Ministério da Agricultura e do Abastecimento

Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
          Nº 57, dez./00

Efeito do frio em trigo

Pedro Luiz Scheeren1
Gilberto Rocca da Cunha1
Fábio José Siqueira de Quadros2
Luiz Fernando Martins3

O efeito de baixas temperaturas na cultura de trigo produz resultados diferenciados, dependendo do estádio de desenvolvimento em que ocorre. A Embrapa Trigo vem trabalhando, desde 1976, na avaliação e na criação de linhagens de trigo com maior tolerância à geada, que é a condição de frio que maiores prejuízos tem causado na cultura, no Sul do país.

É dito, freqüentemente, entre os agricultores, que a geada é benéfica ao trigo, principalmente nos períodos iniciais de desenvolvimento. Por outro lado, com as geadas, pragas e doenças de trigo são reduzidas, beneficiando indiretamente a cultura em início de estabelecimento.

Contudo, a temperatura ideal para o pleno desenvolvimento da planta não deve ser muito baixa, pois pode paralisar o crescimento de trigo. Quando ocorre baixa temperatura na fase inicial da lavoura, sem formação de geadas, haverá prolongamento do período vegetativo e o trigo desenvolverá mais afilhos, resultando também em sistema radicular mais abundante, possibilitando maior exploração dos nutrientes do solo. Para o afilhamento, temperaturas entre 15 e 20 ºC são excelentes, enquanto para o desenvolvimento de folhas a temperatura ideal é de 20 a 25 ºC. A partir do estádio de alongamento, temperaturas muito baixas, com formação de geadas fortes, poderão provocar "queima" de folhas e "estrangulamento" do colmo de trigo, prejudicando severamente a cultura. O "estrangulamento" do colmo dá-se quando ocorre rompimento das paredes celulares nos pontos de crescimento/alongamento dos entrenós.

Quando ocorre geada na fase de espigamento/florescimento, os danos podem ser muito severos, havendo redução no número de grãos por espigueta e, conseqüentemente, por espiga. Os danos por geada podem ser observados quando a temperatura (no abrigo meteorológico), durante a floração, é menor do que – 1 ºC. Além disso, quando ocorrem geadas muito intensas (com temperaturas abaixo de -2 ºC=dois graus Celsius (centígrados) negativos no abrigo do posto meteorológico), na fase de florescimento, os danos são totais e as perdas irreversíveis. Também, com –2 ºC ou temperaturas inferiores, ocorrem sérios prejuízos no enchimento de grãos. Basta aguardar de cinco a sete dias, após a geada, quando o prejuízo pode ser comprovado. Temperatura de 0ºC (zero graus Celsius), ou menor, no abrigo meteorológico, indica possibilidade de danos em lavouras de trigo, principalmente naquelas localizadas nas "baixadas" de campo.

As observações feitas até hoje indicam que dificilmente será possível a obtenção de variedades de trigo tolerantes à geada, na fase reprodutiva. Em diversos experimentos realizados na Embrapa Trigo em anos anteriores, em que houve ocorrência de geadas fortes (abaixo de –2 ºC) durante a floração de trigo, foram verificados danos irreversíveis nas espigas de todos os genótipos avaliados. Durante a fase de grão leitoso, o dano causado é o enchimento incompleto do grão (enrugamento), resultando em baixo peso específico (ou PH) e, por conseqüência, em redução no rendimento de grãos e na qualidade final destes.

Observações realizadas em lavouras e em experimentos conduzidos no Paraná, após a geada de 13 de julho de 2000, que registrou temperaturas de até –14 ºC, sugerem que, no material genético e nas cultivares em uso no Brasil, não existe variabilidade quanto à resistência à geada na fase de floração. Todos os genótipos mostraram grande suscetibilidade a geadas dessa magnitude.

No Rio Grande do Sul, principalmente nas regiões da Serra e do Planalto, as temperaturas extremas ocorreram no dia 14 de julho de 2000. Em Passo Fundo, no campo experimental da Embrapa Trigo, em experimento semeado em 5 de maio de 2000, para avaliação dos efeitos da geada em diversas linhagens e cultivares de trigo, a temperatura atingiu –8,5 ºC nos termômetros colocados entre as parcelas. As plantas estavam nas fases final de afilhamento (genótipos mais tardios) e alongamento (genótipos mais precoces). Como resultado, ocorreram significativos danos de "queima nas folhas" e de "estrangulamento" do colmo logo acima dos primeiros nós diferenciados. Para essa análise, foram considerados os genótipos que apresentaram comportamento comum para queima de folhas e rendimento; as cultivares com maior efeito de queima de folhas foram BR 18, BR 35 e EMBRAPA 40. Por outro lado, a linhagem PF 960188 e a cultivar BRS 194 revelaram maior tolerância (Tabela 1). Considerando o rendimento de grãos (Tabela 2), o mais elevado rendimento foi alcançado pela linhagem PF 960188 e pela cultivar BRS 194, enquanto as cultivares BR 35, BR 18 e EMBRAPA 40 apresentaram mais baixo rendimento. As diferenças de rendimento, além do fator genético, podem ser atribuídas, também, ao maior ou menor prejuízo devido ao efeito da geada. O baixo PH registrado nesse experimento foi, em parte, devido às chuvas intensas que ocorreram na época da colheita.

Para diminuir os riscos com geada, a pesquisa tem recomendado a diversificação e o escalonamento de épocas de semeadura, deixando as variedades mais suscetíveis para o fim da época de plantio recomendada e para as partes mais altas da lavoura. Atualmente, dentre as cultivares registradas, o Trigo BR 35 é um exemplo de material com suscetibilidade à geada. Enquanto isso, algumas cultivares têm mostrado considerável comportamento em relação ao frio, o que pode ser devido à adaptação natural das variedades ao longo do processo de seleção. BRS 194 é o exemplo de trigo com expressiva tolerância ao frio, principalmente à "queima das folhas".


1Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451. CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. scheeren@cnpt.embrapa.br, cunha@cnpt.embrapa.br
2Bolsista Embrapa Trigo/UPF. Caixa Postal 451. CEP 99001-970 Passo Fundo, RS.
3Bolsista ITI/RHAE/CNPq.

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