Ministério da Agricultura e do Abastecimento

Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
          Nº 56, dez./00

Fungos de grãos de cereais de inverno em função de épocas de colheita

Maria Imaculada Pontes Moreira Lima1
José Antonio Portella1
Gerardo Arias1

O processo de deterioração causado por fungos inicia-se no campo durante a maturação e continua nos processos de colheita, de secagem, de transporte e de armazenamento do produto. Esses fungos podem ser classificados em três grupos: Fungos de Campo, Fungos Intermediários e Fungos de Armazenamento (Lazzari, 1993a).

Segundo Lazzari (1993a), existe pouco ou nenhum controle sobre as condições que favorecem o desenvolvimento de fungos de campo, pois eles invadem a cultura durante os estádios finais de amadurecimento. Os fungos de campo mais comuns são Alternaria, Cladosporium, Fusarium e Helminthosporium (Lazzari, 1993a).

Os fungos intermediários invadem os grãos antes da colheita e continuam a crescer e a causar dano durante o armazenamento. Nessa categoria enquadram-se algumas espécies de Penicillium e de Fusarium e certos levedos (Lazzari, 1993a). Segundo Belém (1994), no período pós-colheita e durante o transporte e armazenamento de produtos agrícolas, o crescimento fúngico pode ser influenciado por muitos fatores, principalmente nível de umidade, temperatura, aeração, danos provocados por insetos, e tempo de armazenamento, entre outros.

Os maiores efeitos do desenvolvimento fúngico em grãos e sementes armazenados são perda do poder germinativo, perda de matéria seca, produção de micotoxinas e alteração do valor nutricional (Lazzari, 1993b). Segundo Scussel (1998), as micotoxinas mais largamente encontradas em alimentos, com possível dano ao consumidor, são: toxinas do Ergot, aflatoxinas, esterigmatocistina, ocratoxina, zearalenona, tricotecenos, fumonisinas, patulina, toxinas produzidas em arroz, rubratoxinas, esporodesminas, ácido ciclopiazônico e micotoxinas tremorgênicas. O principal grupo de fungos, de conhecida capacidade para produzir micotoxinas, inclui espécies de Aspergillus, de Penicillium, de Fusarium, de Claviceps, de Alternaria, de Pithomyces e de Stachybotrys. Contudo, os gêneros dominantes são Aspergillus, Penicillium e Fusarium (Belém, 1994).

A condição climática no Rio Grande do Sul, com precipitações pluviais acima da média no período de colheita, tem elevado a ocorrência de doenças nas lavouras, prejudicando a qualidade de sementes e grãos produzidos.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento de fungos em grãos de trigo e de cevada em função de épocas de colheita e de temperaturas de secagem de grãos.

No município de Coxilha, RS, o plantio e a condução de lavouras de cevada (cultivar BR 2) e de trigo (cultivar BRS 49) em 1999 foram realizados de acordo com as recomendações técnicas preconizadas para essas culturas (Reunião,1999; Reunião, 2000). Os grãos de cevada foram colhidos com umidade de 29,0 %, 22,0 %, 15,2 % e 13,8 % e os de trigo com 29,1 %, 16,0 % e 13,0 % de umidade. A umidade de grãos de cevada foi reduzida para aproximadamente 13,0 %, em secador a lenha com temperatura de 45 ± 5 oC. Os grãos de trigo colhidos, em cada umidade, foram divididos em três partes, visando à redução da umidade para aproximadamente 13,0 %, em secador de leito fixo, usando-se gás liqüefeito de petróleo (GLP) como fonte geradora de energia. As temperaturas de secagem foram 100 ± 5 oC, 70 ± 5 oC e 40 ± 5 oC.

Para avaliar a incidência de fungos em grãos durante a colheita, coletou-se uma amostra de grãos, para cada umidade de colheita, antes do início da secagem, denominada "amostra fresca". Após a secagem de grãos, foi instalado ensaio em delineamento inteiramente ao acaso com três repetições. Os tratamentos para cevada foram: 1- Colheita com 29,0 % de umidade; 2- Colheita com 22,0 % de umidade; 3- Colheita com 15,2 % de umidade; e 4- Colheita com 13,8 % de umidade. Os tratamentos para trigo foram: 1- Colheita com 29,1 % de umidade e secagem a 100 oC ; 2- Colheita com 29,1 % de umidade e secagem a 70 oC; 3- Colheita com 29,1 % de umidade e secagem a 40 oC; 4- Colheita com 16,0 % de umidade e secagem a 100 oC; 5- Colheita com 16,0 % de umidade e secagem a 70 oC; 6- Colheita com 16,0 % de umidade e secagem a 40 oC; e 7- Colheita com 13,0 % de umidade. Cada repetição de cada tratamento foi formada por cinco quilogramas de grãos, armazenados em ambiente escuro a temperatura ambiente. Foram realizadas avaliações da patologia e do poder germinativo de grãos em zero, um, dois, três, seis, nove e doze meses de armazenamento.

A patologia de sementes foi realizada pelo método do plaqueamento em meio de cultura BDA (Batata-Dextrose-Ágar), e o poder germinativo, pelo teste de germinação em papel germitest, ambos com 300 sementes por repetição.

Como resultados da cultura de cevada, verificou-se que, até três meses de armazenamento, os fungos Alternaria sp., Bipolaris sorokiniana, Epicocum e Fusarium graminearum apresentaram as maiores freqüências. Destes, B. sorokiniana e F. graminearum são patógenos importantes para a cultura de cevada. Conforme dados de freqüência na "amostra fresca" (Fig. 1), a tendência dos fungos saprófitas, Alternaria sp. e Epicocum é de aumentar com a redução da umidade de grão na colheita, ou seja, com a permanência da cultura no campo, enquanto a dos fungos patogênicos praticamente não foi influenciada pela umidade de grão na colheita (permanência na lavoura). Nos primeiros três meses de armazenamento, a freqüência de F. graminearum foi menor quando a colheita foi realizada com 29,0 % de umidade. De modo geral, a freqüência de B. sorokiniana não foi influenciada pelo armazenamento. A tendência de Alternaria sp. foi aumentar nos primeiros meses de armazenamento. Epicocum e Alternaria sp. mantiveram-se com percentuais mais elevados quando a colheita foi realizada com 13,8 % de umidade.

Para a cultura de trigo, os fungos que apresentaram as maiores freqüências, até três meses de armazenamento, foram: Alternaria sp., Cladosporium, Epicocum e F. graminearum. Destes, apenas F. graminearum é patogeno para trigo. Conforme dados de freqüência obtidos na "amostra fresca" (Fig. 2), a freqüência de saprófitas aumentou com a diminuição da umidade de colheita do grão, ou seja, com a permanência da cultura na lavoura. Nos primeiros três meses de armazenamento, a freqüência do fungo Alternaria sp. tem-se mantido com os maiores percentuais. De modo geral, a colheita com maior umidade e secagem realizada a 100 oC tem apresentado redução mais rápida da freqüência de fungos no armazenamento.

Quanto ao poder germinativo (PG), até três meses de armazenamento, foi observado, tanto para trigo como para cevada, que essa característica aumenta à medida que a colheita é realizada com menor umidade de grãos. A temperatura de 100 oC para a secagem de grãos de trigo reduziu o PG.

Este trabalho está sendo realizado por três safras consecutivas e espera-se obter conhecimento sobre a influência de épocas de colheita e de temperaturas de secagem de grãos na incidência de fungos no armazenamento. Este procedimento visa à melhoria quali-quantitativa de grãos de trigo e de cevada no armazenamento.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo.Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: imac@cnpt.embrapa.br, portella@cnpt.embrapa.br, arias@cnpt.embrapa.br

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