Embrapa Trigo Documento Online Nº 1, nov./99

1 - Efeitos do spd sobre o microclima

As características do microclima, ou seja, dos eventos climáticos que ocorrem próximo à superfície do solo, como temperatura do ar e do solo e molhamento foliar, são afetadas pela presença de uma camada de restos culturais na superfície do solo. Devido ao efeito isolante desses resíduos, há redução na temperatura da superfície do solo, chegando a ser até 10 ºC mais baixa que em solo descoberto, com a presença de uma camada de 2 cm de restos culturais (James & Sutton, 1990). A diminuição da temperatura do solo na primavera e no início do verão, em spd, pode causar retardamento na germinação e no desenvolvimento de plântulas, situação favorável às doenças radiculares induzidas por patógenos de solo favorecidos por baixas temperaturas, como os tombamentos causados por R. solani e por Pythium sp. e a podridão vermelha da raiz da soja, causada por F. solani f.sp. glycines. Vários autores observaram que a incidência e a severidade da podridão vermelha da raiz em soja foram maiores em spd, sugerindo que a manifestação dos sintomas estaria ligada à elevada umidade do solo e a temperaturas baixas (Figuras 2 e 3). Hershman et al. (1990) observaram que lavouras de soja semeadas tardiamente geralmente apresentaram redução dessa doença, provavelmente devido aos solos estarem mais quentes e menos úmidos. Segundo Sherm & Yang (1996), a expressão dos sintomas é maior quando ocorrem alta umidade no solo durante toda a safra e baixas temperaturas (15 ºC) no solo durante o início da estação de crescimento, o que contribuiria para a infecção de raízes, e temperaturas amenas (22 a 24 ºC) no solo durante o estádio reprodutivo, que contribuiria para a expressão dos sintomas foliares. Ao proporcionar períodos mais longos de alta umidade no solo, o spd também favorece a esporulação do patógeno na superfície das raízes (Figura 4), concorrendo para o aumento da doença, uma vez que a densidade populacional de F. solani f.sp. glycines no solo, na semeadura, correlacionou-se positivamente com a severidade da doença (Rupe, 1999). No Brasil, em algumas lavouras de soja, foram registradas perdas da ordem de 30 a 40 % (Wrather et al., 1997), sendo a doença encontrada do Maranhão ao Rio Grande do Sul (Figura 5).

Hall & Nasser (1996), analisando as operações de cultivo do solo para o manejo cultural de doenças do feijoeiro, constataram que solos frios favoreceram os apodrecimentos de sementes, de raízes e de hastes causados por R. solani, por F. solani f.sp. phaseoli e por Pythium sp. A maior umidade do solo favoreceu a mancha angular (Phaeoisariopsis griseola), a podridão cinza da raiz (Macrophomina phaseolina) e o mofo branco (S. sclerotiorum).

O molhamento foliar é prolongado em uma a duas horas nas culturas em spd, principalmente nas primeiras fases de desenvolvimento das plantas. Essa diferença tende a desaparecer à medida que as plantas crescem e cobrem o solo. Esse efeito pode influir positivamente no desenvolvimento de algumas doenças foliares, como a mancha parda da soja, causada por Septoria glycines, no início do desenvolvimento da cultura de soja. Entretanto, no fim do ciclo, Tyler et al. (1983) observaram que essa doença causou menor desfolha precoce em soja cultivada em spd.


Documento Online Nº 1Documento Online Nº 1 Publicações OnlinePublicações Online
Copyright © 1999, Embrapa Trigo