Embrapa Trigo

Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

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Resultados e Discussão
O trigo BRS 176, recomendado para plantio antecipado visando à produção de grãos na região centro-sul do Paraná, tem ciclo considerado tardio para esse estado (IAPAR, 2002). Com base nas curvas características do Índice Heliotérmico de Geslin para o subperíodo emergência-espigamento, BRS 176 foi enquadrado no grupo bioclimático semitardio (Cunha et al.,1997). No período 1994-97, essa cultivar apresentou, em Guarapuava, média de 98 dias da emergência ao espigamento, comparativamente a 88 dias de Trigo BR 23 no mesmo subperíodo. A cultivar BRS 176 apresenta hábito vegetativo intermediário, coloração da aurícula heterogênea, altura média de planta (100 cm em Guarapuava), folha bandeira ereta, espiga fusiforme, aristada e clara e grão vermelho, ovalado, com textura suave. Comporta-se como moderadamente suscetível ao acamamento, resistente à debulha natural e moderadamente resistente à germinação na espiga e ao crestamento. Relativamente ao comportamento para ferrugem da folha, mostra suscetibilidade, ou desuniformidade, em plântula, sob condições controladas, à maioria das raças, que se expressa em níveis mais baixos em condições de campo. É resistente à ferrugem do colmo em campo e a todas as raças dessa doença em plântula, sob condições controladas. Para oídio, é suscetível em condições controladas e moderadamente resistente em campo. Apresenta reação moderadamente suscetível para septoriose da gluma e para giberela, suscetível para o vírus do nanismo amarelo da cevada e moderadamente resistente para o vírus do mosaico do trigo. Foi classificada preliminarmente como trigo brando, com uso indicado para biscoito, confeitaria, pizza, massa tipo caseira fresca, mescla com trigo pão e/ou melhorador para panificação e/ou uso doméstico.

Relativamente às informações referentes aos testes para VCU (valor de cultivo e uso), são apresentados os testes em Guarapuava e em Carambeí, no Paraná, em ensaio de plantio antecipado para duplo propósito (forragem e grão). No período 1994-98, a cultivar apresentou, na média dos anos, rendimento de matéria seca superior ao da aveia preta Comum em 24% com um corte e em 18% com dois cortes (Tabela 1). Para rendimento de grãos, mostrou percentuais superiores à média das testemunhas precoces em 16%, 37% e 128% nos tratamentos sem corte, um e dois cortes, respectivamente (Tabela 2). Comparando especificamente com a média dos genótipos de trigo precoces sem corte (2.966 kg/ha de grãos), que é a condição normal das lavouras, apresentou rendimento médio de grãos de 3.451 kg/ha (sem corte), de 3.483 kg/ha de grãos + 1.470 kg/ha de matéria seca (um corte) e de 2.104 kg/ha de grãos + 2.506 kg/ha de matéria seca (dois cortes).

Com base nesses dados, BRS 176 foi indicado em 1999 para cultivo em plantio antecipado visando à produção de grãos na região 8 do Paraná (VCU), que compreende as atuais regiões G e H.

Atividades de validação com emprego de bovinos em pastejo de trigo, em Guarapuava e em Palmeirinha, PR, demonstraram a viabilidade da prática, com rendimento de grãos em patamares próximos aos de áreas não pastejadas.

Informações mais detalhadas por local e ano e abrangendo anos posteriores à recomendação são fornecidas nas Tabelas 3 (matéria seca: 1 corte), 4 (matéria seca: 2 cortes), 5 (rendimento de grão sem corte), 6 (rendimento de grão: 1 corte) e 7 (rendimento de grão: 2 cortes).

Na média do Paraná, no período 1994-2001 (Tabela 3), BRS 176 mostrou rendimento médio da matéria seca com um corte, de 1.491 kg/ha, superior em aproximadamente 4% ao da aveia preta Comum (1.434 kg/ha)

Relativamente a dois cortes no período 1995-1998 (Tabela 4), com rendimento médio de 2.506 kg/ha, superou em 18% a aveia preta Comum (2.124 kg/ha).

Para rendimento de grãos sem corte no período 1994-2001, BRS 176 (Tabela 5), com rendimento médio de 3.486 kg/ha, superou em 11% a média das testemunhas trigo (3.132 kg/ha).

Nos tratamentos referentes ao rendimento de grãos com um corte, a média obtida no período 1994-2001 (Tabela 6) de 3.258 kg/ha, superou em 33% a média das cultivares de trigo precoces testemunhas (2.447 kg/ha).

Para rendimento de grãos com dois cortes, o rendimento de 2.104 kg/ha, obtido no período 1995-98 (Tabela 7), suplantou em 128% a média das testemunhas (922 kg/ha).

A adaptação da cultivar BRS 176 à região centro-sul do Paraná pode ser ilustrada pelos resultados obtidos em 2001 nos ensaios de rendimento das cultivares precoces (2º melhor rendimento do ensaio, com 6.130 kg/ha) e pelo excelente desempenho nas Faixas Demonstrativas Regionais de Cereais de Inverno conduzidas em cinco locais (Tabelas 8 e 9).

A tecnologia gerada (cultivar de trigo BRS 176) está sendo implementada na região centro-sul do Paraná, tendo potencial de atender às demandas regionais por trigo com adaptação ao plantio antecipado, menor aplicação de defensivos e adequação ao uso industrial solicitado pela indústria (biscoito) na região da FAPA. Nesse aspecto, a solicitação de BRS 176 pela indústria compradora em atendimento à qualidade requerida é corroborada pelos resultados de determinações físicas, químicas e reológicas obtidos por Gutkoski & Silveira (1999), que recomendam essa cultivar para produção de biscoitos doces.


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