Embrapa Trigo Documento Online Nº 2, dez./99

Transgênese e seu impacto como nova tecnologia

As descobertas científicas representam novos conhecimentos, os quais, em si, são neutros O progresso científico gera uma aplicação acelerada de um conhecimento imperfeito da realidade, tornando necessário que o cientista resista à tentação de extrapolar o reducionismo do método científico para a realidade, que é multifacetada. O efeito benéfico ou maléfico resulta das tecnologias que o conhecimento permite gerar e do uso adequado ou inadequado das mesmas. Não se pode atribuir ao conhecimento científico o mau ou o bom uso que humanos fazem das tecnologias que o conhecimento gera. Aí reside a diferença entre ciência e tecnologia.

O novo patamar de progresso biotecnológico alcançado pelo homem certamente é irreversível. À medida que a ciência progrediu, o alcance e os benefícios das tecnologias resultantes das novas descobertas se ampliaram, aumentando a sobrevivência dos humanos, de modo que a espécie humana se tornou o mamífero mais numeroso da face da terra, só excedida em número pelos ratos. Paralelamente, e não há como fugir disto, o potencial de efeitos negativos e do mal que pode ser feito com as mesmas tecnologias também foi ampliado, embora o mal potencial nunca tenha impedido o uso de uma nova descoberta.

A humanidade nunca desistiu de empregar uma nova tecnologia porque esta oferece perigo. No caso específico da descoberta do fogo, por exemplo, o domínio desta tecnologia representou para a humanidade a possibilidade de processar os alimentos, se aquecer e se proteger do frio. No entanto, significou, ao mesmo tempo, mais uma forma de exercitar a capacidade humana de destruir.

Através de mecanismos legais e éticos deve-se avaliar os riscos e disciplinar o uso do conhecimento gerado. Mas a exigência de risco zero, totalmente impossível de ser obtido para qualquer tecnologia física, química ou biológica , ainda mais por antecipação, certamente pode gerar atraso na substituição de tecnologias comparativamente mais perigosas e ainda em uso. É o que acontece se for comparado o risco das plantas transgênicas com o risco do uso dos químicos na agricultura. Para cada caso, em cada espécie cultivada objeto da transgênese, corretamente são exigidos inúmeros testes. Testes estes mais rigorosos do que os realizados quando as milhares de novas moléculas geradas pela agroquímica são pulverizadas nas lavouras produtoras de alimentos, ou quando são efetuadas as manipulações genéticas características do melhoramento convencional, que também gera alimentos geneticamente modificados.


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