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El Niño:
Bandido ou Mocinho?

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS.

O fenômeno El Niño é figurinha fácil nos veículos de comunicação. E tem sido assim faz muito tempo. Desde o clássico evento El Niño de 1982/83 que revistas de divulgação científica de grande credibilidade como a Nature e a Science e jornais como o The New York Times, o The Wall Street Journal, a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo, o Globo, a Zero Hora, entre outros, além de programas de rádio e de televisão, divulgam matérias sobre esse tema. A tônica quase sempre a mesma: catástrofes e mais catástrofes associadas ao fenômeno El Niño. Isso é verdade? El Niño não possui nada de positivo?

Tecnicamente, El Niño é definido como uma anomalia climática. E a palavra anomalia por si só já significa uma irregularidade, uma anormalidade, que predispõe o subconsciente das pessoas a associarem, de imediato, apenas coisas negativas ao fenômeno El Niño. Na verdade El Niño é uma anomalia na temperatura das águas do Oceano Pacífico tropical, junto à costa oeste da América do Sul, nas proximidades do Peru e do Equador. Em uma região onde as águas são normalmente frias subitamente surge uma corrente de águas quentes. E por ter sido detectada com maior intensidade no mês de dezembro, próximo ao natal, os pescadores da região deram o nome de El Niño, palavra que, em espanhol, significa O Menino. Porém não é um menino qualquer, trata-se de uma clara alusão ao Menino Jesus. E por isso é grafado com as iniciais maiúsculas. Eis mais um motivo para questionamento: Algo que leva o nome do Menino Jesus representa apenas coisas ruins?

O El Niño perturba o padrão de circulação da atmosfera. E em fazendo isso influi no comportamento do clima de diferentes partes do mundo. E passa a ser importante porque essas alterações climáticas são persistentes. Isto é, duram bastante tempo. Podendo passar de um ano. Com isso, associado aos anos de El Niño (águas do Pacífico tropical aquecidas) temos seca na Índia, seca no sul da África, seca na Austrália, seca no norte da Região Nordeste do Brasil, inundações na costa oeste do Estados Unidos, e inundações no sudeste da América do Sul, região que abrange o Uruguai, o nordeste da Argentina, o sudeste do Paraguai e o sul do Brasil. São cerca de 20 regiões no mundo em que se identifica um sinal forte de influência do El Niño sobre o clima local.

De fato o El Niño traz muitas desgraças. Os números indicam, na América do Sul, um prejuízo de três bilhões de dólares atribuído ao El Niño de 1982/83. Foram 600 mil pessoas que ficaram desabrigadas e 170 mortes diretamente causadas por esse evento. No sul do Brasil, o prejuízo foi estimado em 800 milhões de dólares, cerca de 5 milhões de toneladas de grãos foram perdidas no momento da colheita. As imagens da enchente em Blumenau, Santa Catarina, são constantemente reprisadas nos noticiários de televisão. E isso basta para a formação da imagem negativa do El Niño.

Porém como era de se esperar, embora nem sempre divulgadas nos veículos de comunicação de massa, há regiões e atividades beneficiadas nos anos de El Niño. Entre essas, destacam-se: a redução no número de furacões na costa leste dos Estados Unidos, as chuvas nas regiões desérticas do Peru e do Chile, vitais para a perpetuação de muitas espécies que habitam esses locais, e para a agricultura de verão no sul do Brasil. Isto mesmo, os anos de El Niño estão associados com chuvas acima do normal no período de primavera e início de verão no sul do Brasil e, com exceção do El Niño de 1982/83, quando se teve problemas por ocasião da colheita, são os anos de maiores rendimentos das culturas de soja e de milho no Rio Grande do Sul. E isso economicamente é importante.

No caso do Brasil, não há dúvida, El Niño traz sérios prejuízos, pois intensifica a seca na Região Nordeste, piorando ainda mais a sorte da população pobre, cuja história não é muito diferente nos anos considerados normais. Também acarreta sérios problemas para quem vive em zonas de vulnerabilidade às inundações no sul do Brasil, destruindo casas, estradas, pontes etc. Por tudo isso é uma preocupação de defesa civil. Assim, atitudes como a formação da comissão do Congresso Nacional para tratar do El Niño são elogiáveis, pois no caso dos desastres naturais previsíveis o mais conveniente é a adoção de medidas pré-desastre e não pós-desastre, como é comumente praticado.

Para a agricultura de verão no sul do Brasil, quem é realmente má, por ocasionar secas, é o fenômeno La Niña (águas do Pacífico tropical mais frias do que o normal). Estão ai os prejuízos nas safras de 1987/88 e de 1990/91 ocasionados por La Niña.

O El Niño é assim: o lado bom e o lado mau confundidos no mesmo indivíduo, em um típico caso de dupla personalidade. Mas isso já não é mais uma questão para a meteorologia. Talvez seja objeto para a psicanálise.


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