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O previsor caipira de Cruz Alta

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. 

Gilberto Dambrósio foi operador de telecomunicações na Cooperativa Tritícola de Cruz Alta, a Cotricruz. Nos anos 70 e 80, ganhou notoriedade e ocupou amplo espaço nos veículos de comunicação, com suas previsões nada convencionais em relação à ciência da meteorologia. Ele foi muito ouvido na área rural de Cruz Alta, particularmente a partir da previsão do fim da estiagem de 1977/78.

Dambrósio morreu, creio que no começo dos anos 90. Não sei precisar exatamente quando, mas recordo que os principais jornais do estado, na época, destacaram em nota a sua morte. Desaparecido o homem, ficou o mito. No dia 30 de julho desse ano, estive em Cruz Alta palestrando para os produtores da região sobre o evento La Niña. Na ocasião, circulava entre os presentes uma cópia de um boletim do Departamento de Rádio - Comunicações à Distância, da Cotricruz, elaborado por Gilberto Dambrósio, cujo logotipo ilustra esse artigo, direcionado para a agricultura, destacando os "métodos caipira de se prever o tempo" e o "sistema climático para o mês de setembro".

É evidente que, do ponto de vista da ciência da meteorologia, não há o que comentar sobre o método de Dambrósio. Não havia na época que ele era vivo e muito menos há hoje, com todo o avanço tecnológico presente na meteorologia moderna. Reconheço sim o valor cultural dos escritos de Dambrósio, fazem parte do nosso folclore. A própria denominação dada por ele, "método caipira", está relacionada, pelo significado da palavra, conforme o dicionário, com os habitantes do campo ou da roça, particularmente os de pouca instrução. E o grande senso de observação da natureza pelo homem do campo é inegável. Com o objetivo de resgate cultural de alguns aspectos da chamada "meteorologia campeira do gaúcho" reproduzimos, a seguir, o texto do boletim elaborado por Gilberto Dambrósio, no passado não muito distante. Segue o boletim, na íntegra:

 

MÉTODOS CAIPIRA DE SE PREVER O TEMPO

  • Quando a lua cheia e minguante estão dentro da primeira quinzena do mês teremos muita chuva.
  • Quando a lua nova e crescente estão dentro da primeira quinzena do mês, então teremos estiagem e seca.
  • Vento norte, na velocidade de 30 a 50 km/h, indica chuvas para as próximas 48 horas.
  • Se a fumaça de uma chaminé, com altura superior a 2 metros, se espalhar verticalmente, então teremos tempo bom. O mesmo não acontecendo, quando esta tende a baixar, então chove em 48 horas.
  • Quando as estações de VHF, de TV situadas a 300 km de distância, abrem total a programação, chegando com imagem local, então em 48 horas temos chuvas.
  • Quando as ovelhas se reúnem, diminuírem o apetite, e se coçam muito, em 48 horas temos chuvas.
  • Quando as andorinhas estão voando a grande altitude, separadas umas das outras, em 48 horas temos chuvas.
  • Quando o corpo humano, que possui algum ferimento, calos ou reumatismo sentirem dores súbitas, em 48 horas chove.
  • Durante a noite, quando as constelações apresentam seus mínimos detalhes, com imensos clarões, então em 48 horas chove.
  • Quando o "Fading" interrompe as comunicações, no horário das 10h até às 14h, então temos chuvas em 48 horas.
  • Quando, num lago, um sapo procura ficar de molho das 10h até às 15h, então em 48 horas chove.
  • Quando uma encosta, pela manhã, amanhece com orvalho ou névoa nas gramas e fica o dia inteiro sem evaporar, então em 48 horas chove.
  • Quando a lua cheia e a minguante, antes de se oporem, retratam umidade das sombras das árvores ou faz o piso verter umidade, então em 48 horas chove.

SISTEMA CLIMÁTICO PARA O MÊS DE SETEMBRO

Setembro será um mês muito influenciado pelos ventos do quadrante sul e norte, que poderão ser prejudiciais para a vegetação. Muita chuva estará presente, como sabemos a lua cheia e a minguante novamente governam as estações chuvosas, como o frio e a geada já não se apresentam mais isto devido a lua crescente e nova estarem situadas na segunda quinzena. Conforme a formação da lua e do "FADING" teremos em setembro as seguintes chuvas: 1 a 3, 5 a 7, 8 a 10, 13 a 15, 15 a 18, 22 a 23 e 25 a 31. E, 5 a 18, período de granizo.

Com relação ao comportamento dos animais, Walter Adolfo Voss, técnico da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, realizou um trabalho, pouco conhecido (In: MARIANTE, H.M. Santa Bárbara, São Jerônimo! (Meteorologia e astronomia populares no RS). Porto Alegre: Martins Livreiro ed., 84 p. 1984.), observando os animais no parque zoológico e suas reações frente às mudanças meteorológicas. Concluiu ele: que os animais não prevêem mudanças no tempo e que seus comportamentos estranhos são causados pelas mudanças que ora estão ocorrendo. Entre os principais fatos apurados, destacaram-se:

(1) Sob condição de tempo "carregado" (alta umidade): Os cervos-vermelhos empreendem longas corridas, a hiena movimenta-se muito, não dando a sua "risada" característica, a zebra troteia muito, as siriemas, os pavões e as tachãs cantam com maior frequência, os elefantes ficam indóceis, levantando a tromba na vertical e o anu-branco profere o seu canto-lastimoso.

(2) Frente a um temporal que se aproxima: algumas aves grandes, como o joão-grande, a cabeça-seca e as garças procuram fugir voando; também os urubus são vistos voando, procurando abrigo, quando a chuva chega. Os andorinhões e as andorinhas, aves voadoras por excelência, voam em meio a chuva grossa com vento. Com relação a voarem baixo ou alto, depende da altura de vôo das suas presas: os insetos. Estes, em geral, voam baixo em dias de chuva. Também é quando ocorre revoadas de cupins e de formigas, fazendo essas aves voarem mais baixo do que o normal.

(3) Quando está chovendo: as aves, geralmente, abrigam-se em seus ninhos, somente quando em período de procriação. Os papagaios, em cativeiro, tornam-se mais barulhentos e agitados. As feras, os macacos, os elefantes, os galináceos, procuram abrigar-se da chuva. As aves de rapina, os anatídeos e outras aves de banhado enfrentam a chuva. Os dromedários, ao contrário dos camelos, procuram abrigo somente quando a chuva for muito forte. Os répteis preferem o sol, quando chove recolhem-se aos seus abrigos.

Essa era a "meteorologia" praticada por Gilberto Dambrósio, na região de Cruz Alta. Baseada em fases da lua, na observação da natureza, particularmente no comportamento dos animais, e nos sinais dos aparelhos de comunicação que ele operava, na sua atividade profissional.


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