Embrapa Trigo Documento Online Nº 5, dez./00

Que representam para a economia?

Em 1986, foram liberadas para testes as primeiras plantas transformadas, simultaneamente, nos Estados Unidos e na França. Já em 1991, houve 141 liberações nos Estados Unidos, 83 na França, 52 no Canadá, 42 na Bégica, 19 no Reino Unido, uma na Austrália e uma na China, no total de 390 em todo o mundo. É evidente o domínio das empresas americanas em relação às européias.

A liderança biotecnológica dos países centrais da economia mundial tem uma base sólida e antiga em investimentos públicos e privados em ciências básicas: botânica, genética, bioquímica, biofísica, fisiologia, entre outras. Há também massa crítica, continuidade, agilidade para mudanças e direito de propriedade para produtos e processos.

No Brasil, país economicamente periférico, os investimentos em ciência e educação tem sido descontínuos; a interdisciplinaridade e a interinstitu-cionalidade, indispensáveis para o sucesso das novas biotecnologias, ficam prejudicadas pelas dificuldades em formar e manter equipes, pela falta de agilidade quanto a parcerias, inclusive em ciência e tecnologia. Além disso, temos uma tradição de separação entre a pesquisa tecnológica, em geral considerada excessivamente pragmática, e a chamada pesquisa científica básica, quase sempre considerada excessivamente acadêmica.

Além de a comunidade científica e tecnológica aceitar as mudanças, é necessário mudar com agilidade, não apenas absorvendo isoladamente os novos métodos, mas, principalmente, criando novas sínteses entre o novo e o antigo. O preço da estagnação é a dependência e/ou exclusão econômica, conseqüência do analfabetismo tecnológico, como aconteceu na informática.

Que é novo e polêmico? A apropriação comercial dos produtos e dos processos biológicos. O problema é legal, social e ético. Os danos da poluição química e física certamente foram e são maiores. Mais assustadoras ainda são as biotecnologias para a guerra, sobre as quais nada se sabe.

Para obter resultados significativos, quem são considerados aliados e quem são competidores? A interação dos cientistas e técnicos ligados à agropecuária e à medicina com biólogos celulares e moleculares necessita ser intensificada. Nossos cientistas acadêmicos, cujo número é várias vezes menor que o de nossas necessidades, não têm tradição de visão empresarial, e poucos agrônomos e médicos têm atração pela ciência básica. Grande parte dos recursos humanos já capacitados, mestres e doutores em biologia molecular e celular, formados no país e no exterior, com recursos públicos, ao invés de serem urgentemente absorvidos, perambulam humilhados e desmotivados pelo país à procura de estágios temporários ou contratados por universidades particulares sem infra-estrutura e equipes para que possam colocar a serviço do país os conhecimentos obtidos em seus cursos de pós-graduação.

Somos o país que mais investiu na formação de futuros cientistas, mestres e doutores, em termos mundiais, nos últimos 20 anos. De acordo com declarações de dirigentes do Ministério de Ciência e Tecnologia, o número de bolsas de pós-graduação, a partir de 1998, não mais cresceria, embora tenhamos apenas 35 empresas de Biotecnologia enquanto os Estados Unidos têm 1.000. Em vez de lutar por uma política pública de absorção, a cultura do desperdício manifesta-se, também, em relação à competência que o próprio governo pagou para criar: os cérebros. Zeferino Vaz, criador da Unicamp, priorizou, em 1981: cérebros, cérebros, cérebros, bibliotecas, equipamentos, prédios...

O Rio Grande do Sul é o terceiro estado do Brasil em investimentos em ciência e tecnologia, mas a FAPERGS ainda não recebe o 1,5% do orçamento do Estado, garantido pela constituição. A maioria de instituições similares de outros estados estão em pior situação, com exceção da FAPESP, considerada um dos suportes mais importantes da distância entre o desenvolvimento de São Paulo em relação ao restante do país...

O professor Warwick Kerr, cientista e educador brasileiro, conta que, em 1902, Charles William Eliott, a pedido do presidente, promoveu a melhoria de planos educacionais dos Estados Unidos e propondo o estabelecimento de cursos de pós-graduacão. Theodore Roosevelt achou o plano muito caro, ao que Elliot replicou: "Se você acha a Educacão cara, experimente o preço da Ignorância."


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