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ISSN 1517-4964
Outubro, 2002
Passo Fundo, RS
 

Efeito inseticida de pós inertes no controle de pragas de grãos de trigo armazenado

Lorini, I.1; Morás, A.2; Beckel, H.3

Grão não tratado

Grão tratado


Introdução
Métodos alternativos de controle de pragas de grãos armazenados estão sendo enfatizados para reduzir o uso de inseticidas, diminuir o potencial de exposição humana e reduzir a velocidade e o desenvolvimento de resistência de pragas a inseticidas (Ebeling,1971). A preocupação com relação à aplicação de inseticidas e a pressão crescente imposta por consumidores e cientistas, a fim de substituir inseticidas químicos por agentes menos tóxicos e menos perigosos, levaram ao desenvolvimento de formulações de pós inertes (Korunic,1998).

O pó inerte à base de terra de diatomáceas é proveniente de fósseis de algas diatomáceas, que possuem naturalmente fina camada de sílica. Partículas do pó aderem ao corpo dos insetos no momento do contato. O pó inerte atua removendo a cera epicuticular, favorecendo perda de água e provocando desidratação de insetos (Ebeling, 1971; LePatourel, 1986; Aldryhim, 1990; Banks & Fields, 1995; Golob, 1997; Korunic, 1998; Lorini, 2001). Trata-se de produto seguro para o usuário e de efeito inseticida duradouro, pois não perde eficácia ao longo do tempo.

Outros pós inertes, como os compostos silicatados, também são relatados com propriedades inseticidas (Ebeling, 1971). Estes derivados de rochas mineralizadas podem ser empregados no controle das pragas de produtos armazenados, pois possuem na composição a sílica.

O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito inseticida de diferentes formulações de pós inertes sobre pragas de grãos de trigo armazenado.

Material e Método
O trabalho foi realizado no Laboratório de Entomologia da Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, no período de junho de 2001 a março de 2002. O delineamento experimental usado foi inteiramente casualizado, com 12 tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram em diferentes doses de pós inertes à base de terra de diatomáceas (Keepdry, Insecto e Resíduo de Cervejaria) e de compostos silicatados (Dryacide, Seed Right e RSO-SC), além de um tratamento testemunha, sem pó inerte (Tabela 1). A cultivar de trigo usada, BRS49, foi obtida de lavoura sem aplicação de inseticidas durante o cultivo. Cada tratamento foi aplicado manualmente sobre 1,0 kg de grãos e, em seguida, homogeneizado e colocado em saco de papel de 3,0 kg de capacidade, na sala de armazenamento, em temperatura e umidade relativa do ar de 25 ± 3º C e 60 ± 10 %, respectivamente.

Aos cinco, 107 e 228 dias após tratamento com os diferentes produtos, foi coletada amostra de 100 g de grãos de cada repetição. As amostras foram colocadas em jarras de vidro de 200 ml de capacidade, nas quais foi liberado, separadamente, um número conhecido (variável para cada espécie) de insetos adultos de Rhyzopertha dominica, de Sitophilus spp., de Oryzaephilus surinamensis, de Tribolium castaneum e de Cryptolestes ferrugineus. Os insetos eram provenientes da criação massal do próprio laboratório. As jarras foram fechadas com papel filtro e massa de calafetar e mantidas em sala climatizada em temperatura e umidade relativa do ar de 25 ± 1º C e 60 ± 5 %, respectivamente.

A avaliação da mortalidade de adultos de cada espécie-praga foi realizada aos 10 e 30 dias após infestação, pela peneiragem de grãos e contagem do número de insetos mortos.

Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e determinou-se a significância pelo teste F (< 0,05). As médias foram comparadas entre si, pelo teste de Tukey (< 0,05).

Resultados e Discussão
Houve efeito de mortalidade dos insetos causado pelas doses dos diferentes pós inertes aplicados nos grãos (tabelas 1 a 5).

Para R. dominica, a maioria dos produtos testados foram estatisticamente superiores à testemunha, evidenciando efeito de mortalidade da praga por esses pós inertes (Tabela 1). O pó inerte Seed Right, em ambas as doses, não obteve performance esperada, pois foi estatisticamente semelhante à testemunha em 50% das avaliações (Tabela 1). O melhor efeito inseticida ocorreu com Insecto, com Dryacide, com RSO-SC, com Resíduo de Cervejaria e com Keepdry, mais pronunciado nas maiores doses.

Para Sitophilus spp., todos os pós inertes, nas doses testadas, tiveram mortalidade estatisticamente superior à testemunha, exceto Seed Right aos 107 dias após tratamento e 10 dias após infestação (DAI) (Tabela 2). Keepdry, Insecto, Dryacide, RSO-SC e Resíduo de Cervejaria foram estatisticamente superiores a Seed Right, em ambas as doses, aos cinco e 107 dias após tratamento na avaliação de 10 DAI, e na dose de 1.500 g/t, aos 228 dias após tratamento (Tabela 2).

Na avaliação de O. surinamensis, todos produtos foram superiores estatisticamente à testemunha em todas avaliações, exceto na avaliação de cinco dias após tratamento em 30 DAI, na qual não houve diferenças significativas entre tratamentos (Tabela 3).

Para T. castaneum, foi realizada apenas a infestação aos cinco dias após tratamento, com 15 insetos adultos por parcela, em razão da indisponibilidade de insetos na criação do laboratório. Os resultados destas avaliações mostraram eficácia de todos pós inertes, sendo estatisticamente superiores à testemunha aos 30 DAI. Já aos 10 DAI, as melhores formulações foram Insecto a 2.000 g/t, Dryacide e Resíduo de Cervejaria, em ambas as doses, os quais foram superiores estatisticamente à testemunha (Tabela 4).

Também por falta de insetos adultos de C. ferrugineus, foi realizada somente a infestação de cinco dias após tratamento com 10 insetos por parcela. Os resultados mostraram que todos pós inertes foram estatisticamente superiores à testemunha aos 10 DAI e não diferentes estaticamente aos 30 DAI (Tabela 5).

Os produtos Keepdry, Insecto e Dryacide causaram mortalidade das espécies-praga testadas, dependendo apenas da dose a ser usada e do período de exposição da espécie ao produto. O Resíduo de Cervejaria e RSO-SC podem ser alternativas de pós inertes a ser empregadas no controle de pragas de trigo armazenado, respeitadas as doses e a necessidade de registro dos produtos.


1 Pesquisador do  Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: ilorini@cnpt.embrapa.br   www.cnpt.embrapa.br/armazena
2 Estagiária da Embrapa Trigo – Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, RS.
3 Estudante de Doutorado, Convênio Embrapa Trigo – Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curso de Pós-graduação em Entomologia. Curitiba, PR.


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