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ISSN 1517-4964
Novembro, 2002
Passo Fundo, RS
 

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Avaliação de danos em soja causados por ferrugem asiática

COSTAMILAN, L. M.1; BERTAGNOLLI, P. F.1; YORINORI, J. T.2


Introdução

A ferrugem asiática de soja, causada por Phakopsora packyrhizi Sydow & P. Sydow, foi identificada pela primeira vez no continente americano em março de 2001, no Paraguai, oportunidade em que causou redução de rendimento de 1.100 kg/ha. Em maio, foi constatada também no estado do Paraná, Brasil. Na safra 2001/2002, a doença voltou a ocorrer em todo o Paraguai e nos estados brasileiros do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo, de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso e de Goiás. Nos locais mais atingidos, as reduções de rendimento de grãos foram estimadas entre 30% e 70%. A perda por ferrugem, no Brasil, em 2002, foi estimada em 112.000 t, ou US$ 24,7 milhões, considerando o valor de US$ 220,50 por tonelada de grão (Yorinori, 2002; Yorinori et al., 2002).

No Rio Grande do Sul, a doença foi registrada nos seguintes municípios: Ciríaco (Costamilan et al., 2002), Condor, Coxilha, Cruz Alta, Ijuí, Passo Fundo, Pontão, São Miguel das Missões, Sertão e Vacaria (Reis et al., 2002). Isso não significa que não tenha ocorrido em outras localidades. Os agricultores, e mesmo os técnicos, não estavam preparados para identificá-la. Fatores como clima seco, semelhança de sintomas com as doenças de fim de ciclo e uso de fungicidas para controle dessas doenças e de oídio dificultaram o pleno estabelecimento da ferrugem e sua identificação. Entretanto, pelas características de rápida disseminação, rápida instalação, agressividade e falta de resistência genética das cultivares de soja mais usadas, pode-se afirmar que houve ferrugem em, praticamente, todas as lavouras do estado.

Em 2002, no Rio Grande do Sul, a doença tornou-se evidente no mês de abril, afetando principalmente cultivares de ciclo médio ou tardio semeadas em dezembro de 2001. Esse fato pode estar relacionado com um período prolongado de seca nos meses de janeiro e fevereiro de 2002, quando choveu 67% e 52% abaixo da média normal, respectivamente, o que prejudicou o estabelecimento de ferrugem. Em março e abril, a precipitação pluvial acima da média histórica favoreceu a doença. A ferrugem asiática da soja é altamente dependente de umidade, necessitando de, pelo menos, seis horas de umidade livre, para que se inicie. Temperatura amena é ideal, mas não limitante, uma vez que a doença pode se estabelecer entre mínima de 8 ºC e máxima de 36 ºC.

No município de Ciríaco, distante cerca de 30 km de Passo Fundo, foram observados amarelamento e queda prematura de folhas nas cultivares BRS 153 e BRS 154 em abril de 2002, o que não se repetia em uma faixa de 60 m de largura, usada como experiência do proprietário, e que recebeu aplicação terrestre de fungicida, no início de março. Essas cultivares, indicadas para cultivo na região, apresentam alto potencial produtivo e resistência a várias doenças foliares. BRS 153 é considerada como padrão de resistência à mancha parda, entre cultivares de ciclo médio (Carvalho et al., 2002). Além disso, as condições climáticas da região não são favoráveis ao desenvolvimento dessas doenças. Por essas características, não foi programado aplicação de fungicida na parte aérea, nessa lavoura.

Na Embrapa Trigo, no Laboratório de Fitopatologia, foi detectada a presença de pústulas de ferrugem, confirmando a causa do problema. O objetivo deste trabalho foi avaliar os danos causados por essa doença em lavoura comercial de soja das cultivares BRS 153 e BRS 154.

 

Material e métodos

A coleta de dados foi realizada em lavouras de cultivares de soja BRS 153 e BRS 154, semeadas em 15/12/01, no município de Ciríaco, onde, em caráter experimental, foi usado fungicida combinando os ingredientes ativos pyraclostrobin (133 g/l) e epoxiconazole (50 g/l), na dose de 0,5 l/ha, em aplicação terrestre, no dia 8 de março de 2002, em faixa de 60 m de largura, com o objetivo de testar o efeito da mistura de fungicidas sobre doenças de fim de ciclo. As plantas encontravam-se, no momento da aplicação, nos estádios R4 (vagem completamente desenvolvida) a R5 (início de enchimento de grãos), segundo escala de Fehr & Caviness (Neumaier et al., 2000).

Nessa lavoura, a ferrugem asiática foi detectada no dia 23 de abril de 2002, quando, na área não tratada, foi observada queda prematura de folhas em plantas ainda com vagens e hastes verdes. Observações de urédias com uredosporos, na face inferior de folíolos coletados nessa lavoura, levaram à identificação de ferrugem de soja. Na maturação fisiológica, foram colhidas e trilhadas todas as plantas de dez amostras de 4 m2 cada uma, por cultivar, com e sem tratamento. em delineamento completamente casualizado. Registraram-se peso de grãos e de mil grãos por amostra, corrigidos pela umidade média da massa de grãos, determinada em 9,06%.

 

Resultados

Na Tabela 1 são apresentados dados de peso de grãos e de rendimento das cultivares.

O peso médio de grãos da cultivar BRS 153, por parcela não tratada, foi de 935 g, significando rendimento médio de 2.337 kg/ha, enquanto, nas parcelas tratadas, o peso médio de grãos foi de 1.209 g, significando 3.022 kg/ha. Nesse caso, a perda relativa foi de 23%. O peso de mil grãos foi reduzido em 12%, de 195 g para 175 g.

Quanto à cultivar BRS 154, a perda relativa foi de 46%, ou seja, as parcelas tratadas renderam 3.015 kg/ha (peso médio de grãos de 1.206 g por parcela), e as parcelas não tratadas renderam 1.632 kg/ha (peso médio de grãos de 653 g por parcela). O peso de mil grãos foi reduzido em 22%, de 189 g para 147 g.

O principal efeito no rendimento causado pela doença foi a diminuição do tamanho de grãos resultante de desfolha precoce. A cultivar BRS 153 pode ter sido menos afetada por apresentar ciclo mais precoce que o de BRS 154.

Figura 1


1 PesquisadorES do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: leila@cnpt.embrapa.br;bertag@cnpt.embrapa.br
2Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR.


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