grande verdade. Haja vista as recentes matérias nos veículos de comunicação, dando conta do dilema dos que se encontram em férias no litoral do sul do Brasil, com as chuvas freqüentes, e a satisfação dos produtores de soja, com as atuais condições climáticas e com a boa expectativa de mercado.

Turismo e agricultura, dois segmentos importantes na economia da Região Sul do Brasil, entram em confronto de interesses, sob o ponto de vista meteorológico, nesta época do ano. E isso, tão somente, porque a escala dos fenômenos atmosféricos não permite que chova nas áreas agrícolas, enquanto o sol reine soberano na orla marítima.

No centro da polêmica, o fenômeno El Niño. As vezes, erroneamente interpretado e, em outras ocasiões, de forma deliberada, comercialmente explorado. A edição da revista Veja, de 3 de dezembro de 1997, serve como exemplo. A matéria de capa, chama à atenção: "Férias: O ano do Nordeste". E, como complemento: "O El Niño vai trazer chuva para o sul e sol para o Nordeste, onde os preços estão mais baixos do que nunca." O segmento de turismo de Santa Catarina reagiu. Especialistas em meteorologia foram reunidos e notas, esclarescendo os possíveis impactos do fenômeno El Niño sobre o comportamento do clima no litoral catarinense, foram distribuídas.

Paralelamente, o consagrado jornalista da RBS, Paulo Sant’Ana, usou seu amplo espaço de mídia para difundir a idéia de que o melhor período de férias, no sul do Brasil, seria o mês de março e não em janeiro e fevereiro, como preferem a maioria das pessoas. Isto porque, invariavelmente, segundo ele, chove muito no nosso litoral em janeiro e em fevereiro, atrapalhando a vida daqueles que para lá se deslocam, em busca de calor e muito sol. Não está de todo errado. Efetivamente, o outono é a nossa estação do ano mais seca.

E assim, estava criado um ambiente favorável à formação de uma legião de insatisfeitos meteorológicos no sul do Brasil. Em sua maioria, de pessoas não relacionadas com a área agrícola, que buscam, nessa época do ano, tão somente, trinta dias de sol no litoral. Pois, esse desejo concretizado, seria uma catástrofe para muitos municípios. Particularmente, aqueles em que a renda vinda da agricultura impulsiona todos os demais setores da economia.

No outro lado dessa "guerra de desejos", estão os agricultores. Aqueles que esperam a continuidade das atuais situação climática e expectativa de preço para a soja. O regime de chuvas no sul Brasil, desde outubro do ano passado, se comporta de forma favorável para a nossa agricultura de verão. Isto é: com chuvas acima dos valores normais. E isso também é típico dos anos de El Niño, no sul do Brasil. Pois, a disponilidade de água é a principal variável climática que influencia o rendimento das nossas lavouras de verão, conduzidas sob condição de sequeiro.

Felizmente, para a agricultura, vai ser impossível de atender o desejo daqueles que querem um verão sem chuvas no sul do Brasil. Não temos uma estação seca definida. Como característica do nosso clima, chove, normalmente, em todos os meses do ano. E, quase sempre, em quantidades superiores aos 100 milímetros.

Polêmicas, desejos e interesses deixados de lado, parece ser verdadeira a influência do fenômeno El Niño no comportamento das pessoas. Constato isso, por algumas consultas telefônicas que recebi, nos últimos tempos, junto à Embrapa. Dúvidas e incertezas do que fazer, com relação a tudo o quanto vem sendo divulgado sobre o atual evento El Niño são comuns.

Associado a isso, no sábado passado, 24/01/98, a coluna "Viva Melhor", do jornal Zero Hora, tratou do assunto. Nela, o psicoterapeuta Renan Oliveira Júnior, foi afirmativo ao responder a questão se o fenômeno El Niño pode influenciar no comportamento das pessoas. Segundo ele, "no verão, com a interferência do fenômeno climático El Niño, o humor das pessoas é posto à prova e a frustração vem à tona, causando desentendimento e atrapalhando um período que deveria ser de descanso e de festa aos veranistas." Destaca também que, pela frustração de uma expectativa, "a criança de cada um assume o controle. As pessoas já não conversam mais. Elas se cruzam rosnando pelos corredores. Tudo é motivo para que não haja mais tolerância." E, continua ele, "as férias ideais, no verão brasileiro, deveriam ter sol forte, mar limpo, uma brisa agradável, paz e tranqüilidade." Algo que parece impossível, pelo menos nesse verão, no sul do Brasil.

Assim, para os que se vão em férias para o litoral, cabe o lembrete: o importante é saber administrar a frustração de expectativas, particularmente a de que vão encontrar trinta belos dias de sol pela frente. Afinal, alguns dias de chuva na praia, salvo os transtornos com o esgoto entupido, não são tão maus assim. Restam, os jogos de cartas, um bom vinho, um bom papo e, talvez, até sobre tempo para ler aquele livro que você nunca conseguiu sair das primeiras páginas. Enquanto isso, no campo, a soja agradece.


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