Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-638X
Pesquisa em Andamento Online
Nº 2, dez./99
Reação de linhagens de trigo de sigla PF ao crestamento em testes de campo
Cantídio Nicolau Alves de Sousa 1

A ocorrência de solos ácidos é uma constante em todas as unidades da federação onde o trigo é cultivado no Brasil. Nesses solos ácidos pode ocorrer o crestamento do trigo, em virtude, principalmente, da toxicidade do alumínio (Araújo, 1951). Dessa maneira, a resistência/tolerância ao crestamento é um importante fator na adaptação de cultivares de trigo às condições de cultivo no Brasil e um objetivo geral no melhoramento desse cereal no Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, da Embrapa (Embrapa Trigo), em Passo Fundo, RS, Brasil assim como o fora na Estação Experimental de Passo Fundo, pertencente ao Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Sul.

Em decorrência das atividades de melhoramento genético, foram desenvolvidas linhagens de trigo em Passo Fundo, que tomaram a sigla PF. As linhagens PF de numeração final 1001 a 1999 são referentes a introduções realizadas de outros países e as de final 2001 a 2999 são referentes a resseleções em cultivares fixas. Várias linhagens PF foram usadas em cruzamentos em diversos programas de melhoramento, muitas foram colocadas no banco de germoplasma de trigo e algumas delas transformaram-se em cultivares recomendadas no Brasil. Mediante testes de coleções, essas linhagens e cultivares de trigo foram avaliadas quanto à reação ao crestamento de trigo em condições de campo com alto teor de alumínio (Al) trocável, na área experimental da Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS. Os solos apresentaram pH entre 4,2 e 4,9 e 25 a 43 mmol de Al trocável/dm3 de solo.

Foram dadas notas, de 0,5 (altamente resistente) a 5 (altamente suscetível), referentes aos sintomas de crestamento por parcela, conforme a metodologia de Sousa (1998), aprimorada a partir de Sousa et al. (1984). O índice médio de suscetibilidade ao crestamento (ISC) foi calculado em função das observações realizadas em Passo Fundo no período de 1975 a 1998. Salvo poucas exceções, são apresentadas informações apenas das linhagens avaliadas por mais de dois anos, totalizando 185 genótipos. Foram calculadas as médias das observações por ano e, depois, a média dos anos. De acordo com os índices obtidos, as cultivares recebem a classificação de altamente resistentes a altamente suscetíveis, segundo o critério a seguir: altamente resistente (índice de 0,50 a 0,80), resistente (0,81 a 1,50), moderadamente resistente (1,51 a 2,50), moderadamente suscetível (2,51 a 3,50), suscetível (3,51 a 4,50) e altamente suscetível (4,51 a 5,00).

Nas condições em que o teste foi realizado, a cultivar Anahuac 75, testemunha suscetível ao crestamento, apresentou desenvolvimento deficiente a muito deficiente, com raízes atrofiadas e folhas amarelecidas, formando espigas rudimentares com poucas espiguetas ou mesmo sem a formação destas.

Na Tabela 1 são apresentados os dados médios obtidos em relação ao índice de reação e a conseqüente classificação, referente à reação média ao crestamento, apresentados pelas linhagens de sigla PF. São incluídas informações sobre período de observação e número de anos de observação e assinaladas as linhagens que se transformaram em cultivares recomendadas no Brasil. Considerando a reação ao crestamento, uma cultivar foi incluída na categoria altamente resistente, 75 na categoria resistente, 76 na categoria moderadamente resistente, 28 no grupo moderadamente suscetível e 5 no grupo suscetível.

Na Tabela 2 são apresentados dados das linhagens PF que se transformaram em cultivares recomendadas para cultivo no Brasil, com informação do nome da cultivar e da linhagem, ano inicial de recomendação, unidade da federação onde a cultivar foi ou é recomendada e reação ao crestamento.

Apresentaram reação resistente ao crestamento as seguintes cultivares: BRS 49, CNT 1, CNT 3, CNT 5, CNT 6, Embrapa 15, Embrapa 16, Embrapa 24, Embrapa 52, IAS 64, Trigo BR 1, Trigo BR 4, Trigo BR 7, Trigo BR 8, Trigo BR13, Trigo BR 14, Trigo BR 15, Trigo BR 19, Trigo BR 20-Guató, Trigo BR 23, Trigo BR 25, Trigo BR 28, Trigo BR 32, Trigo BR 35, Trigo BR 37 e Trigo BR 43.

Foram incluídas na categoria moderadamente resistente as seguintes cultivares: BRS 119, BRS 120, BRS 176, BRS 177, BRS 179, CNT 7, Embrapa 27, Embrapa 40, MG 1, Trigo BR 2, Trigo BR 3, Trigo BR 5, Trigo BR 16-Rio Verde, Trigo BR 18-Terena, Trigo BR 21-Nhandeva, Trigo BR 22, Trigo BR 24, Trigo BR 27, Trigo BR 34 e Trigo BR 38.

As cultivares Trigo BR 36-Ianomami e Trigo BR 42-Nambiquara apresentaram comportamento semelhante ao de Anahuac 75 e foram incluídas na categoria suscetível.

Na Tabela 3 são apresentados um resumo da reação ao crestamento das linhagens de trigo de sigla PF por grupos de materiais e a média do índice de suscetibilidade ao crestamento (ISC). As linhagens da década de 70, junto com algumas da década de 60, apresentaram ISC menor (1,47) do que o da década de 80 ou da de 90, o que indica a seleção de genótipos mais resistentes naquele período. Dentro desse grupo, a categoria resistente foi a mais representada (34 em 50 linhagens testadas). O fato de o ISC ter aumentado, comparando-se a década de 70 com a de 80, pode estar ligado à ampliação do trabalho de pesquisa de cultivares em Passo Fundo, com o início do trabalho da Embrapa Trigo em 1975 e o desenvolvimento de cultivares para áreas sem problema com alumínio trocável em algumas regiões tritícolas no Brasil. Em relação às linhagens selecionadas na década de 80, o ISC foi de 2,00, e a categoria moderadamente resistente, a mais representada. Ocorreu grande prevalência de linhagens na categoria moderadamente resistente, em relação às linhagens selecionadas da década de 90 (24, em 31 linhagens testadas). Treze linhagens PF, provenientes de seleções em materiais fixos, apresentaram ISC de 1,28, indicando a presença de várias linhagens resistentes ao crestamento. Nesse grupo estava a linhagem PF 802014, proveniente de seleção realizada na cultivar Toropi, a única conceituada como altamente resistente ao crestamento. Nas 12 linhagens PF, provenientes de introduções, o ISC foi de 2,74 e verificou-se a dominância de linhagens moderadamente suscetível ao crestamento.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.
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