Ministério da Agricultura e do Abastecimento

Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 58, dez./00

Situação atual e perspectivas da canola no Brasil

Gilberto Omar Tomm1

Realizou-se na Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, em 7 de dezembro de 2000, a II Reunião Brasileira de Canola, da qual participaram empresários, técnicos, produtores e pesquisadores que integram a cadeia produtiva de canola no Brasil e convidados do Paraguai. No evento, foram apresentadas informações sobre recentes desenvolvimentos da cultura, perspectivas futuras e programação de atividades, visando à coordenação de esforços com o objetivo de reduzir custos e aumentar a eficiência e o sucesso no desenvolvimento da cultura de canola e de sua inserção no mercado. Esta matéria contém informações gerais apresentadas durante o evento e informações complementares sobre canola no Brasil.

Os planos de desenvolvimento de cada organização envolvida atualmente com o cultivo de canola foram apresentados por José Roberto Gomes, Eng.-Agr. da COCAMAR (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá, Maringá, PR), Jaime Tauchert, Eng.-Agr. da COTRIBÁ (Cooperativa Agrícola Mista General Osório Ltda., de Ibirubá, RS), Osmar L. Giovelli, Diretor da GIOVELLI & Cia Ltda. (Guarani das Missões, RS), e Roberto Kist, Diretor da CAMERA Ind. e Com.(Santa Rosa, RS). Relatos sobre a safra de canola em 2000 na área de atuação de suas respectivas organizações foram apresentados por José Roberto Gomes, Eng.-Agr. da COCAMAR, Nara Lúcia Martins, Enga.-Agra. da CAMERA, João Heinrich, Eng.-Agr. da COTRIBÁ, Gelson Melo de Lima, Eng.-Agr. da COTRIJAL (Cooperativa Tritícola Alto Jacuí Ltda., Não-Me-Toque, RS) e Edoard Schaffrath, Eng.-Agr. da Agro Guarani, S.R.L., do Paraguai.

Área de cultivo de canola no Brasil

A área semeada com canola no Brasil, no ano de 2000, segundo informações disponíveis, foi de 18.900 hectares, sendo 10.900 ha no Rio Grande do Sul e 8.000 ha no Paraná. A produção de canola está sendo executada basicamente com semente de híbridos importados e adoção de tecnologias não validadas e ajustadas às condições de clima e solo sul-brasileiras [Figura 1]. O crescimento da área de cultivo nas próximas safras dependerá da geração e adaptação de tecnologias para aumentar a segurança de investimentos no cultivo de canola.

Quem está liderando o fomento à produção de canola no Brasil ?

Empresas como CAMERA Ind. e Com., e Giovelli & Cia. Ltda. e cooperativas como Cotribá, COTRIMAIO (Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda.), COTRIJAL, no Rio Grande do Sul, e Cocamar, no Paraná, têm realizado esforços e investimentos expressivos no desenvolvimento da cultura de canola para atender à crescente demanda por esse óleo vegetal de qualidade.

Mercado para óleo e farelo de canola

Das apresentações, verificou-se que a demanda de grãos de canola no Brasil é muito superior à oferta. O valor que está sendo pago ao produtor atualmente é de R$ 20,00 por saca e independe de critérios de qualidade. Segundo Emílio Figer, da CAMERA Ind. e Com., o percentual de consumo de óleo de canola no Brasil é inferior a 0,5 % enquanto que o de girassol ocupa aproximadamente 10 % do mercado, o qual é abastecido basicamente mediante importações.

O óleo de canola tem sido indicado por médicos e nutricionistas como o óleo com a melhor composição de ácidos graxos para atender interessados em dietas mais saudáveis. O óleo de canola possui o menor teor de gorduras saturadas, apenas 7 %, contra 12 % no de girassol, e ainda apresenta o teor mais elevado (11 %) de ácido alfa-linoléico (um ácido graxo Ômega-3). Os ácidos Ômega-3 reduzem riscos de ataques cardíacos e infartos, e o Departamento de Saúde do Canadá recomenda que adultos consumam aproximadamente 1 grama de ácidos graxos Ômega-3 diariamente, quantidade disponível em uma colherada de óleo de canola (Morris, 2000B). Pesquisadores crêem que a vitamina E (alfatocoferol), a qual atua como antioxidante inativando os radicais livres, também tem papel importante na proteção contra as enfermidades coronárias. Dez mililitros (duas colheres de chá) de óleo de canola refinado contém 1,9 mg de Vitamina E suprindo em média 1/5 da necessidade diária de um adulto (Morris, 2000A). Por essas razões as indústrias de óleo vegetal esperam grande incremento na demanda de óleo de canola no Brasil. Essa expectativa também segue a tendência mundial no aumento de consumo de óleo de canola, a exemplo do verificado nos EUA, onde esse produto cresceu rapidamente e já ocupa 20% do mercado de óleos vegetais. A demanda por farelo de canola no Brasil também supera a oferta. Essas peculiaridades demonstram o potencial e embasam previsões de grande expansão do mercado de óleo de canola no Brasil. Entretanto, para a expansão, é necessário reduzir o gargalo na cadeia produtiva resultante de baixos rendimentos de lavoura.

Os baixos rendimentos limitam a expansão da canola no Brasil: falta pesquisa para gerar e adaptar tecnologia de produção

Rendimento de grãos superiores a 2.000 kg/ha obtido por determinados agricultores e em parcelas experimentais evidenciam que o potencial de rendimento de canola nas condições do Sul do Brasil supera a produtividade média obtida no Rio Grande do Sul e no Paraná, entre 700 e 800 kg/ha. Embora a pesquisa e o cultivo de canola tenham iniciado no Sul do Brasil em 1974, portanto há 26 anos, a carência de tecnologia adaptada a região é muito marcante e tem limitado a área semeada ao máximo de 20.000 hectares, aproximadamente a área semeada na safra de 2000. A falta de pesquisa tem levado ao cultivo de cultivares e híbridos de canola sem avaliação prévia no Brasil. Em praticamente toda a área semeada no Brasil e no Paraguai, têm sido empregadas sementes de canola importadas, as quais custam ao agricultor até R$ 18,00/kg, perfazendo o total de R$ 90,00/ha. Há dois anos, em Passo Fundo, a Embrapa ainda fornecia sementes de cultivar desenvolvida pela própria instituição a R$ 2,00/kg. Resultados de experimentos da Embrapa Trigo até 1996 evidenciaram que, no Rio Grande do Sul, o uso de cultivares mais adaptadas pode dobrar o rendimento de grãos em relação ao obtido com híbrido mais plantado na safra 2000. Por exemplo, a cultivar Global, em 1993, produziu 2.220 kg/ha enquanto o rendimento máximo dos híbridos precoces foi de 1.605 kg/ha. Em 1996, essa mesma cultivar rendeu 2.455 kg/ha de grãos, ao passo que o híbrido precoce semeado na maioria das lavouras rendeu 825 kg/ha.

No Rio Grande do Sul, na safra 2000, a ocorrência de canela preta [Figura 2], doença causada pelo fungo Leptosphaeria maculans (Desm.) Ces. et de Not./Phoma lingam (Tode:Fr.) Desm., [Figura 3] foi mais acentuada que nos 26 anos anteriores em que se pesquisou e cultivou canola no Brasil. A severidade da doença foi elevada em certas épocas de semeadura e em determinados municípios [Figura 4] e deve ser analisada com vistas à definição de estratégias para os próximos anos. Uma das soluções mais econômicas passa pela identificação de cultivares ou híbridos resistentes a essa doença, a exemplo do que foi realizado com muito sucesso na Austrália. Durante a II Reunião Brasileira de Canola, foram apresentadas informações sobre a epidemiologia da referida doença e sobre variedades resistentes obtidas por Gilberto O. Tomm (pesquisador da Embrapa Trigo) e Luis Volney Viau (professor da Unijuí) junto a especialistas do Canadá, graças ao apoio da CAMERA Ind. e Com., da COTRIBÁ e da ADVANTA Canada Inc.

Investimentos em pesquisa podem eliminar as limitações e permitir que a canola seja muito importante também no Brasil

No Canadá, uma visão de longo prazo levou a investimentos em pesquisa, o que permitiu a redução dos teores de ácido erúcico e glucosinolatos da colza e o desenvolvimento da cultura de canola e de sua tecnologia de cultivo. Hoje, essa cultura, no Canadá, já possui importância econômica semelhante à de trigo. Assim, para o desenvolvimento de canola no Sul do Brasil, em muitos casos, a transferência e o ajuste de tecnologias, através de pesquisas aplicadas para adaptação de técnicas, pode dar retorno rápido a custo relativamente baixo e reduzir as limitações à elevação da produtividade das lavoura.

Durante a II Reunião Brasileira de Canola, foi debatida a instalação de uma rede de experimentos de competição de cultivares/híbridos de canola para diminuir os riscos de insucesso associados à importação e à semeadura de materiais sem avaliação prévia na região. Deverão ainda ser realizados dois experimentos em lavouras que registraram elevada ocorrência de canela preta na safra passada para identificar as cultivares/híbridos mais tolerantes ou resistentes a esse fungo.

Formação de uma associação brasileira de canola:

Os presentes ao evento concluíram que é imprescindível a realização de pesquisas e o apoio da Embrapa para disponibilizar conhecimentos e tecnologia de suporte à produção de canola no Sul do Brasil. Foi sugerida por Gilberto O. Tomm que se promova a união de esforços de organizações vinculadas à cultura de canola para facilitar o desenvolvimento de soluções, visando ao aumento da produção de canola no Brasil, bem como a reduzir custos e riscos para as organizações envolvidas, a exemplo do Projeto METAS, o qual permitiu a rápida expansão da adoção do sistema plantio direto na região. Na parte final da reunião, foi definida a formação da Associação Brasileira de Canola, visando a coordenar os esforços de desenvolvimento da canola no Brasil, da qual sugere-se façam parte empresas e cooperativas vinculadas à produção e ao recebimento, empresas de pesquisa e assistência técnica que prestam suporte à cultura, representantes de produtores e empresas fornecedoras de insumos. Para coordenar os trabalhos, foi eleita por unanimidade uma comissão de implementação da Associação Brasileira de Canola, composta por Emílio Figer (CAMERA), Jaime Tauchert (COTRIBÁ), José Roberto Gomes (COCAMAR) e Osmar L. Giovelli (Giovelli & Cia Ltda). Essa comissão deverá preparar uma proposta de regimento e estrutura para a entidade e organizar a III Reunião Brasileira de Canola, provável ocasião em que se realizará a fundação da associação.


1Eng.-Agr., Ph. D.,  Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451. CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. tomm@cnpt.embrapa.br

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