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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2001
Passo Fundo, RS
Secador Uso de gás liquefeito de petróleo na secagem estacionária de milho em secador de leito fixo

José Antonio Portella1
Luiz Eichelberger2


Embrapa Trigo

Introdução
A secagem desempenha papel importante na redução de perdas de grãos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. As perdas ocorrem devido à permanência dos grãos no campo de produção até atingirem a umidade de 13%, à secagem inadequada e ao armazenamento com umidade inadequada. O material mais utilizado como fonte energética é a lenha, a qual é de combustão relativamente difícil e incompleta, liberando grande quantidade de fuligem, fumaça e produtos químicos, alguns comprovadamente nocivos à saúde humana, destacadamente o alcatrão. Os sistemas de secagem que usam combustíveis gasosos, como o gás liquefeito de petróleo (GLP) e o gás natural (GN), oferecem vantagens, como menor contaminação de grãos, simplicidade de operação e excelente controle de temperatura, favorecendo a automação da secagem.

Este trabalho foi desenvolvido com os objetivos de avaliar o desempenho de um secador estacionário de leito fixo, usando-se gás liquefeito de petróleo (GLP) como fonte energética, e estabelecer indicadores econômicos de consumo e custo final.

Material e Métodos
Lotes de milho híbrido triplo BRS 3133 foram colhidos com três níveis de umidade (35%, 25% e 18%) e secados em secador comercial de leito fixo, fabricado por Bergazzi Máquinas e Equipamentos Ltda.3, com três níveis de temperatura do ar de secagem (40 ºC, 70 ºC e 100 ºC). O ar de secagem foi aquecido por um queimador de gás da marca Stecri3, modelo ST-1-1, com capacidade de 2 a 10 kg/hora, abastecido por linha de distribuição ligada a uma bateria de reservatórios (três unidades P-190) de GLP AgipLiquigás3, instalada próximo do secador. Cada tratamento consistiu na secagem de 1.400 kg de grãos com fluxo médio de ar de 15 m3/min/m2 até se atingir a umidade de 13%.
Todos os resultados apresentados neste trabalho são dados médios de duas repetições.

Além da temperatura do ar ambiente e do ar de secagem no plenum, na massa e na superfície da massa de grãos, foram monitorados o grau de umidade e a temperatura da massa de grãos, em intervalos de 1 hora, ao longo do período de secagem.

A partir das medidas realizadas, foram calculados os seguintes indicadores: duração da secagem, taxa de secagem, consumo total e horário de GLP, custo de combustível, custo de eletricidade e custo energético total.

Resultados e Discussão
A duração do período de secagem foi determinada pela umidade inicial dos grãos e pela temperatura do ar utilizado no processo de secagem (Tabela 1). A duração do período de secagem foi tanto maior quanto mais elevado foi a umidade na colheita e quanto menor foi a temperatura do ar de secagem, estando de acordo com observações feitas por Brooker et al. (1992) e por Cavariani et al. (1999). Nas três umidades de colheita, o aumento da temperatura de secagem de 40 ºC para 70 ºC diminuiu o tempo de secagem à metade, ao passo que, com o aumento de 70 ºC para 100 ºC, o tempo de secagem foi diminuído, em média, apenas 28%. Isso mostra que a taxa de transporte da água do interior do grão para a superfície, onde ocorre a troca com o ar (Brooker et al. 1981), foi limitante do processo de secagem e que o aumento de temperatura do ar de secagem (30 ºC) não respondeu em aumento proporcional na velocidade de secagem. A taxa de secagem aumentou com a temperatura do ar de secagem e diminuiu com a redução da umidade inicial, o que se explica pelas forças de atração da água na constituição do grão (Lasseran, 1978), ou seja, a extração da água é mais difícil quando os grãos apresentam baixa umidade.

Com o decorrer do processo, observou-se a secagem mais rápida da camada mais profunda da massa de grãos, o que teve como conseqüência também o aumento da temperatura dos grãos. Quanto mais próximos os grãos da entrada do ar aquecido, a temperatura dos grãos tendeu a se igualar com a do ar de secagem. O sentido do deslocamento do ar de secagem causou o avanço da frente de secagem de baixo para cima, gerando gradientes de umidade e de temperatura dos grãos entre as camadas inferiores e superiores, como observado por Pasin, 1991; Rodriguez, 1993; e Cavariani et al., 1999. Esses gradientes foram tanto maiores quanto maior foi a temperatura do ar de secagem e a umidade inicial.

O consumo de GLP e, conseqüentemente, o custo foram menores na colheita com umidade menor, nos três níveis de temperatura de secagem, em virtude da necessidade de um período menor de tempo para que se completasse a secagem. A maior demora do processo de secagem quando se empregou temperatura de secagem mais baixa levou a tendência de aumento de consumo de GLP. O consumo horário foi função somente da temperatura de secagem, devido ao maior gasto de combustível para a elevação da temperatura do ar de secagem. A umidade do grão na colheita teve relativamente pouco efeito sobre o consumo horário.

O custo da energia elétrica foi influenciado pela duração da secagem, uma vez que o tempo de secagem é maior com baixas temperaturas e com umidade inicial mais elevada. A participação do custo da energia elétrica no custo energético total aumentou com a diminuição da temperatura de secagem, independentemente da umidade inicial. Com a secagem a 100 ºC, a participação do custo da energia elétrica, em média, foi de 15% do custo total, enquanto com 70 ºC e 40 ºC essa participação aumentou para 18% e 30%, respectivamente. Pode-se observar que, quando se usou temperatura de secagem de 40 ºC, o custo da energia elétrica teve elevada participação no custo energético total da secagem.

Observou-se que o custo energético total diminuiu com a temperatura de secagem mais elevada e com a colheita com menor umidade dos grãos. Na média das três colheitas com diferentes níveis de umidade, o custo energético total foi 23% menor quando se aumentou a temperatura de secagem de 40 ºC para 70 ºC e 13% menor quando esse aumento foi de 70 ºC para 100 ºC. A redução no custo energético total, considerando-se a elevação da temperatura de 40 ºC para 100 ºC, foi de 36%. Entretanto, cabe salientar que devem ser considerados os aspectos qualitativos desejados para os grãos, pois a temperatura elevada e o apressamento da secagem prejudicam a qualidade final do produto.

Conclusões

  1. a taxa de retirada de água dos grãos de milho durante a secagem estacionária em secador de leito fixo foi tanto mais elevada quanto mais elevados foram a temperatura do ar de secagem e a umidade inicial dos grãos;
  2. foi observada desproporcionalidade entre o aumento da temperatura do ar de secagem e a diminuição do tempo de secagem;
  3. o processo de aquecimento e de secagem dos grãos deu-se no sentido das camadas mais profundas para as superficiais da massa de grãos, gerando gradientes, que foram tanto maiores quanto mais elevados a temperatura do ar de secagem e a umidade dos grãos;
  4. o consumo horário médio de GLP aumentou somente em função da temperatura de secagem;
  5. os custos de combustível e de energia elétrica foram menores quando a temperatura do ar de secagem foi mais elevada e quando a umidade dos grãos foi menor; e
  6. o custo energético total foi 23% menor quando se aumentou a temperatura de secagem de 40 ºC para 70 ºC e 13% menor quando esse aumento foi de 70 ºC para 100 ºC.

 


1Doutor em Engenharia Mecânica, Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970, Passo Fundo, RS. E-mail: portella@cnpt.embrapa.br
2Doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes, bolsista RD-CNPq. E-mail:luizei@terra.com.br
3Empresas parceiras, colaboradoras.


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