Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-638X
Pesquisa em Andamento Online
Nº 5, dez./99
Comportamento da temperatura do solo gramado, a 5 cm de profundidade, no estado do Rio Grande do Sul
Jaime Ricardo Tavares Maluf 1
Ronaldo Matzenauer 2
Márcia Rodrigues Caiaffo 3
Aristides Câmara Bueno 4

A antecipação da época de semeadura das culturas de verão para os meses de julho, agosto e setembro é uma técnica importante empregada para evitar a coincidência do período crítico das culturas (floração e enchimento de grãos) com o período de menor disponibilidade hídrica no estado (novembro-fevereiro), minimizando, dessa forma, os efeitos negativos da deficiência hídrica. Desta maneira, é importante o conhecimento das regiões onde a temperatura do solo gramado, a 5 cm de profundidade, nos meses de julho, agosto e setembro, apresente valores que proporcionem germinação para população de plantas dentro das recomendações, em sistema plantio direto, sem que as sementes sofram danos por período longo de permanência no solo.

A temperatura de solo, a 5 cm de profundidade, apresenta grande importância no processo de germinação de sementes, na duração do subperíodo fenológico semeadura-emergência e no início da formação do sistema radicular. Nas regiões de clima temperado e subtropical, para semeadura de culturas de verão no cedo, a temperatura de solo é um dos fatores mais importantes. O Rio Grande do Sul, enquadrado nessa condição climática, apresenta considerável variabilidade em seu regime térmico, principalmente entre regiões, o que determina diferença acentuada no início da semeadura entre regiões. Das regiões mais quentes para as mais frias, é possível haver diferenças de até 60 dias para inicio da semeadura.

Vários autores têm demonstrado a possibilidade de se estimar a duração do subperíodo semeadura-emergência pelo conhecimento da temperatura de solo. Matzenauer et al. (1982), em trabalho com a cultura de milho realizado na região da Depressão Central do estado, com o objetivo de avaliar o efeito da temperatura de solo na duração do subperíodo semeadura-emergência, usaram semeaduras contínuas de 15 em 15 dias, com e sem irrigação, durante o período de julho de 1981 a abril de 1983. Verificaram, no trabalho em campo, que não ocorreram registros de emergência com temperatura de solo, a 5 cm de profundidade, inferior a 16 °C e superior a 31 °C. Observaram que, a medida que aumentou a temperatura de solo, diminuiu a duração do subperíodo semeadura-emergência, e a maioria dos registros encontrava-se na faixa de 26 °C a 30 °C. Esses autores elaboraram correlações entre a temperatura de solo durante o subperíodo semeadura -75 % de emergência e a duração em dias do subperíodo. Concluíram que os coeficientes de determinação foram muito significativos, indicando elevado grau de associação entre as duas variáveis e mostrando a possibilidade de se estimar a fase fenológica emergência, a partir da temperatura de solo.

A regularidade do regime pluvial, para as culturas de verão, é um fator determinante de altos rendimentos. O estado do Rio Grande do Sul caracteriza-se por apresentar um regime pluvial com grande variabilidade, tanto em quantidade como em distribuição, principalmente nos meses de primavera e verão (INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS, 1989). Em geral, a precipitação pluvial ocorrida nesse período é insuficiente para atender às necessidades hídricas das culturas, o que pode ser verificado por meio do balanço hídrico da normal climatológica 1912-75 (Maluf et al., 1981). Outro fator que agrava a disponibilidade de água, em situação de estiagem, são as condições atuais dos solos do estado, com baixos teores de matéria orgânica, má estruturação, alta compactação na camada de distribuição de raízes, impedindo a penetração destas (abaixo de 20 cm). Esses fatores diminuem a capacidade de armazenagem de água dos solos e conseqüentemente a disponibilização às culturas.

Berlato (1970), em análise estatística da precipitação anual do Rio Grande do Sul, mostra que, na média de todo o estado, a freqüência de anos considerados secos é maior que a de anos considerados chuvosos, na proporção de 14 % e 10 %, respectivamente, e em algumas regiões do estado, como o Baixo Vale do Rio Uruguai e parte oeste da Campanha, a freqüência média de anos secos atinge 20 %. Baseado na análise das séries, esse autor constata que é grande a variabilidade da precipitação mensal de um ano para outro. Constata ainda que a estiagem nos meses de janeiro e fevereiro é um fenômeno meteorológico adverso que faz parte das características do estado, pois ocorreu ao longo do período de 77 anos de observações analisadas.

Segundo Ávila (1994), a probabilidade de a precipitação pluvial superar a evapotranspiração potencial nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, em praticamente todo o estado, é inferior a 60 %, determinando, com isso alta freqüência de ocorrência de deficiência hídrica. Desta maneira, a coincidência do período crítico das culturas (floração e enchimento de grãos) com o período de menor precipitação pluvial, e conseqüentemente de maior deficiência hídrica, principalmente nas regiões mais quentes do estado, onde é mais acentuada e ainda agravada pela alta demanda evaporativa da atmosfera, acarretará necessariamente uma queda da produtividade, e até mesmo rendimentos nulos em alguns anos.

Considerando esses aspectos, o presente trabalho tem como objetivo identificar regiões do estado do Rio Grande do Sul que apresentem condições favoráveis de temperatura do solo gramado, a 5 cm de profundidade, para início da semeadura de culturas de verão, em sistema plantio direto, nos meses de julho, agosto e setembro. Para tal, realizaram-se levantamento, cálculo e análise da temperatura do solo gramado, à profundidade de 5 cm, de 29 localidades do estado (Tabela 1). Os dados de temperatura de solo foram obtidos dos registros de geotermômetros, com leituras realizadas às 9, 15 e 21 horas (horário de Brasília), pertencentes à rede de estações agrometeorológicas da Equipe de Agrometeorologia da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária - FEPAGRO/SCT/RS. Foram usadas observações do período de 1960 a 1998. Tomaram-se dados diários de temperatura de solo nas três leituras, realizando-se a média aritmética para obtenção da média diária. Foi calculada a média por decêndio para os meses de julho, agosto e setembro, obtendo-se, dessa forma, médias de nove decêndios (Tabela 2).

Com base nos trabalhos de Matzenauer et al. (1982), de Matzenauer et al. (1983) e de Maluf & Matzenauer (1995), considerou-se a temperatura do solo gramado, a 5 cm de profundidade, de 16 °C como a temperatura a partir da qual a semeadura das culturas de verão apresenta germinação satisfatória e homogênea para uma população de plantas desejável.

Analisando-se a temperatura do solo gramado, a 5 cm de profundidade (Tabela 2), verifica-se que as regiões do estado que apresentam maior temperatura de solo nos meses considerados são Baixo Vale do Rio Uruguai, Missões e Depressão Central, e as regiões que apresentam menor temperatura de solo são as do Planalto, Serra do Nordeste e Serra do Sudeste, abrangendo ainda uma área da região da Campanha que se estende da Serra do Sudeste até o município de Quaraí, na fronteira com o Uruguai.

Julho é o mês em que a temperatura de solo é mais baixa, verificando-se que nas regiões mais quentes a temperatura do solo gramado, no 1º decêndio, atinge valores pouco acima de 14 °C, e nas regiões mais frias não atinge 13 °C. No 3º decêndio de julho, a temperatura de solo oscila em torno de 15 °C e 13 °C, respectivamente.

A temperatura do solo gramado no mês de agosto somente atinge valores acima de 16 °C no 3º decêndio e nas regiões mais quentes, como Depressão Central, Missões, Baixo Vale do Uruguai e Litoral Norte, possibilitando, dessa maneira, o início da semeadura. Nas demais regiões, nesse período, a temperatura do solo gramado gira em torno de 15 °C.

No 1º decêndio do mês de setembro, a possibilidade de semeadura no estado é ampliada em relação ao 3º decêndio de agosto, com a inclusão da região do Alto Vale do Uruguai onde a temperatura do solo gramado é superior a 16 °C. No 2º decêndio de setembro, além dessas, são incluídas para semeadura, no período, as regiões do Litoral Sul e Campanha. No 3º decêndio do mês de setembro, todas as regiões do estado apresentam condições de temperatura do solo gramado, a 5 cm de profundidade, satisfatórias para o processo de semeadura em sistema plantio direto.

Referências Bibliográficas

ÁVILA, A.M.H. de. Regime de precipitação pluvial no estado do Rio Grande do Sul com base em séries de longo prazo. Porto Alegre, 1994. 75 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Fitotecnia. Faculdade de Agronomia, UFRGS. 1994.

BERLATO, M.A. As condições de precipitação pluvial no estado do Rio Grande do Sul e os impactos das estiagens na produção agrícola. In: BERGAMASCHI, H. (Coord.). Agrometeorologia aplicada à irrigação. Porto Alegre, Editora da Universidade - UFRGS, 1992. p. 11-24.

INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS. Seção de Ecologia Agrícola. Atlas Agroclimático do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1989. 3v. il.: 296 mapas, 28 tab.

MACHADO, P.F. Contribuição ao estudo do clima do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: IBGE, 1950. 91 p.

MALUF, J.R.T.; CUNHA, G.R. da; GESSINGER, G.I. Agroclimatologia do Estado do Rio Grande do Sul: IV - Balanço hídrico, normal climatológica 1912-1975. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 2, 1981, Pelotas. Resumos ampliados. Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, 1981, p. 57-93.

MALUF, J.R.T.; MATZENAUER, R. Zoneamento agroclimático da cultura do milho por épocas de semeadura no Estado do Rio Grande do Sul. Boletim FEPAGRO, n.1, 75p., abril, 1995.

MATZENAUER, R.; GESSINGER, G.I.; MALUF, J.R.T. Efeito da temperatura do solo na duração do subperíodo semeadura-emergência em milho (Resultados preliminares). In: REUNIÃO TÉCNICA ANUAL DO MILHO, 27, 1982, Porto Alegre. Ata... Porto Alegre, IPAGRO/EMATER, 1982. P.31-33.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.
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2 Pesquisador da FEPAGRO/SCR/RS. Bolsista do CNPq.
3 Bolsista da UnB, FINATEC.
4 Pesquisador da FEPAGRO/SCR/RS.
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