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Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online

Nº 61, jul./2001

Resultados de testes para necrose híbrida (Lr13) em populações F1 de cruzamentos de trigo na Embrapa Trigo

C. N. A. de Sousa1
A. L. Barcellos1

Resumo - A ferrugem da folha é uma doença que causa grandes danos ao cultivo do trigo no Brasil. É importante conhecer a composição dos genes de resistência dos genótipos em cultivo e dos que são usados em planos de cruzamento visando a criação de novas cultivares. Entre os genes de resistência já conhecidos está o Lr13. Existe associação entre o gene Lr13 e a presença do gene Ne2 para necrose híbrida. Quando um genótipo possuidor do gene Ne2 é cruzado com outro genótipo com o gene complementar Ne1, a necrose híbrida ocorre na geração F1. Foram realizados cruzamentos envolvendo 36 genótipos com linhas portadoras do gene Ne1. A geração F1 dos cruzamentos feitos foi conduzida em vasos em telado da Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, em 1999 e em 2000, além de haver dados anteriores referentes a 10 desses genótipos. Apresentaram necrose híbrida indicando a presença do gene Ne2 e evidenciando a possível presença do gene Lr13 os cruzamentos envolvendo os seguintes genótipos: BRS 119, IAC 24-Tucuruí, IPF 71327, IPF 71449, OC 959, PAT 7392, PF 940051, PF 940246, PF 940290, PF 940301, PF 950354, PF 960018 e PF 960181. Não apresentaram necrose híbrida as populações F1 envolvendo os seguintes genótipos: BH 1146, BRS 176, CD 102, Cotrirosa 3-78, Embrapa 10-Guaja, Embrapa 27, IAC 13-Lorena, OC 8111, Ocepar 21, PF 88522, PF 88618, PF 926, PF 950309, PF 950319, PF 950338, PF 950351, PF 950407, PF 960188, PF 960198, RS 1-Fênix, Rubi e Trigo BR 27.

INTRODUÇÃO

A ferrugem da folha causada pelo fungo Puccinia triticina é uma doença prejudicial para o cultivo de trigo no Brasil. É importante conhecer a composição dos genes de resistência dos genótipos em recomendação e dos que são usados em planos de cruzamento visando a criação de novas cultivares. Mais de 40 genes de resistência presentes em trigo foram catalogados por McIntosh et al. (1995). Entre os genes de resistência já conhecidos está o gene de planta adulta Lr13 que, isoladamente, não apresenta reação efetiva ao conjunto de raças do fungo no campo no Brasil mas que, em combinação com outros genes, pode contribuir para a resistência de determinado genótipo à doença.

Existe associação entre o gene Lr13 e a presença do gene Ne2 para necrose híbrida. Hawthorn (1981) não teve exito em recombinar os genes Lr13 e Ne2 mostrando ligação entre estes dois genes. Singh & Rajaram (1991) apresentaram informação sobre 50 cultivares mexicanas, sendo que 24 com indicação da presença de Lr13 e em todas estas com o gene Ne2 exceto as cultivares Penjamo 62 e Siete Cerros 66, com a presença de Ne2 e não possuindo o gene Lr13, o que indicou recombinação entre os dois genes. Dessa maneira a presença de Ne2 não garante a presença de Lr13.

Na natureza um genótipo pode ter o gene Ne1 ou o gene Ne2 ou não possuir nenhum destes genes. Quando um genótipo possuidor do gene Ne1 é cruzado com outro que possua o gene Ne2, a necrose híbrida ocorre na geração F1. Na ausência de Ne1 e/ou Ne2 a geração F1 é normal e sem a ocorrência de necrose híbrida.

O objetivo do presente trabalho foi detectar a presença ou ausência do gene Ne2 e, por extensão indicar, com reserva, a presença do gene Lr13 em genótipos de trigo por meio do teste de necrose híbrida.

MATERIAL E METODOS

Em 1999 e em 2000 foram testados para a presença do gene Ne2 populações F1 descendentes de 36 genótipos de trigo, incluindo 14 cultivares recomendadas no Brasil, 19 linhagens brasileiras, dois genótipos estrangeiros e um genótipo colonial. Em 10 dos 36 genótipos estudados já tinham sido realizados testes para necrose híbrida em anos anteriores, sendo os resultados incluídos no presente trabalho. Os genótipos em estudo foram cruzados com genótipos portadores do gene Ne1, incluindo as cultivares de trigo duro Altar (do México), Karim (Tunísia), Psathas (Chipre), Sacaba 81 (Bolívia), Sord 4 (México), Taray 85 (Perú) e Thor 2 (México), a linhagem de trigo sintético IPF 71392 (introduzida do México), a cultivar de trigo comum Spica, (Austrália), e a linhagem de trigo comum PF 89419 (Brasil).

Foram realizados 2 ou mais cruzamentos com cada genótipo alvo do estudo. As populações F1 dos cruzamentos realizados foram plantadas em vasos (dois vasos por cruzamento) e mantidas em telado. Após um mês foi realizada a avaliação da presença ou não da necrose híbrida. O material foi acompanhado até o final do ciclo para verificar a veracidade dos cruzamentos realizados, nos casos em que as evidências são fáceis de verificar como na situação do híbrido entre Triticum aestivum e Triticum durum.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número de plantas com e sem necrose híbrida por cruzamento nas populações F1 é apresentado na Tabela 1. Aos resultados obtidos em 1999 e em 2000 de populações F1 descendentes de 36 genótipos de trigo, foram adicionados os dados coletados em anos anteriores referentes a esses genótipos, totalizando 110 populações no geral. Quando foi observada a ocorrência de necrose híbrida essa ocorreu com muita nitidez e no grau máximo 8 da escala de Hermsen (Hermsen, 1963), com as plantas apresentando apenas um afilho com ocorrência da necrose a partir do estádio de 1-2 folhas e com a morte da planta antes do espigamento.

Possuem o gene Ne2 em função dos resultados obtidos os seguintes genótipos: BRS 119, IAC 24-Tucuruí, IPF 71327, IPF 71449, OC 959, PAT 7392, PF 940051, PF 940246, PF 940290, PF 940301, PF 950354, PF 960018 e PF 960181.

Não apresentaram necrose híbrida as populações F1 envolvendo os seguintes genótipos: BH 1146, BRS 176, CD 102, Cotrirosa 3-78, Embrapa 10-Guaja, Embrapa 27, IAC 13-Lorena, OC 8111, Ocepar 21, PF 88522, PF 88618, PF 926, PF 950309, PF 950319, PF 950338, PF 950351, PF 950407, PF 960188, PF 960198, RS 1-Fênix, Rubi e Trigo BR 27.

As reações para necrose híbrida em 1999 e em 2000 confirmaram as reações obtidas anteriormente em 9 dos 10 casos. Entretanto a cultivar Trigo BR 35, em avaliações anteriores, apresentou dados não consistentes e necessita de mais informações para definição de sua situação real.

Em alguns genótipos, pela genealogia e pela informação já disponível dos genitores, é possível deduzir a origem provável de onde o gene Ne2 foi incorporado. No caso de PF 950354, os dois genitores da linhagem, Embrapa 16 e PAT 7392, também apresentam o gene Ne2. PF 960018 é descendente da cultivar Frontana, detectada como cultivar possuidora do gene Ne2 e do gene Lr13 em trabalhos pioneiros. PF 940290 é descendente de retrocruzamento que têm como cultivar recorrente Trigo BR 23, de onde o gene Ne2, provavelmente, foi transferido. O cruzamento de PF 940246 envolve, também, a cultivar Trigo BR 23. IPF 71327 e IPF 71449 são linhagens introduzidas do México e descendentes do cruzamento Chum 8/Bagula. Segundo Singh & Rajaram (1991), a cultivar mexicana Bagula possui o gene Lr13 e assim é doadora do gene Ne2 nas duas introduções.

Os dados obtidos e a realização de testes com o uso de isolados especiais do fungo com temperaturas adequadas são importantes subsídios para detectar a presença do gene Lr13 em genótipos de trigo (Pretorius et al., 1984; Singh & Rajaram, 1991; Zoldan et al., 2000).

CONCLUSÃO

Do estudo das populações descendentes de 36 genótipos estudados em 1999 e em 2000, a necrose híbrida foi detectada em populações F1 descendentes de 13 materiais (36 % dos genótipos avaliados). Nesses genótipos está presente o gene Ne2, possivelmente associado ao gene Lr13 para resistência à ferrugem da folha. Entre os genótipos com o gene Ne2 estão as cultivares BRS 119, IAC 24-Tucuruí e PAT 7392. Em 23 dos genótipos estudados (64 %) não foi detectada a presença do gene Ne2.


1 Eng.-Agr., Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.

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