Comtec_s.jpg (28582 bytes)

81

Embrapa Trigo

Comtec_i.jpg (22927 bytes)

ISSN 1517-4964
Dezembro, 2001
Passo Fundo, RS
O melhoramento e os trigos da Embrapa em cultivo no Brasil

Pedro Luiz Scheeren1
Gilberto Rocca da Cunha1
Márcio Só e Silva1
Cantídio Nicolau Alves de Sousa1
Leo de Jesus Antunes del Duca1
Vanderlei da Rosa Caetano2
Dionísio Brunetta 3
Sérgio Roberto Dotto3
Manoel Carlos Bassoi3
Paulo Gervini de Sousa4
Júlio César Albrecht5
José Maria Vilela de Andrade5
Abelardo Cánovas6
Joaquim Soares Sobrinho7


No Brasil, a boa adaptação de algumas cultivares italianas introduzidas, marcou o início do trigo no Sul do Brasil, no século XIX. No entanto, a expansão e o desenvolvimento do cultivo de trigo em outros estados do Brasil, se processou mais tarde do que no Rio Grande do Sul. No Paraná, o cultivo de trigo expandiu-se, primeiro, na região de Guarapuava. Posteriormente, o trigo adquiriu grande importância ao norte e oeste desse estado, tornando-se a principal área produtora de trigo do país. Também cresceu a área de trigo no oeste do estado de São Paulo e no Sul do Mato Grosso do Sul. Atualmente, no Brasil Central, na região dos Cerrados, mais precisamente nos estados de Goiás, oeste de Minas Gerais e sul do Mato Grosso, vem aumentando a área tritícola brasileira. Ainda merece destaque a Bahia que tem algumas regiões potencialmente favoráveis à cultura do trigo.

1. A PESQUISA DE TRIGO E AS REGIÕES PRODUTORAS

As atuais e potenciais regiões tritícolas brasileiras são: Região Sul, Região Centro-Sul e a Região Central. As regiões Sul e Centro-Sul, representam a cerca de 98% da área atualmente cultivada. A Região Central, embora ainda pouco cultivada com trigo, em sua maioria, representa um enorme potencial para a produção para a cultura, tanto no regime de sequeiro, quanto no regime irrigado.

1.1. REGIÃO SUL

Na Região Sul, que é caracterizada como temperada a subtropical úmida, há predominância de solos com excesso de alumínio, que causam a doença fisiológica conhecida como crestamento. Nesta região, iniciou-se a pesquisa de trigo no Brasil alguns séculos após a cultura ter sido introduzida no país. A criação de novas variedades adaptadas só teve início em 1914, quando o químico Jorge Polissú selecionou, em Nova Tirol, Paraná, uma variedade diferente de sementes provenientes da região de Guaporé, no Rio Grande do Sul.

Em 1919, o Ministério da Agricultura estabeleceu as duas primeiras estações experimentais destinadas à criação de cultivares: a Estação Experimental de Alfredo Chaves, no RS, no município de Veranópolis, e a Estação Experimental de Ponta Grossa, no PR. Diversas linhagens com a denominação Alfredo Chaves foram selecionadas e identificadas por Gayer. Enquanto isso, o trigo Polissú foi levado, em 1922, para a Estação Experimental de Ponta Grossa, onde foi resselecionado e recebeu o nome de PG 1 (Ponta Grossa 1). Assim, com as seleções realizadas em Ponta Grossa e em Alfredo Chaves, foi iniciado o melhoramento genético de trigo no Brasil. Em 1924, foi contratado o geneticista sueco Dr. Iwar Beckman, que em 1925, realizou os primeiros cruzamentos de trigo no país. Beckman prosseguiu seus trabalhos na Estação Experimental de São Luiz Gonzaga -RS (1925–1929) e depois, na Estação Experimental da Fronteira, em Bagé -RS, onde realizou diversos estudos genéticos e criou diversas variedades de ciclo precoce, destacando-se a cultivar Frontana, que foi criada em 1940 e que, ainda hoje, é intensamente usada em blocos de cruzamentos para a criação de novas cultivares, no Brasil e no exterior. Frontana combinou, na época, uma série de características importantes como o ciclo mais precoce, a resistência ao alumínio tóxico do solo, o porte mais baixo e a resistência às principais doenças do trigo, como ferrugem da folha e do colmo.

O melhoramento de trigo na Embrapa iniciou com a criação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo – CNPT, em 1975, que, mais adiante, passou a ser conhecido como Embrapa Trigo, que com a colaboração do Centro de Pesquisa de Agropecuária de Clima Temperado – Embrapa Clima Temperado, são as unidades da Embrapa responsáveis pela criação de novas cultivares e pelos trabalhos em pesquisa de trigo na região sul do Brasil.

1. 2. REGIÃO CENTRO-SUL

Esta é, atualmente, a região tritícola mais importante, se considerada a área em cultivo. Nesta região ocorrem solos com e sem alumínio, sendo seu clima classificado como subtropical, com chuvas menos uniformes durante a época de cultivo do trigo. Em geral, pelas condições de ambiente mais seco, os trigos produzidos nessa região têm apresentado melhor aptidão para panificação do que as mesmas cultivares quando produzidos na região Sul. No Paraná, o programa de melhoramento de trigo de Embrapa está sendo conduzido através de parceria da Embrapa Trigo com o Centro Nacional de Pesquisa de Soja – Embrapa Soja, localizado em Londrina – PR. Também em parceria com a Embrapa Trigo, na região Centro-Sul, estão os trabalhos com trigo da Embrapa Agropecuária Oeste.

1. 3. REGIÃO CENTRAL

Nesta região ainda é pequena a área cultivada com trigo, apesar de existir a possibilidade de duas safras anuais: a de sequeiro, semeada em fevereiro, com chuvas naturais, e o cultivo irrigado, semeado em maio, com irrigação artificial, no período de inverno, quando as chuvas naturais são esporádicas, ocorrendo de maneira irregular e insuficiente. As entidades de pesquisa vem realizando grande número de trabalhos para a implantação definitiva do trigo na região dos Cerrados. A Embrapa Cerrados, estabelecida em Planaltina – DF, em convênio com a Embrapa Trigo, vem conduzindo os trabalhos com trigo na região, auxiliada ainda por outras unidades (Embrapa Arroz e Feijão e Escritório de Uberlândia da Embrapa Transferência de Tecnologia) e empresas públicas e privadas, de extensão rural, que participam da rede de experimentação de trigo na região dos Cerrados.

2. AS CULTIVARES DE TRIGO DA EMBRAPA EM USO NO BRASIL

A cultura do trigo no Brasil, durante o século XX, sempre mereceu destaque na pesquisa, voltada, principalmente, para o incremento do potencial produtivo, que foi associado à melhor arquitetura de planta, com maior resistência às doenças e com adaptação aos estresses causados por organismos vivos ou por oscilações do ambiente. Esses fatores predominaram como objetivos do melhoramento. No entanto, com a privatização da comercialização do trigo, um novo fator, denominado qualidade industrial, foi incorporado entre os principais nos trabalhos de melhoramento.

Os trigos chamados de "antigos" tinham a rusticidade (adaptação e resistência geral aos estresses bióticos e abióticos) como sua característica de destaque. Por outro lado, as cultivares de trigo chamadas "modernas" têm porte baixo e, por isso, têm revelado grande redução na incidência de acamamento. A adição de novos genes de resistência às doenças, às pragas e aos estresses causados pelo ambiente adverso, tem proporcionado significativo aumento no potencial de rendimento de grãos, que hoje facilmente ultrapassa os 1.500 kg/ha que eram alcançados nas boas lavouras de 20 anos atrás, e até ultrapassando os 5.000 kg/ha em muitas lavouras do sul e centro-sul do Brasil, sob ambiente de chuva natural.

Atualmente, a Embrapa conta com quatro projetos de melhoramento de trigo. Em todos os projetos a qualidade industrial, conforme a aptidão de uso, passou a ser um dos objetivo principais. O primeiro projeto visa a avaliação e identificação de novos materiais exóticos, que tenham genes de características importantes, sob os aspectos de resistência, de adaptação, de produtividade ou de aptidão tecnológica de uso. Então, esses genes passam a ser incorporados em trigos brasileiros com boa adaptação local e, depois, disponibilizados para os projetos de criação de cultivares, que são três, conforme as macro-regiões de adaptação. No projeto da Região Sul-Brasileira, os objetivos principais envolvem, principalmente: o alto potencial produtivo e a resistência ao acamamento; as resistências às doenças (destacando-se as ferrugens da folha e do colmo, o oídio, a giberela, as manchas foliares, a septoriose da gluma e as viroses), ao crestamento e a resistência à germinação na espiga. No projeto da Região Centro-Sul-Brasileira, os objetivos são os semelhantes aos da região sul, acrescentando-se, ainda, a resistência à helmintosporiose e à brusone. Na Região Centro-Brasileira, que abrange a região dos Cerrados, os objetivos do projeto de melhoramento de trigo estão direcionados para a alta produtividade, no regime irrigado, e para a produtividade e resistência ao color, no regime de sequeiro, e em ambos, a resistência à mancha marrom (helmintosporiose) é importantíssima.

Assim, a Embrapa está presente na criação de cultivares em todo o Brasil, visando a atender às diversas regiões de adaptação e diferentes demandas dos consumidores. Nas Tabelas 1, 2 e 3 são apresentadas as cultivares de trigo da Embrapa, indicadas para comercialização de sementes, nas três regiões de adaptação. São apresentadas, também, algumas das principais características das cultivares que poderão influenciar por ocasião da escolha da variedade a ser semeada. Merecem destaque as novas cultivares de trigo, recomendadas na Região Sul-Brasileira, BRS 177 e BRS 179, pelo potencial de rendimento, pela sua excepcional resistência à giberela e às manchas foliares e pela boa resistência à germinação na espiga e BRS 194, pela resistência às manchas foliares e à germinação na espiga e pelo destaque no PH (peso do hectolitro). Na Região Centro-Sul-Brasileira, são destacados os trigos: BRS 192, pelo rendimento e cor branca da farinha, desejada pelo mercado de moagem e consumidor de farinha; BRS 208, pela produtividade, resistência, rusticidade e qualidade para panificação; e BRS 209 e BRS 210, pela produtividade associada à superior qualidade industrial. No Cerrado (Região Centro-Brasileira), o trigo Embrapa 42, com excelente padrão de qualidade, é destaque no Distrito Federal e em Goiás, e BRS 207 foi recentemente indicada para o cultivo irrigado em Minas Gerais, atendendo as demandas do mercado da região.

Novas cultivares de trigo continuam a ser desenvolvidos pela Embrapa, anualmente, para todas as regiões produtoras. A melhoria da resistência, do potencial de rendimento e da qualidade, em novos "Ideotipos" de planta, adaptados às condições brasileiras, estão sendo buscados pela pesquisa. São desafios que requerem investimentos de longo prazo em recursos humanos e materiais. Cada ciclo de melhoramento de trigo dura, em média, oito anos até a produção de linhagens geneticamente uniformes, que somados a, no mínimo, três anos de experimentação, para testes comparativos com variedades testemunhas, que estão em cultivo, representam dez a doze anos para que uma nova cultivar chegue às lavouras dos triticultores. A produção de linhagens "Duplo-haplóides", iniciada, adaptada e desenvolvida pioneiramente na Embrapa Trigo, reduziu o tempo de criação de novas linhagens de trigo para apenas dois anos. Isso poderá representar um aumento na produção de linhagens para testes visando a indicação de novas cultivares e, também, poderá representar maior rapidez na incorporação de novos genes de resistência ou qualidade em cultivares adaptadas.

As demandas das indústrias moageiras e do mercado consumidor de farinhas estão em constante ajuste e a pesquisa, em geral, está atendendo os novos desafios que vem sendo apresentados. Espera-se que, no futuro, a pesquisa, os produtores de grãos e as indústrias de moagem e de transformação consigam atender as demandas dos consumidores finais, que somos todos nós, consumidores de pão, de massas, de bolos, de biscoitos e demais produtos derivados do trigo.


1Pesquisador da Embrapa Trigo
2Pesquisador da Embrapa Clima Temperado
3Pesquisador da Embrapa Soja
4Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
5Pesquisador da Embrapa Cerrados
6Pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão
7Pesquisador da Embrapa Transferência de Tecnologia - Uberlândia


Referenciação Referenciação


Publicações OnlinePublicações Online RetornoEmbrapa Trigo

 

Copyright © 2001, Embrapa Trigo