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Embrapa Trigo

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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2001
Passo Fundo, RS

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Zoneamento agrícola e calendário de semeadura para soja no Rio Grande do Sul, safra 2001/2002

Gilberto Rocca da Cunha1,2,3
Nídio Antônio Barni4
João Carlos Haas1
Jaime Ricardo Tavares Maluf1
Ronaldo Matzenauer4,3
Aldemir Pasinato5
Márcia Barrocas Moreira5


Introdução

O nível de tecnologia adotada e a variabilidade climática explicam grande parte das flutuações no rendimento de grãos das culturas, que ocorrem em diferentes safras e entre locais.

A implementação do Programa de Zoneamento Agrícola, a partir da safra de inverno de 1996, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como principal instrumento de apoio à Política Agrícola do Governo Federal, buscou reduzir as perdas causadas por adversidades climáticas na agricultura brasileira. Para tal, foram estabelecidos zoneamentos de riscos climáticos, que definem, a partir da escolha de culturas, ciclo de cultivares e períodos de semeadura, o nível de riscos de natureza climática inerentes à atividade agrícola, em cada local.

A viabilidade de cultivo de soja, em praticamente todo o Estado do Rio Grande do Sul, foi demonstrada pelo trabalho de zoneamento realizado por Mota et al. (1974). Como única exceção, por razões de natureza térmica, estes autores identificaram pequena área localizada no nordeste do território rio-grandense.

Para a cultura de soja no Rio Grande do Sul, Berlato & Fontana (1999), Cunha et al. (1999) e Barni & Matzenauer (2000) mostraram que precipitação pluvial (deficiência hídrica), durante a estação de crescimento, é a principal variável meteorológica determinante de oscilações no rendimento de grãos, tanto interanual quanto entre diferentes regiões.

Este Comunicado Técnico apresenta o período de semeadura de soja para cada município do Rio Grande do Sul, considerando tipo de solo, deficência hídrica e ciclo das cultivares como principais variáveis de definição, conforme consta na Portaria n° 38, de 5 de setembro de 2001, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, publicada no D.O.U. de 10 de setembro de 2001, e nas Indicações Técnicas 2001 emanadas da XXIX Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul (Reunião..., 2001).

Metodologia

O trabalho foi executado com base na interação entre "disponibilidade hídrica x períodos críticos de desenvolvimento" como principal fator determinante da expressão de rendimento econômico da cultura de soja no Rio Grande do Sul.

Para tal, foram realizados cálculos de balanço hídrico diário (Modelo de Thorthwaite & Mather, a partir do software BHIDRICO v.3.20, desenvolvido por Lier & Dourado Neto, 1993), considerando durações características (dias) dos períodos emergência-floração e emergência-maturação fisiológica para cultivares de soja de ciclo Precoce, Médio e Semitardio/Tardio, no Rio Grande do Sul, quando semeadas entre outubro e dezembro.

Na Tabela 1 encontram-se os ciclos característicos das cultivares de soja indicadas para o Rio Grande do Sul, determinados com base nos trabalhos realizados por Bonato & Ignaczak (1992) e Bonato et al. (1993 e 1994):

A emergência das plantas de soja (estádio VE), normalmente tem início 5 a 7 dias após a semeadura (Câmara & Heiffig, 2000). Nesse trabalho a duração do subperíodo semeadura-emergência foi considerada fixa em 7 dias; embora possa haver variações dependentes de condições de temperatura e de umidade do solo.

Usando-se uma base de dados meteorológicos diários, envolvendo temperatura média (ºC) e chuva (mm), de 40 estações meteorológicas características das diferentes regiões do Estado, contendo, em sua maioria, entre 20-30 anos de observações diárias ininterruptas, foram realizadas simulações de balanço hídrico para soja (ciclos Precoce, Médio e Semitardio/Tardio), considerando semeaduras nos dias 5, 15 e 25 de cada mês, no período de outubro a dezembro.

A capacidade de armazenamento de água no solo, no cálculo do balanço hídrico, foi computada a partir de curvas características de retenção de água no solo, considerando-se as unidades de mapeamento de solo representativas das regiões das estações meteorológicas (Brasil, 1973), compiladas nos trabalhos publicados por Mundstok (1970), Dedecek (1974), Gomes & Cabeda (1977), Beltrame et al. (1979) e Beltrame & Louzada (1996).

Após simulações de balanço hídrico, foram realizados cálculos de rendimento relativo para a cultura de soja, considerando locais x ciclos de cultivares x período de semeadura.

Foi utilizado modelo de previsão de rendimento relativo de soja (Y/Ym), onde Y é o rendimento obtido nas condições reais de disponibilidade hídrica e Ym o rendimento máximo possível na ausência de deficiência hídrica, calibrado e validado por Berlato (1987):

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onde, ETr = evapotranspiração real e ETm = evapotranspiração máxima e l 1 = fator de sensibilidade da cultura à deficiência hídrica em dado subperíodo de desenvolvimento.

No caso, foram considerados dois subperíodos críticos da cultura de soja à falta de água:

De posse dos rendimentos relativos (Y/Ym), que definem a proporção do rendimento potencial que é obtida na situação real de disponibilidade hídrica, foram calculados os valores limites de (Y/Ym) em um nível de 80 % de probabilidade. Isto é, o valor mínimo esperado em 4 a cada 5 anos.

A partir das probabilidades, foram considerados períodos favoráveis para semeadura de soja, nas diferentes regiões agroecológicas do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul, 1994), aqueles em que a perda de rendimento potencial por deficiência hídrica fosse inferior a 50 %.

Visando a identificar áreas de alto risco, em função do regime pluvial e das características de armazenamento de água no solo, para a safra de 2001/2002, realizou-se uma análise complementar com o programa Sarrazon (Baron et al., 1996), para cálculo de balanço hídrico, integrado a base de dados formada por 251 estações pluviométricas da ANEEL, contendo séries históricas entre 15 e 20 anos de dados diários.

As simulações de cálculo de balanço hídrico foram feitas para os ciclos característicos das cultivares de soja (Precoce, Médio e Semitardio/Tardio), conforme mês de semeadura, e levando em consideração três Capacidade de Água Disponível (CAD): 35 mm, 50 mm e 75 mm, para solos chamados de tipo 1, tipo 2 e tipo 3; respectivamente (Tabela 2).

Como índice de espacialização foram usados valores da relação ETr/ETm (Evapotranspiração real/Evapotranspiração máxima), subperíodo floração-enchimento de grãos, definindo-se três classes, com freqüência mínima de 80%: ETr/ETm ³ 0,65 (favorável), 0,65 > ETr/ETm > 0,55 (Intermediária) e ETr/ETm £ 0,55 (desfavorável).

Também foram excluídos do presente zoneamento aqueles municípios que, nos últimos dez anos, pelas estatísticas do IBGE, não indicaram plantio de soja de forma sistemática. Basicamente, neste caso, envolvendo municípios das regiões agroecológicas 1a, 2a, 2b, 2c e 3a, conforme Rio Grande do Sul (1994), concentrados na faixa litorânea, região metropolitana da capital e parte da serra gaúcha.

Destaca-se que essa recomendação de períodos de semeadura para soja no Rio Grande do Sul foi baseada exclusivamente no critério de disponibilidade hídrica para a cultura (Regime pluvial x capacidade de armazenamento de água no solo). Isso não implica que necessariamente todos os municípios do estado incluídos nesse zoneamento apresentem o mesmo nível de potencial de rendimento, em decorrência de diferenças associadas com outras variáveis de solo e clima. Além de que, nos municípios, que contemplam idêntico perído de semeadura, para os três tipos de solo, concentrados nas regiões do estado onde chove mais, não está implícito que o nível de risco seja independente do tipo de solo (CAD), pois, seguramente, os solos Tipo 3 (CAD 75 mm), garantem, em época de estiagens, água disponível para a cultura por maior período de tempo; comparativamente aos Tipos 2 (CAD 50 mm) e Tripo 1 (CAD 35 mm).

Resultados

O calendário de semeadura de soja para o Rio Grande do Sul, safra 2001/2002, conforme tipo de solo e ciclo das cultivares, encontra-se na Tabela 3. Em relação ao calendário da safra 2000/2001 (Reunião ..., 2000), destaca-se como principais diferenças a inclusão dos tipos de solo (Tipo 1, 2 e 3, conforme a CAD) e ampliação do período de semeadura para cultivares de ciclo semitradio/tardio até o final de dezembro, em muitos locais.


1Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS.
2Autor para correspondência.E-mail:
cunha@cnpt.embrapa.br
3Bolsista do CNPq-PQ.
4Pesquisador da Fepagro, Rua Gonçalves Dias, 570, CEP 90130-060 Porto Alegre, RS.
5Analista de Sistemas, Projeto Zoneamento Agrícola MAPA-UnB/Finatec.


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