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Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online

Nº 60, jul./2001

Dessecação, uma tecnologia que reduz perdas na colheita de soja

Erivelton Scherer Roman 1
Osmar Rodrigues 2
Alan McCracken 3

A dessecação é uma técnica usada em várias partes do mundo, para antecipar a colheita de culturas. No Brasil, é usada para antecipar a colheita de soja. Proporciona uma série de vantagens, tais como:

- antecipação, uniformidade e facilidade na colheita;

A dessecação deve ser indicada quando a lavoura se encontra com plantas daninhas ainda verde, no momento da colheita ou quando a cultura apresenta maturação desuniforme. É uma técnica que envolve a aplicação de um produto químico para secar uma cultura artificialmente, o qual uma vez aplicado, promove a rápida e completa secagem de todas as partes verdes de uma planta. São dois os ingredientes ativos disponíveis, (Paraquat e Diquat), que possuem as características necessárias para serem utilizados em dessecação. O Diquat é especialmente recomendado na dessecação da cultura de soja e das plantas daninhas de folhas largas. O Paraquat possui a mesma ação do anterior, sendo, porém, mais eficaz para controlar plantas daninhas de folhas estreitas (gramíneas). A técnica baseia-se na aplicação de um desses produtos ou mistura de ambos, conforme as espécies de plantas presentes.

Testes efetuados em vários países, inclusive no Brasil, demonstraram que as colhedoras operam mais rapidamente e que há redução de grãos quebrados, quando a cultura está uniformemente seca.

Antecipação da colheita: sob condições normais, os grãos estão fisiologicamente maduros de dez a quinze dias antes da secagem natural da planta na lavoura.

Redução nas perdas de colheita: muitas vezes a cultura não se desenvolve uniformemente, devido a condições climáticas desfavoráveis. Em tais condições, a dessecação produz rápida secagem de todas as partes verdes da cultura de soja e das plantas daninhas, permitindo melhor funcionamento, melhor eficiência da colhedora e redução de perdas.

Redução de impurezas (grãos mais limpos): além de causarem redução no preço pago pela soja, as impurezas também aumentam custos de secagem e de limpeza.

Aumento da qualidade de grãos:

1) germinação de sementes: pesquisas realizadas confirmam que a técnica de dessecação não diminui a germinação e que, pelo contrário, usando a dessecação, o poder germinativo é incrementado. Testes conduzidos no Brasil mostraram que a porcentagem de germinação de sementes das plantas não dessecadas foi menor quando comparada com tratadas. Além disso, sementes obtidas de parcelas não tratadas, apresentaram elevado nível de infecção por microorganismos (Aspergillus sp. e Fusarium sp.) e de danos, quando comparadas com as sementes provenientes de parcelas dessecadas.

2) grãos mais limpos: a dessecação das partes verdes das plantas daninhas permite produção limpa e uniforme. Devido à dessecação, as sementes imaturas das plantas daninhas não são viáveis e, portanto, não germinam na próxima safra.

3) umidade dos grãos: freqüentemente há material verde que entra na colhedora junto com soja, aumentando a umidade dos grãos colhidos. Com a colheita dos grãos mais secos, há menos material estranho entrando nos armazéns, resultando em menor perda de peso. Alguns resultados de ensaios indicam uma perda de peso de mais de 6 % em comparação com a área dessecada.

Cuidados na aplicação: os dessecantes são herbicidas totais (não seletivos) e que agem principalmente através da ação de contato. É, portanto, importante tomar cuidados para que não ocorra deriva durante a aplicação e que a pulverização não atinja lavouras vizinhas.

Dosagem: geralmente, a dose é de 1 litro de Paraquat + 1 litro de Diquat (com 200 gramas de ingrediente ativo por litro) por hectare. Recomenda-se adicionar um agente umectante (Agral ou outro espalhante não iônico) à calda herbicida, para assegurar que a folhagem seja adequadamente molhada. A desvantagem da dessecação está no uso de produtos químicos, o que pode elevar o custo de produção da lavoura, e causar impacto ambiental.

Época de aplicação: é o ponto mais crítico da dessecação. Aplicações não devem ser realizadas antes que os grãos da cultura-alvo estejam fisiologicamente maduros. Na maturação fisiológica, a semente já cessou de acumular foto-assimilados. Nesse estádio, as vagens começam a amarelecer, com 50% das folhas amareladas, normalmente de 10 a 15 dias antes da data prevista para a colheita. A coloração marrom-escura do hilo da semente também indica a maturação fisiológica. A partir desse momento, a dessecação pode ser iniciada.

Equipamentos de aplicação: para aplicação terrestre, podem ser usados pulverizadores de barra e atomizadores. Quando se usa pulverizadores de barra, deve-se empregar volume de 100 a 200 litros de calda por hectare, dando preferência aos bicos do tipo leque, para assegurar penetração e cobertura. Os jatos de pulverização projetados pelos bicos devem se cruzar acima do alvo. No caso de condições difíceis, como, por exemplo, cultura densa e alta incidência de plantas daninhas, é recomendável utilizar menor espaço entre bicos com inclinação de 45 graus para trás. Deve-se trabalhar com baixa pressão, a fim de evitar danos de deriva nas culturas vizinhas.

A aplicação também é possível com máquinas tipo atomizador tratorizado. Com este equipamento é importante não usar vazão menor que 20 litros/ha de água, assegurando cobertura da folhagem. São os seguintes os pontos a observar na aplicação de dessecantes:

- não aplicar em condições de temperatura elevada e de baixa umidade;

- não aplicar quando houver vento com velocidade superior a 8 km/hora;

- não aplicar quando não há movimento do ar após um dia de calor, quando a temperatura está em ligeiro declínio, pois nessas condições pode estar ocorrendo inversão térmica e pode haver perda do produto por evaporação ou por deriva.

A técnica de aplicação aérea é recomendada e, também, preferível, quando se trata de grandes áreas. A aplicação deve ser feita usando-se volume de 30 litros/ha de água, com cuidados especiais para evitar deriva. Pode ser utilizado o equipamento Micronair ou sistema de barra com bicos, os quais com regulagem certa, proporcionam resultados eficazes. Grandes áreas já foram tratadas no Brasil usando vazões de 30 litros /ha em faixa útil de 15 metros.

Planejamento da colheita de soja: o teor de umidade dos grãos de soja é importante aspecto a ser considerado na colheita da, sendo ideal entre 12 e 14 %. Prejuízos elevados na colheita podem ser esperados quando a cultura de soja estiver muito seca. Quando o teor de umidade dos grãos de soja for inferior a 12%, os grãos se tornam duros e quebradiços e, portanto, facilmente danificáveis durante a colheita. Os danos mecânicos prejudicam muito a longevidade de sementes.

É fundamental programar a colheita para conseguir uma produção de soja de qualidade superior, pois a dessecação permite ao agricultor estender este período da colheita, permitindo, até mesmo, colheita precoce. Assim, a área a ser tratada de uma só vez deve ser em função da capacidade diária das colhedoras disponíveis. A dessecação proporciona, portanto, lavoura com maturação uniforme, produto limpo, colheita facilitada, mais rápida e com menos impurezas.


1 Eng. Agr., Ph. D., Pesquisador da Embrapa Trigo. E-mail: eroman@cnpt.embrapa.br
2 Eng. Agr., Msc, Pesquisador da Embrapa Trigo. E-mail: osmar@cnpt.embrapa.br
3 Eng. Agrícola,United Agri Products-International Market Development Manager
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