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ISSN 1517-4964
Julho, 2002
Passo Fundo, RS
 

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Detecção da resistência de Oryzaephilus surinamensis (L.) (Coleoptera: Silvanidae), praga de grãos de cevada armazenada, a inseticidas químicos1

H. Beckel2, I. Lorini2, S.M.N. Lazzari3


Embrapa Trigo

Introdução
A espécie Oryzaephilus surinamensis (L.) é uma praga de cevada armazenada que pode danificar significativamente massa de grãos quando em grande densidade populacional, o que conduz ao amplo uso de inseticidas por armazenadores.

O sucesso do tratamento com inseticida residual depende, entre outros fatores, do nível de resistência da população (Barson et al., 1992). Segundo Collins (1985), uma das maiores desvantagens dos protetores químicos de grãos é a habilidade dos insetos de se tornarem resistentes a esses produtos.

De acordo com Watson & Barson (1996), a incidência e o grau de resistência de O. surinamensis a inseticidas têm aumentado desde a detecção de resistência ao inseticida lindane, no início da década de setenta.

Como O. surinamensis não possui grande habilidade de vôo (Champ & Dyte, 1976), infestações em armazéns são decorrentes de recebimento de grãos já infestados ou de populações residuais no próprio armazém. Populações residentes em armazéns sob pressão de seleção por inseticidas favorecem a infestação de grãos (Collins, 1985) e o aumento da resistência a inseticidas. Segundo Taylor & Georghiou (1982), modelos de simulação indicam que certas condições, como amplo uso de inseticidas residuais contra populações de insetos com pouca ou nenhuma imigração de indivíduos suscetíveis, são ideais para desenvolvimento de resistência.

Essa situação vem sendo observada em armazéns da região sul do Brasil, onde O. surinamensis tem aparecido praticamente em todas as unidades armazenadoras, causando danos aos grãos. A espécie tem apresentado tolerância a tratamentos químicos e é das primeiras a colonizar a massa de grãos após aplicação de inseticidas (Lorini, 2001).

Como no Brasil não existe comprovação de resistência de O. surinamensis a inseticidas, o objetivo deste trabalho foi avaliar a resistência de populações coletadas em unidades armazenadoras da região sul, aos inseticidas piretróides, deltamethrin e bifenthrin, e aos organofosforados, pirimiphos-methyl e fenitrothion, indicados para controle da praga.

Material e Método

Foram usadas cinco raças de O. surinamensis, provenientes de populações coletadas nas diferentes unidades armazenadoras de grãos e identificadas segundo origem e data de coleta, como segue: raça OS1, Passo Fundo, RS (1998); raça OS2, Ubiratã, PR (1998); raça OS3, Santo Ângelo, RS, (1998); raça OS4, Saldanha Marinho, RS (1998); e raça OS5, Assai, PR (2000).

Cada raça de O. surinamensis apresentou diferente histórico de exposição aos inseticidas piretróides (deltamethrin e bifenthrin) e aos organofosforados (pirimiphos-methyl e fenitrothion).

Todas as raças, desde a época da coleta, foram mantidas no Laboratório de Entomologia da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, e, em virtude disso, receberam a designação: geração Fn+1, indicando a primeira geração obtida em laboratório.

Os insetos foram multiplicados em frascos de vidro, previamente esterilizados, vedados com massa para calafetar e papel filtro, contendo grãos de trigo quebrados, fornecidos como alimento. Os frascos foram mantidos em sala climatizada, em temperatura de 25 ± 1º C e umidade relativa do ar de 65 ± 5 %.

Para avaliação da resistência, foram realizados bioensaios seguindo-se o método recomendado pela FAO (Anônimo, 1974), com algumas modificações requeridas para a espécie em estudo. Foram usados insetos adultos de 0-20 dias de idade, não sexados.

Os inseticidas usados no experimento foram os piretróides deltamethrin (K-obiol 25 CE) e bifenthrin (Prostore 25 CE) e os organofosforados pirimiphos-methyl (Actellic 500 CE) e fenitrothion (Sumigran 500 CE).

Cada raça foi submetida a cinco tratamentos (quatro inseticidas e um controle). Os inseticidas foram diluídos em éter de petróleo para as concentrações requeridas, e 1,0 ml da concentração foi aplicado sobre papel filtro de 9 cm de diâmetro, colocado em placas de Petri, em quatro repetições. Após evaporação do solvente, dez insetos adultos de cada raça foram liberados no interior de cada placa. O experimento foi conduzido nas mesmas condições ambientais usadas na multiplicação dos insetos.

A avaliação da mortalidade, que visou a estabelecer as concentrações letais (CL50), para cada raça, foi feita pela contagem do número de insetos vivos e mortos 24h após tratamento. Para determinação da CL50 e demais parâmetros de regressão linear de cada raça, os resultados de mortalidade dos bioensaios foram analisados pelo programa estatístico GLIM, Royal Statistical Society, versão 3.77 (Crawley, 1993), com análise de variância (ANOVA) e significância pelo teste F (p£ 0,05) para a diferenciação das CL50.

Resultados e Discussão

Os resultados com inseticidas organofosforados e piretróides indicam que a raça OS1 apresentou menores valores da CL50 (tabelas 1, 2, 3 e 4), podendo representar o nível de tolerância normal dessa espécie a esses inseticidas.

Os resultados com deltamethrin mostram que as raças OS1, OS2, OS4 e OS5 não diferiram entre si, para valores da CL50. Porém OS5 não diferiu significativamente de OS3, que apresentou um fator de resistência de 4,0 vezes (Tabela 1), quando comparada a raça OS1, e diferiu estatisticamente de OS1, de OS2 e de OS4, representando um nível inicial de resistência ao inseticida deltamethrin. A unidade armazenadora na qual insetos da raça OS3 foram coletados apresentou histórico de aplicação de inseticidas piretróides, deltamethrin e permethrin, de no mínimo dez anos consecutivos, explicando o início da resistência.

As raças OS2, OS3, OS4 e OS5 não diferiram significativamente entre si (Tabela 2), porém diferiram da raça suscetível OS1, quando submetidas ao inseticida bifenthrin. Esse resultado indica nível inicial de resistência cruzada ao bifenthrin, já que esse produto foi registrado há menos de dois anos para tratamento de grãos armazenados. Porém essas raças receberam aplicação de outro inseticida do mesmo grupo (deltamethrin). A raça OS2 apresentou fator de resistência de 4,2 vezes, em relação à suscetível.

Resultado semelhante ocorreu com o inseticida organofosforado pirimiphos-methyl, no qual as raças OS2, OS3, OS4 e OS5 diferiram significativamente da raça suscetível OS1 (Tabela 3), porém não diferiram estatisticamente entre si. O fator de resistência variou de 2,2 vezes na OS2 a 3,5 vezes na OS4, quando comparada com a suscetível OS1.

Já para o organofosforado fenitrothion, os resultados indicaram nível mais elevado de resistência para a raça OS4 (FR= 8,5 vezes) (Tabela 4), o qual diferiu significativamente do das demais raças. Os adultos da raça OS4 foram coletados em milho armazenado, numa situação em que a estrutura havia sido tratada com inseticidas organofosforados e piretróides por no mínimo cinco anos.

Os resultados encontrados para os testes com todos os inseticidas parecem confirmar os estudos de Collins (1985), que indicam que infestações em armazéns são resultado de recebimento de grãos já infestados ou de populações residuais de O. surinamensis em armazéns, possivelmente sendo continuamente submetidas a pressão de seleção de inseticidas.

Os resultados deste trabalho evidenciam início da resistência de O. surinamensis a inseticidas usados para controle em unidades armazenadoras de grãos.


1 Trabalho publicado nos Anais da XXII Reunião Anual de Pesquisa de Cevada em 2002.
2 Estudante de Doutorado, Convênio Embrapa Trigo - Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curso de Pós-graduação em Entomologia. Caixa Postal 19020, 81531-990 Curitiba, PR. E-mail:
helenara@pro.via-rs.net
2 Pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, da Embrapa, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: ilorini@cnpt.embrapa.br
3 Professora do Curso de Pós-graduação em Entomologia da Universidade Federal do Paraná. Caixa Postal 19020, 81531-990 Curitiba, PR.


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