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Os adoradores do y2k

Gilberto R. Cunha
Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. 

Quase toda criança, quando entra no primeiro ano da escola primária, já sabe contar. Porém, é lá que de fato aprende os sistemas de numeração. Ou aprende direito ou as conseqüências serão sentidas pelo resto da vida. Pois, quando o assunto é o novo milênio, fim do século XX e começo do século XXI, não tenha dúvida, pelo que é divulgado nos veículos de comunicação, muita gente boa andou gazeteando aulas.

Termos como era, século e milênio, apesar de terem definições simples, fazem parte de um confuso cardápio de informações. Era nada mais é do que um dado momento no tempo que é tomado como referência para a contagem dos anos. A nossa familiar Era Cristã é a que principia com o nascimento de Jesus Cristo. Por sua vez, século é um período de 100 anos (numerados de 1 a 100, 101 a 200, 201 a 300, etc.), contados a partir de um momento arbitrário. Para nós, cristãos, esse referencial especial é a data do nascimento de Jesus Cristo. E milênio é tão somente um período de mil anos.

O apelo de marketing pelo número 2000, misturado com o charminho da turma da informática, quando o assunto é o bug do milênio e seus sites Internet y2k, são as únicas justificativas plausíveis para a pressa em terminar o século XX antes do tempo e começar o novo milênio um ano antes. Tá certo que o século XX, para muita gente, não vai deixar saudades e quanto mais cedo vê-lo pelas costas melhor. Quanto ao bug do milênio, não perca o sono, os discípulos de São Bill Gates acharão a solução. E há ainda aqueles que nos primeiros dias de abril de 1999 tentaram desesperadamente fazer o bebê do novo milênio, segundo reportagens em horário nobre na televisão e matérias em jornais. Embora em vão, pois todo bebê gerado em 1999 nascerá ainda no segundo milênio, não se pode chamá-los simplesmente de malucos. Além do prazer, para o primeiro a nascer no ano 2000, existem ofertas de prêmios milionários e estão assegurados os holofotes da mídia. Por enquanto, o único cidadão do terceiro milênio que conheceremos no próximo ano é o músico Carlinhos Brown, que assim costuma se auto-definir em entrevistas.

Diferente do que se poderia imaginar, essa confusão toda não é privilégio dos tempos atuais. No livro "Rio Grande do Sul – Um Século de História", Carlos Urbin, no texto "Feliz 1900!", destaca que o mascate Gabriel Alves se apresentava aos fregueses na primeira semana de janeiro de 1900, com a seguintes palavras: "Feliz 1900! Feliz século 20! Só posso cumprimentar vocês agora, tive problemas com as mulas. Estou atrasado na entrega das encomendas." Pelo jeito, os nossos conterrâneos do passado, tal qual estamos prestes a fazer com o século XXI, comemoraram a entrada do século XX um anos antes. O século XX começou no dia 1 de janeiro de 1901. Portanto, neste quesito não somos originais. E naqueles dias não havia nem computadores e muito menos bug do milênio para complicar.

Para entender a contagem dos tempos na história, nada melhor que um pouco de história. Foi Dionísio, "O Exíguo", quem estabeleceu o início da Era Cristã, quando fixou o nascimento de Jesus Cristo no dia 25 de dezembro do ano 753 da fundação de Roma (753 AUC). Com isso, o ano seguinte seria o ano 1 depois de Cristo, o nosso conhecido 1 d. C ou a expressão latina 1 A.D. (Anno Domini ou no Ano do Senhor). Para alguns, o bom monge Dionísio teria cometido pelo menos dois erros. O primeiro, baseado no evangelho de Lucas, no que toca ao aviso dos pastores no campo, por ocasião do nascimento de Cristo. Pouco provável em pleno inverno do Hemisfério Norte. Agosto e não dezembro seria o mês mais de acordo com essa passagem. Há também o evangelho de Mateus que cita o nascimento de Jesus durante o reinado de Herodes. Pela história, considerando a data estabelecida por Dionísio, o rei Herodes teria morrido no ano 4 a.C (4 anos antes de Cristo, portanto). E tudo isso consta em obras com o "nihil obstat". Os possíveis equívocos de Dionísio são compreensíveis. Ele fez isso por volta do ano 532, no século VI. E havia também o interesse da Igreja em substituir a festa do "Sol Invicto", estabelecida pelo imperador Aureliano, pela festa do nascimento de Jesus. A Era Cristã acabou sendo aprovada oficialmente pela Cúria Romana, somente no século X.

Pela contagem dos tempos com base no começo da Era Cristã se constata que não houve ano zero. O começo da contagem é o ano 1, até porque não havia o zero nos números romanos usados na época. Por isso, quer gostemos quer não, o século XX termina em 31 de dezembro de 2000 e o novo milênio, consequentemente o século XXI, começa em 1 de janeiro de 2001.

Como não tem jeito, resignemo-nos irmãos e entremos nessa orda de adoradores do y2k, mas conscientes. Se não conseguiu entender, console-se. Não está sozinho. Há um ditado que diz: "quando o primário foi mal feito, não existe titulação de Ph. D. que dê jeito". Mas pelo amor de Deus, não culpe a professorinha. Ela já paga com folga todas as suas culpas, erros e omissões no fim de cada mês, no contra-cheque. Provavelmente, enquanto ela explicava a contagem dos tempos na história, você pensava em comer laranjas. (Ao dr. Gerardo Arias, pela sugestão do tema e referências históricas, os agradecimentos do signatário).


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