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Climitologia

Gilberto R. Cunha
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Climitologia não está no Aurélio. Pelo menos, não no dicionário que eu tenho: Aurélio, edição especial Folha de São Paulo, fevereiro de 1995. E também não acabo de inventá-la. Esta palavra ganhou notoriedade no discurso do senador americano Ernest Gruening, proferido em 27 de junho de 1962, sobre a história do Alaska. Evidentemente; climythology, disse ele.

Na definição clássica, clima é o conjunto de condições meteorológicas características do estado médio da atmosfera em um ponto da superfície terrestre. E climatologia é o ramo da geografia física que trata dos climas da terra. Por sua vez, mito tem vários significados. Um deles: idéia falsa, sem correspondente na realidade, coisa irreal. Portanto, me atrevo a definir climitologia como o conjunto de idéias erradas sobre clima. Idéias essas que, paralelamente ao conhecimento da ciência, adquirem grande popularidade.

E a climitologia no Brasil é muito rica. Exemplos não faltam: Amazonas, o "pulmão do mundo"; Itaipu e a mudança no clima, El Niño e o pau-de-Mocó. Eis alguns exemplos ilustrativos, sem contar as crenças nas fases da lua, em rezas e benzeduras para controlar os desígnios do tempo, além do comportamento de animais, vistos como elementos de previsão meteorológica.

 

O PULMÃO DO MUNDO - Durante algum tempo, os professores ensinaram e revistas, jornais e alguns livros traziam explícito que a floresta Amazônica era o "pulmão do mundo". E esse argumento foi muito usado em defesa da preservação da Amazônia. Estava baseado no processo de fotossíntese, em que os vegetais absorvem gás carbônico e liberam oxigênio. Perfeito, desde que não se considere a existência do processo de respiração, pelo qual as plantas liberam gás carbônico e consomem oxigênio. E, no caso da Amazônia, uma floresta em seu clímax, uma quantidade equivalente ao oxigênio produzido é também consumida. O argumento do "pulmão do mundo" saiu de moda e apenas raramente, pelos menos informados, volta à tona e reaparece nos veículos de comunicação de massa.

Há muitas outras razões para se defender a Amazônia, passando pela biodiversidade às possíveis implicações que o desmatamento pode trazer ao clima global. Entre os chamados controles climáticos está a circulação geral da atmosfera. A Amazônia é uma região importante para o clima mundial, por ser uma área de ascensão de ar. Com isso, é uma fonte de calor para a circulação da atmosfera. E uma das mais importantes fontes de calor do mundo. Via a circulação da atmosfera, esse calor é transportado para regiões fora dos trópicos, onde há déficit de energia. Assim, permanecendo o clima mundial estável, apesar da variabilidade associada às variações de potência das fontes de energia.

O que poderia representar o desmatamento da Amazônia no clima mundial, não se sabe. Tudo é hipótese. Desmatamento pode implicar em menor evapotranspiração, por sua vez em menor quantidade de chuva e, em conseqüência, menor quantidade de calor latente (energia) colocada na atmosfera para, via circulação, ser redistribuída para outras regiões. O resultado iria depender de quão importante é a fonte de calor da Amazônia para a circulação geral da atmosfera. E também de quanto a potência dessa fonte de energia seria reduzida no caso da substituição da floresta por pastagens, por exemplo.

Além das implicações no aquecimento global, que a colocação de uma grande quantidade de carbono na atmosfera, resultante das queimadas da floresta, pode representar.

 

O LAGO E MUDANÇA NO CLIMA- Essa que já foi uma figurinha fácil nos veículos de comunicação, anda meio esquecida, ultimamente. Logo após a construção do lago da hidrelétrica de Itaipu, e durante um bom tempos depois, era costume se especular diante de qualquer anomalia climática um pouco mais intensa no sul do Brasil, ora por seca e ora por enchente, que o lago de Itaipu era o culpado. Em resumo, o lago havia mudado o nosso clima.

É evidente que essa especulação insistente, propalada como verdade por alguns, nunca teve fundamento. E a explicação é simples. O nosso clima tem sua gênese determinada por centros de ação que se encontram a milhares de quilômetros daqui. Essa ação a distância se dá via a circulação geral da atmosfera. Mirem-se no exemplo do fenômeno El Niño. Embora ocorra no oceano Pacífico, junto à costa oeste da América do Sul, por alterar os padrões de circulação da atmosfera influencia no clima do sul do Brasil e de várias outras partes do mundo.

O lago de Itaipu pode ter trazido alterações de ordem microclimática, na região onde está localizado. Mas daí atribuir influências em toda a Região Sul, apesar das suas dimensões, é muito diferente. Principalmente, considerando-se os aspectos de dinâmica da atmosfera. Mas como não se fala mais nisso: descanse em paz.

 

EL NIÑO E O PAU-DE-MOCÓ - Em 1997, quando todas as perspectivas indicavam um evento El Niño forte, que deveria trazer excessos de chuva no sul do Brasil e redução das chuvas na parte norte da Região Nordeste, o deputado federal, pelo Piauí, B. Sá escreveu o artigo " O El Niño e o pau-de-mocó". Nele, fazia várias considerações pertinentes sobre o problema da seca no Nordeste brasileiro, além de destacar as soluções que outros países (China, Índia, Israel, Espanha e Estados Unidos), com áreas até menos chuvosas que o Nordeste, via decisões políticas, encontraram para transformarem-se em grandes produtores de alimentos.

Realçava também, que diante de tantas incerteza sobre as previsões climáticas, não se podia assegurar, com tanta antecedência, como seria o inverno (período de chuvas) no semi-árido do Nordeste. Além do mais, dizia que "as pessoas como ele, habituadas à convivência próxima com o caboclo interiorano, que enxerga prenúncios de bom ou mau inverno, ao observar o quotidiano da natureza, em saber secular transmitido de geração para geração, ficam tentadas, sem desprezar a ciência acadêmica, a acreditar mais na velha sabedoria popular. E o nordestino do sertão piauiense está a dizer que o inverno será bom, este ano, por conta de vários avisos da natureza, dentre os quais se destaca a floração exuberante do pau-de-mocó, com sua alvas flores a cobrir literalmente a árvore, da maior à menor, como não é visto há vários anos."

Continuava ele: "Quem viver verá, verá se vale mais a ciência resultante dos estudos dos homens ou o conhecimento puro da natureza, captado tradicionalmente pelo povo do sertão."

E o El Niño de 1997/98 veio, forte como estava previsto, trazendo inundações no sul do Brasil e uma das piores secas para o Nordeste. Pelo menos desta vez, a previsão baseada na florada do pau-de-mocó, apesar de poética, falhou.


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