Embrapa Trigo Documento Online Nº 5, dez./00

A história das plantas

Na área de produção vegetal, diferentemente das bactérias, a manipulação de células e moléculas está permitindo tantas e tão variadas aplicações, em plantas cultivadas, que os europeus preferem usar o termo novas biotecnologias, em vez de biotecnologia ou engenharia genética, usados pela microbiologia.

A micropropagação para a limpeza clonal, por exemplo, é uma biotecnologia despoluidora: permite produzir mudas de batata e de morango, entre outras, livres de vírus, evitando tratamentos com agroquímicos, aumentando os rendimentos e causando menor risco à saúde e ao ambiente. No Rio Grande do Sul, essa biotecnologia aumentou em quatro vezes o rendimento de morango, além de ter diminuído o uso de defensivos. O resultado da limpeza clonal da batata pode ser visualizado pela aparência atual do produto.

Em 1991, um cientista de uma universidade da Alemanha, que trabalhava em micropropagação, relatou, em visita a Porto Alegre, que não podia executar suas pesquisas porque as plantas, geradas em meios de cultura, estavam ameaçadas de destruição por grupos radicais. O motivo alegado era o trauma resultante de manipulações genéticas efetuadas por médicos nazistas nos prisioneiros judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Havia, portanto, uma interpretação equivocada do significado da expressão "manipulação genética", que não se justifica no caso das plantas micropropagadas, as quais são completamente inofensivas e muito mais saudáveis que as tratadas com químicos.

Entre as novas biotecnologias vegetais disponíveis para a agricultura, está a transformação genética equivalente à descrita para as bactérias. Como os sistemas genéticos das bactérias são muito mais simples, a transformação de plantas cultivadas foi mais complicada e havia dúvidas entre os geneticistas vegetais quanto à exeqüibilidade em organismos superiores.

Entretanto, algumas grandes corporações resolveram investir pesadamente. Falavam que a Monsanto havia contratado 1.500 doutores para adaptar o processo para as plantas e que as condições da ciência brasileira para competir eram mínimas. Essa empresa está propondo o lançamento para cultivo da primeira soja transgênica. Como resultou de investimento de empresa privada, foi engenheirada para gerar lucro para a empresa, no caso, a tolerância a herbicida glifosate da própria empresa. Na minha opinião pessoal, foi um erro de marketing: se tivessem engenheirado a soja para maior qualidade nutricional, provavelmente haveria na população mais simpatia e menos medo em relação à transgênese.

É importante não confundir o produto, no caso a soja transformada pela Monsanto, com o processo da transgênese em si, como está acontecendo no Rio Grande do Sul. Plantas transgênicas não são sinônimo de soja transgênica. A qualidade da planta transgênica depende do gene que é inserido na planta. O processo pelo qual o gene é inserido é independente do produto que vai ser sintetizado quimicamente na planta transformada.


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