Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-638X
Pesquisa em Andamento Online
Nº 4, dez./99
Características climáticas da região de dispersão natural de Pau Ferro (Astronium balansae Engl.) no estado do Rio Grande do Sul
Jaime Ricardo Tavares Maluf 1
Maria Sueli Soares da Costa 2
Margo Guadalupe Antônio 3
Márcia Rodrigues Caiaffo 4

A floresta nativa do Rio Grande do Sul, como em todo o Brasil, vem sendo explorada apenas de forma extrativa, exaurindo reservas e promovendo extinção ou quase extinção de espécies de reconhecido valor econômico. Dentre as inúmeras espécies nesta condição, encontra-se Astronium balansae Engl. popularmente conhecido como pau ferro. Esta espécie ocorre na região geobotânica do Chaco, entre Argentina e Rio Grande do Sul (Morello, 1959; Shultz, 1953 e Fleig, 1979 citados por Beltrão et al., 1985). No Rio Grande do Sul cresce como espécie dominante ou formando bosques quase puros em solos pedregosos (Beltrão, et al., 1985). É árvore que pode alcançar 25 m de altura e 1,30 m de diâmetro. Sua madeira é pesada (1.100 kg/m³), dura, resistente à flexão e de ótima durabilidade mesmo submersa em água. No Estado sua madeira vem sendo utilizada principalmente como postes, dormentes e mourões para cerca. Pela sua utilidade, o pau ferro vem sofrendo intensa exploração extrativa, restando populações densas somente em grandes propriedades; em zonas de minifúndio está em acelerado processo de extinção. Em muitos locais restam somente informações sobre sua ocorrência e usos (Beltrão et al., 1985).

A ocorrência de pau de ferro no estado, segundo levantamento (1985-89) efetuado pelo "IPRN AP" SAA - RS, restringe-se a algumas áreas das regiões climáticas do Baixo Vale do Uruguai, Médio e partes do Alto Vale do Uruguai, Depressão Central e Missões (Figura 1).

É consenso a reconhecida importância econômica da espécie e a necessidade de evitar seu desaparecimento. Os órgãos oficiais estatais e federais apoiam iniciativas neste sentido, e para tanto é necessário conhecimento de forma global da espécie e de seu meio ambiente; da espécie através de sua fenologia, de técnicas silviculturais e de manejo, e do meio ambiente, através da caracterização climática das áreas de dispersão.

Alguns trabalhos foram realizados no sentido de descrever a dispersão de espécies nativas, sua associação, comportamento e caracterização ambiental, citando-se como exemplo os trabalhos realizados com Araucária angustifolia (Bert) O. Ktze. Oliveira (1948) descreveu as "regiões de ocorrência normal" de Araucária angustifolia, assim como Hueck, 1953, citado por Maluf (1973), a "distribuição e habitat natural" desta espécie, e Shimoya, 1962 citado por Maluf (1973), realizou estudos sobre fenologia da mesma. Maluf (1973) realizou estudos sobre dispersão natural de Araucaria angustifolia e sua distribuição no mundo como espécie exótica, caracterizando climaticamente estas regiões. Com a relação entre dados de rendimento na origem e nos locais do mundo onde é cultivada e a avaliação e caracterização climática destes locais, estabeleceu índices utilizados para zoneamento ecológico da araucária.

O presente trabalho tem como objetivo caracterizar climaticamente a região de dispersão natural do pau ferro no estado do Rio Grande do Sul, fornecendo subsídios aos trabalhos de florestamento e reflorestamento.

Foi usado como base levantamento da ocorrência de pau ferro no Rio Grande do Sul, realizado no período de 1985-1989 pelo "IPRNR AP" SAA-RS (Figura 1). As médias e somas dos elementos meteorológicos foram extraídas do Atlas Agroclimático do Estado do Rio Grande do Sul (1989). Os elementos do clima analisados foram temperatura média, temperaturas médias das máximas e mínimas, temperaturas máximas e mínimas, precipitação pluvial e sua distribuição, umidade relativa do ar, somas térmicas, baseados na normal climatológica 1931-1960, e as médias e somas de radiação solar, insolação, evaporação e regime de frio baseados na série 1957-1984, por existirem somente neste período. Da temperatura média, foram usados dados calculados pelo método denominado média compensada:

T =
t9 + 2 . (t21) + tmax + tmin
5
onde:
t9 = temperatura do ar às 9 horas (°C)
t21 = temperatura do ar às 21 horas (°C)
tmax = temperatura máxima do ar (°C)
tmin = temperatura mínima do ar (°C)

Utilizou-se valores de deficiência hídrica calculados pela tabela de retenção de umidade do solo de 300 mm (Maluf et al., 1981). O regime frio foi baseado no período de maio a setembro, cotando-se número de horas de frio abaixo de 10 °C (Didoné et al., 1987). Os valores de somas térmicas utilizados, foram calculados considerando-se a temperatura base de 10 °C (Maluf et al., 1986). Na Tabela 1 estão relacionadas estações meteorológicas que geraram os dados meteorológicos analisados.

Nas Tabelas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 são apresentadas médias e somas dos elementos meteorológicos, deficiências hídricas, horas de frio e somas térmicas, de locais situados na região de dispersão de pau ferro e proximidades.

Através da representação espacial das temperaturas verifica-se que a espécie tem sua dispersão na região mais quente do Estado. A temperatura média anual varia de 17,9 °C a 20,1 °C. O mês mais quente é janeiro com média das máximas, variando de 30,6 °C a 33,1 °C, e o mês mais frio é julho com temperatura média das mínimas variando de 8,2 °C a 9,6 °C. No mês mais quente as máximas variam de 39,5 °C a 42,4 °C e no mês mais frio as mínimas chegaram a -6,4 °C.

A análise da precipitação pluvial na região demonstra variação de 1.400 a 1.600 mm anuais, podendo alcançar 1.700 mm no extremo norte da região. O mês mais chuvoso é outubro e o menos chuvoso é agosto, com média na região de 171 mm e 107 mm respectivamente. A distribuição de chuva pode ser considerada razoável, com valores médios de 84 a 100 dias anuais. O outono é a estação do ano com maior precipitação pluvial, variando de 400 mm a 450 mm, com distribuição média de 18 a 24 dias de chuva na região.

A umidade relativa do ar média anual na região é das mais baixas do estado, variando de 72 a 75 %, chegando a 80 % no extremo norte da região de dispersão. A evaporação média anual varia de 1.200 a 1.500 mm, acentuando-se nos meses de verão, quando atinge valores médios de 130 a 160 mm mensais.

Os valores de deficiência hídrica, para capacidade de retenção de água no solo de 300 mm não são altos, variando de 13 a 59 mm anuais, sendo que os maiores valores verificam-se nos meses de dezembro a março e com maior intensidade em fevereiro.

A radiação solar global média anual está em torno de 360 cal.cm-2.dia-1 situando-se dentro da média do estado. Os maiores valores médios mensais verificam-se nos meses de dezembro e janeiro quando a radiação alcança valores em torno de 510 cal.cm-2.dia-1. O número de horas com brilho solar (insolação) atinge valores anuais de 2.400 a 2.600 horas.

A região de dispersão de pau ferro apresenta os mais altos valores de soma térmica em relação ao restante do estado, com variação média anual de 3.150 °C a 3.900 °C. Como é normal, o mês mais quente apresenta maiores valores médios mensais, variando de 437 °C a 514 °C de graus dia acumulados.

O regime de frio, que é o mais baixo do estado, apresenta-se com valor que varia de 350 a 600 horas de frio, no período maio a setembro.

Desta maneira verifica-se que pau ferro está disperso em uma região que apresenta-se como mais quente do estado, com boa quantidade e distribuição razoável de chuvas, os mais baixos valores de umidade relativa do ar, valores de deficiência hídrica que não comprometem a espécie, altos valores de radiação solar e insolação, os mais altos valores de somas térmicas do estado e menor regime de frio.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.
   Fone (0xx54) 311-3444. Fax: (0xx54) 311-3617. E-mail:
maluf@cnpt.embrapa.br
2 Pesquisador do Instituto de Pesquisa de Recursos Naturais Renováveis/Fundação de Pesquisa Agropecuária-Secretaria da Agricultura e Abastecimento - RS
3 Pesquisador do IPRNR/FPA-SAA-RS
4 Bolsista UnB/FINATEC. Rua Gonçalves Dias 570. CEP 90130-060, Porto Alegre, RS
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