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Dezembro, 2001
Passo Fundo, RS

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RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS

Erivelton Scherer Roman1

Atualmente, a principal ferramenta de controle de plantas daninhas em lavouras comerciais é o uso de herbicidas, que supera em muito todas as outras formas de controle (manual, mecânico, cultural etc.). Além de altamente eficientes, os herbicidas oferecem a possibilidade de controle em larga escala, de maneira prática, rápida e econômica.

Apesar das vantagens, o uso freqüente e indiscriminado de herbicidas com mesmo mecanismo de ação pode provocar o surgimento de plantas daninhas resistentes. Além disso, os herbicidas também podem ser tóxicos ao homem e aos animais, poluir o solo e a água e deixar resíduos nos produtos colhidos.

A resistência a herbicidas é a capacidade adquirida de uma planta em sobreviver a determinados princípios ativos, que, em condições normais, controlariam todos os indivíduos da população. Pode ser provocada por seleção natural ou ser induzida artificialmente por meio da biotecnologia.

No Brasil, até o presente, apenas quatro casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas foram comprovados: Euphorbia heterophylla (Leiteiro ou Amendoim bravo) e Bidens pilosa resistentes aos herbicidas que inibem a enzima ALS (aceto lactato sintetase), Brachiaria plantaginea (papuã ou capim marmelada) resistente aos herbicidas inibidores da enzima ACCase (acetil-coenzima A carboxylase) e, mais recentemente, Sagittaria montevidensis resistente a herbicidas aplicados na cultura de arroz. Apesar do baixo número de plantas daninhas envolvidas, esses casos são preocupantes em razão dos danos que essas plantas daninhas causam às culturas que elas infestam.

Os mecanismos que conferem resistência a herbicidas em plantas daninhas são vários. A alteração do local de ação é um mecanismo de resistência importante e significa que a molécula herbicida não consegue mais inibir o local onde o produto agia, em virtude de modificações na estrutura desse local. Assim, o herbicida torna-se incapaz de interromper o processo bioquímico de produção de compostos essenciais à vida da planta daninha e ela torna-se resistente ao produto.

A planta daninha resistente pode possuir, também, a capacidade de decompor a molécula do herbicida mais rapidamente do que as sensíveis.

Existe ainda o mecanismo da compartimentalização, em que a molécula do herbicida é conjugada com metabólitos da planta, tornando-se inativa, ou é removida das partes metabolicamente ativas da célula e armazenada em locais inativos, como o vacúolo. Como conseqüência da conjugação e da compartimentalização, a absorção e a translocação do herbicida são alteradas, e, assim, a quantidade do herbicida que atinge o local de ação é reduzida, não chegando a ser letal à planta.

A resistência pode ser cruzada ou múltipla. A resistência cruzada ocorre quando um biótipo é resistente a dois ou mais princípios ativos com o mesmo mecanismo de resistência. A resistência múltipla ocorre quando as plantas resistentes possuem dois ou mais mecanismos distintos que conferem resistência a herbicidas de diferentes grupos químicos.

A constatação do problema de resistência numa determinada área é demorada e, via de regra, só ocorre depois que as plantas resistentes já estão disseminadas em considerável parte da lavoura.

A identificação da resistência em plantas que sobrevivem aos tratamentos com herbicidas é um aspecto importante para o manejo da resistência. Se um tratamento com herbicida está perdendo eficácia, pode ser que a causa seja resistência a ele. Biótipos resistentes ocorrem, geralmente, em manchas, que aumentam de ano para ano.

O gerenciamento da resistência não significa apenas corrigir um problema que já aconteceu, mas também prevenir para que ele não ocorra. Com fundamento nessa filosofia, existem algumas ações a serem tomadas antes do surgimento de qualquer forma de resistência, de forma preventiva.

A rotação de herbicidas ou o uso de misturas de herbicidas com diferentes mecanismos de ação são medidas para prevenir e minimizar o problema da resistência. Já rotação de culturas e uso de sementes de alta qualidade são medidas preventivas. O uso de sementes de qualidade é uma forma de prevenir a introdução de sementes de plantas resistentes na propriedade, além de promover desenvolvimento mais vigoroso da lavoura, o que facilita o fechamento do dossel de plantas e o controle cultural de plantas daninhas.

Quando houver suspeita da ocorrência de resistência a herbicidas, deve-se procurar comprovar o problema, certificando-se que as plantas daninhas sobreviventes não são escapes do controle, ou re-infestações. Considerando todas as espécies de plantas daninhas presentes na lavoura, deve-se verificar se o escape ocorreu com várias espécies ou com apenas uma. Se for com apenas uma, verificar, também, se existem casos conhecidos de resistência dessa planta a esse grupo de herbicidas. Outro aspecto a ser considerado é a freqüência com que o herbicida tem sido usado e se o mecanismo de ação do produto escolhido para controle vem sendo usado repetidamente na propriedade, mesmo sendo adotada rotação de culturas. Aspectos relacionados à tecnologia de aplicação também devem ser verificados, como, por exemplo, se a aplicação em si foi adequada quanto a horário, volume de aplicação, dose, condições do pulverizador, estádio de desenvolvimento da planta daninha no momento da aplicação do herbicida, condições climáticas etc.

A integração de vários métodos de controle, como o uso de resíduos culturais, juntamente com o emprego de herbicidas alternativos e, no futuro, de cultivares tolerantes ou resistentes a herbicidas, é o ideal para prevenir e manejar o problema. As cultivares, geneticamente ou por outro mecanismo modificadas, proporcionarão uma série de vantagens em termos de controle de plantas daninhas. Entre elas, a possibilidade do uso de herbicidas considerados até o momento não-seletivos, como glyphosate e imazapyr. O uso desses herbicidas constituirá alternativa adicional, que resultará na redução dos custos de controle de plantas daninhas, além de permitir maior rotação de herbicidas quanto ao mecanismo de ação. Além disso, possibilitarão maior flexibilidade no uso de herbicidas, quanto à aplicação e maior segurança para o ambiente.

Figura 1


1Ph. D. Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. eroman@cnpt.embrapa.br

 


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