Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 50, abr./2000

Reação ao crestamento de cultivares de trigo em recomendação na região tritícola Centro-sul Brasileira em 1999
Cantídio N.A. de Sousa 1

Resumo

O crestamento do trigo, causado pela toxicidade do alumínio e por outros elementos do solo, como o manganês, é um problema preocupante em várias zonas onde esse cereal é cultivado nos estados componentes da Região Tritícola Centro-Sul Brasileira, que abrange o Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O objetivo deste trabalho é divulgar os dados atualizados das avaliações de crestamento realizadas em Passo Fundo, RS, em relação às cultivares de trigo em recomendação na região e testadas por 3 a 10 anos no período de 1989 a 1999, em condições de campo. Foram dadas notas de 0,5 (altamente resistente) a 5,0 (altamente suscetível) nas parcelas avaliadas para crestamento. Foram classificadas na categoria resistente ao crestamento as cultivares BRS 49, Embrapa 16, IAC 24-Tucuruí, IAPAR 53, IPR 84, Trigo BR 23 e Trigo BR 35. Das cultivares enumeradas, BRS 49 e Trigo BR 35 foram as mais resistentes entre as 37 cultivares consideradas na avaliação. As cultivares BRS 120, BRS 176, BRS 177, CD 102, CD 103, CD 105, CEP 24-Industrial, Embrapa 27, IAPAR 6-Tapejara, IAPAR 60, IPR 85, OCEPAR 16, OCEPAR 21, OCEPAR 22, OR 1, Rubi, Trigo BR 18-Terena e Trigo BR 40-Tuiúca foram classificadas no grupo moderadamente resistente, e as cultivares CD 104, IAPAR 28-Igapó, IAPAR 78, Manitoba 97, Tauro e Trigo BR 17-Caiuá no grupo moderadamente suscetível. No grupo suscetível ao crestamento, estão presentes as cultivares Anahuac 75, CD 101, Embrapa 10-Guajá, IAC 287-Yaco, IAPAR 17-Caeté e IAPAR 29-Cacatu. Observou-se grande variabilidade de reação ao crestamento entre as cultivares avaliadas. A escolha criteriosa de locais ou faixas de plantio, o uso de repetições para a realização desse tipo de teste e a realização de avaliações por mais de um ano são fatores muito importantes para a obtenção de resultados confiáveis.

INTRODUÇÃO

O crestamento do trigo, causado pela toxicidade do alumínio e por outros elementos do solo, como o manganês, é um problema preocupante em várias regiões onde o trigo é cultivado nos estados componentes da Região Tritícola Centro-Sul Brasileira, que abrange o Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Os solos ácidos, que apresentam o problema de crestamento para os cereais, podem, em parte, ser corrigidos com o uso de calcário, havendo porém grandes dificuldades na correção das camadas mais profundas do solo, especialmente em lavouras sob plantio direto. Estiagens são mais prejudiciais às cultivares sensíveis à toxicidade pela dificuldade da planta de utilizar a água, principalmente do subsolo. As cultivares mais resistentes ou tolerantes apresentam a tendência de formar raízes mais profundas, o que propicia melhor uso da água disponível no solo.

Avaliações sobre o crestamento realizadas em Passo Fundo antes de 1999, em relação aos genótipos de trigo em recomendação ou experimentação na Região Tritícola Centro-Sul Brasileira, foram apresentadas por Sousa (1992, 1994, 1998), por Sousa & Gomes (1990) e por Sousa et al. (1988).

O objetivo deste trabalho foi atualizar os dados, incluindo resultados até 1999, das avaliações realizadas em relação às cultivares de trigo em recomendação na Região Tritícola Centro-Sul Brasileira

METODOLOGIA

Amostras de sementes de trigo em cultivo ou em experimentação em várias regiões tritícolas no Brasil têm sido recebidas no Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo), da Embrapa, localizado em Passo Fundo, RS, para a realização de avaliações, incluindo a reação ao crestamento. As coleções para avaliação do crestamento foram conduzidas, com três repetições em cada entrada por ano, em área com alumínio tóxico no campo experimental da Embrapa Trigo. Os solos nas áreas usadas para avaliações ao longo dos anos apresentaram pH de 4,1 a 4,9 e alumínio trocável entre 25 e 43 mmolc Al/dm3. Foram dadas notas de 0,5 (altamente resistente) a 5,0 (altamente suscetível) referentes aos sintomas de crestamento por parcela, conforme a metodologia de Sousa (1996, 1998). O índice médio de suscetibilidade ao crestamento foi calculado em função das observações realizadas em Passo Fundo no período de 1989 a 1999, para as cultivares com mais de dois anos de avaliações. Foram calculadas as médias das observações por ano e, depois, a média dos anos. De acordo com os índices obtidos, as cultivares são classificadas segundo o critério a seguir: altamente resistente (índice de 0,50 a 0,80), resistente (0,81 a 1,50), moderadamente resistente (1,51 a 2,50), moderadamente suscetível (2,51 a 3,50), suscetível (3,51 a 4,50) e altamente suscetível (4,51 a 5,00).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas condições em que os testes foram realizados, a cultivar testemunha suscetível ao crestamento Anahuac 75 apresentou comportamento de suscetível a altamente suscetível ao longo dos anos.

Os dados médios obtidos em relação ao índice de suscetibilidade e a conseqüente reação ao crestamento de 37 cultivares recomendadas na Região Tritícola Centro-Sul Brasileira e avaliadas por 3 a 11 anos, no período de 1989 a 1999, são apresentados na Tabela 1.

Foram classificadas no grupo resistente as cultivares BRS 49, Embrapa 16, IAC 24-Tucuruí, IAPAR 53, IPR 84, Trigo BR 23 e Trigo BR 35. As cultivares BRS 49 e Trigo BR 35 foram as mais resistentes entre as 37 cultivares enumeradas na Tabela 1.

No grupo das cultivares moderadamente resistentes, foram incluídos os genótipos BRS 120, BRS 176, BRS 177, CD 102, CD 103, CD 105, CEP 24-Industrial, Embrapa 27, IAPAR 6-Tapejara, IAPAR 60, IPR 85, OCEPAR 16, OCEPAR 21, OCEPAR 22, OR 1, Rubi, Trigo BR 18-Terena e Trigo BR 40-Tuiúca.

No grupo moderadamente suscetível ao crestamento, foram incluídas as cultivares CD 104, IAPAR 28-Igapó, IAPAR 78, Manitoba 97, Tauro e Trigo BR17-Caiuá.

No grupo suscetível ao crestamento, estão presentes as cultivares Anahuac 75, CD 101, Embrapa 10-Guajá, IAC 287-Yaco, IAPAR 17-Caeté e IAPAR 29-Cacatu. Nesse grupo estiveram as cultivares mais sensíveis ao crestamento entre as 37 cultivares consideradas.

Nenhuma cultivar foi classificada como altamente resistente ou altamente suscetível, o que era de se esperar pela metodologia adotada. Índices de 0,50 a 0,80 são comuns em relação a vários genótipos de triticale que apresentam resistência destacada ao crestamento (Sousa & Baier, 1996), e índices superiores a 4,50 abrangem cultivares com maior sensibilidade ao crestamento do que o apresentado por Anahuac 75, como a reação de cultivares de Triticum durum.

Os solos ácidos tendem a se apresentar com desuniformidade de fertilidade em relação à presença dos vários minerais constituintes. A escolha criteriosa de locais ou faixas de plantio e o uso de repetições para a realização desse tipo de teste são fatores muito importantes para a obtenção de bons resultados. Também é importante a realização de testes por mais de um ano, em virtude da interferência do clima nos sintomas do crestamento, sendo o efeito do crestamento maior em condições de seca ou calor e menor com a ocorrência de precipitação pluvial constante. Estes resultados são importantes para a conceituação das cultivares recomendadas quanto à reação ao crestamento e podem ser muito úteis para a assistência técnica e para os produtores, permitindo escolher as cultivares de acordo com a situação de cada lavoura.

Observou-se grande variabilidade de reação ao crestamento entre as cultivares avaliadas, provavelmente em decorrência das variadas situações em que o trigo é cultivado na Região Triticola Centro-Sul do Brasil, nas quais a presença de alumínio tóxico pode ter muita a nenhuma importância para a cultura de trigo.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. cantidio@cnpt.embrapa.br
Referenciação Referenciação
Publicações OnlinePublicações Online RetornoEmbrapa Trigo

Copyright © 2000, Embrapa Trigo