Embrapa Trigo

Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

29


A variabilidade genética como fator fundamental aos programas de melhoramento vegetal

A domesticação de plantas selvagens ocorreu antes do surgimento da agricultura, através de uma longa co-evolução com o homem. Primeiramente, elas foram trazidas às proximidades das casas e serviam àqueles que nelas habitavam. Após, foi iniciado propriamente o cultivo e, assim, todas as atividades que envolviam cuidados com a planta, como preparo de solo, irrigação, eliminação de plantas daninhas etc. Dessa forma, o melhoramento genético já acontecia desde os primórdios da humanidade, pois o homem primitivo selecionava para o plantio as plantas mais vigorosas, as mais produtivas, as que não possuíam debulha natural, isto é, as melhores variantes existentes na natureza. Essas primeiras populações melhoradas deram origem às chamadas de "landraces", ou variedades crioulas, sendo a base das cultivares atuais (Baggio, 1999).

Contudo, o homem domesticou, deste a sua história ligada ao melhoramento genético, somente cerca de 100 a 200 milhares de espécies vegetais, destacando-se os cereais (arroz, trigo, milho, sorgo e cevada), as raízes e os caules (beterraba, cana-de-açúcar, batata, mandioca e inhame), os legumes (feijões, soja e amendoins) e as frutas (citros e banana), as quais são responsáveis pelo suprimento da maior parte da dieta humana. Fica evidente, desta forma, que o homem explora apenas uma parcela muito pequena da biodiversidade existente no planeta (Universidade, 2000)

Como exemplo, destaca-se o trigo de panificação, no qual, seja considerado uma espécie de ampla base genética, contendo três genomas distintos, a pressão de seleção exercida pelos melhoristas tem contribuído para crescente redução na variabilidade genética. Além disso, genes localizados em genomas distintos têm o poder de neutralizar a expressão e a manifestação de outros genes, dificultando o ganho genético através de seleção. A erosão genética está ocorrendo em virtude de substituições das variedades crioulas por cultivares mais produtivas e de maior grau de uniformidade genética e, também em razão do uso recorrente de poucos genes, como aqueles que conferem resistência a doenças, genes de nanismo e de insensibilidade ao fotoperíodo (Bered, 2000).

O melhoramento de plantas tenta explorar a variabilidade genética existente dentro de cada espécie, mas tem apresentado limitações por causa do rápido aparecimento de patógenos e seus mutantes. Recursos genéticos adicionais têm sido requeridos para preencher as necessidades de geração de variabilidade, imprescindível no combate a doenças que estão ressurgindo. A exploração de espécies afins de plantas cultivadas é uma das maneiras de introduzir genes adicionais em variedades cultivadas, pois o processo de domesticação e a seleção artificial impostos pelo homem têm contribuído para a perda da biodiversidade, fenômeno denominado erosão genética (Universidade, 2000).

A seleção de genitores e a caracterização da variabilidade genética existente são decisivas para o incremento de eficiência em programas de melhoramento, pois uma das principais necessidades do melhorista é a identificação de plantas que possuam genes superiores em uma progênie segregante. O processo genético mediante da seleção em populações segregantes é diretamente proporcional à variabilidade genética disponível e à freqüência de genótipos superiores existentes nas populações. O estreito relacionamento genético entre variedades cultivadas, como trigo, aveia e cevada, assim como a dificuldade de se efetuar grande número de cruzamentos, especialmente em espécies autógamas, sugere a necessidade de cruzar genótipos que apresentam divergência genética. Desse modo, a classificação de genitores em grupos heteróticos e a realização de cruzamento entre tipos geneticamente distintos podem contribuir para a ampliação da variância genética em populações segregantes (Barbosa-Neto & Bered, 1998).

Portanto, no processo evolutivo das espécies utilizadas pelo homem para a produção agrícola, a variabilidade genética é fundamental para a obtenção de êxitos na seleção e no ajuste genético de genótipos às condições de ambiente. Sem variabilidade genética e sua interação com o ambiente é impossível a obtenção de genótipos superiores através de melhoramento genético (Barbosa-Neto & Bered, 1998).


Documentos Online Nº 29Documentos Online Nº 29 Publicações OnlinePublicações Online

Copyright © 2002, Embrapa Trigo