Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 49, fev./2000

Pragas iniciais em milho
Dirceu N. Gassen 1

Introdução

Os insetos são considerados praga em milho quando atingem nível populacional capaz de causar danos e de reduzir o rendimento de grãos ou diminuir a qualidade do produto.

Sob plantio direto, a estratégia de manejo de pragas pode ser elaborada de acordo com a espécie vegetal cultivada. Em azevém pode ocorrer a broca-do-azevém (Listronotus bonariensis), em aveia a lagarta-da-aveia (Pseudaletia spp.), em língua-de-vaca a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), em ervilhaca e em cornichão os percevejos (Dichelops spp.) e em pastagens as cigarrinhas (Deois spp.), os gafanhotos e os tripes.

As pragas de estádios iniciais de desenvolvimento de milho podem ser agrupadas em causadoras de danos em sementes, na fase entre a semeadura e a emergência, e causadoras de danos em plântulas, após a emergência de plantas. Essas pragas iniciais afetam a população de plantas, o que se considera o principal fator limitante na produção de milho.

Larva-angorá

A larva-angorá ou lanudo, Astylus variegatus (Col., Dasytidae), apresenta ciclo biológico de um ano.

As larvas (Figura 1) desenvolvem-se no solo, a partir do verão e até o fim da primavera. Somente as larvas causam danos. Alimentam-se do endosperma de sementes de plantas daninhas ou cultivadas e evitam raízes e outras partes subterrâneas de plantas. O dano na semente impede a germinação ou debilita a plântula. Causam preocupação maior nas culturas com baixa população de plantas, como o milho.

Os adultos alimentam-se de exsudatos de plantas, de néctar e de pólen, não sendo considerados praga em lavouras.

Cupins

O cupim-de-monte, Cornitermes cumulans, é a espécie mais conhecida em pastagens e em lavouras no Brasil, onde constrói montes típicos, de contornos arredondados e textura rígida.

Os cupins subterrâneos, Heterotermes sp. e Procornitermes striatus, constroem longas galerias no solo. Pouco se conhece sobre o ninho e sobre a biologia desse grupo.

Os cupins alimentam-se de produtos celulósicos. A celulose é digerida por protozoários ou bactérias no interior do tubo digestivo do inseto.

O controle de cupins depende da espécie e de suas características biológicas. Os cupins de monte podem ser controlados com a injeção de inseticidas na forma de pastilha gasosa, líquida ou de pó, através de uma abertura no topo do monte, nos meses de outono e inverno, antes da fase reprodutiva ou da revoada.

Nos cerrados, os cupins subterrâneos Heterotermes sp. e Procornitermes atacam as sementes e a parte subterrânea de plantas cultivadas em lavouras. Eles podem ser controlados com inseticidas no tratamento de sementes.

Coró ou bicho-bolo

Os corós ou bicho-bolo (Col., Melolonthidae) são insetos de solo que atacam sementes e partes subterrâneas de plantas de milho.

No sul do Brasil ocorre o coró-da-pastagem, Diloboderus abderus (Figura 2), onde causa danos nos meses de inverno e no início da primavera. O nível de dano em milho é inferior a uma larva/m2, pois o consumo de duas plântulas corresponde a 40 % de redução na população de plantas. O coró-do-trigo, Phyllophaga sp. (Figura 3), ocorre independente da presença de palha ou do sistema de manejo de solo usado, causando danos no período entre fevereiro e setembro.

Na região de clima tropical e nos cerrados brasileiros, os corós apresentam características de ciclo biológico e de danos adaptadas ao período de seca no inverno. No norte do Paraná ocorre o coró-da-soja, Phyllophaga cuyabana, com ciclo biológico de um ano causando danos a partir de dezembro e até abril. A ocorrência de larvas do coró-da-soja não é afetada pela presença de palha na superfície nem pelo sistema de manejo de solo. Populações maiores são observadas em áreas sob aração e gradagem de solo.

No Mato Grosso do Sul ocorre a espécie Liogenys suturalis (Figura 4), com danos no período entre janeiro e abril e ciclo biológico de um ano, semelhante aos do coró-da-soja e de outras espécies que ocorrem em Goiás, em Minas Gerais e no Mato Grosso.

Os corós causam danos na fase de larva de terceiro estádio, consumindo sementes e partes subterrâneas de plantas, com prejuízos maiores em milho safrinha.

Quando inicia a estiagem de inverno, as larvas aprofundam-se no solo até 20 ou 30 cm e constroem câmaras larvais, onde permanecem em diapausa até setembro.

As estratégias de controle de corós nos cerrados são diferentes das adotadas no sul do Brasil. Nos cerrados, a previsão de ocorrência e a identificação das manchas com populações maiores torna-se difícil, pois as revoadas e a oviposição ocorrem na fase de semeadura das culturas de verão (outubro). Os danos ocorrem dois meses após a semeadura e a revoada. O uso de inseticidas no tratamento de sementes ou de líquidos no sulco de semeadura, em geral, não apresenta persistência para o controle de corós.

Nas manchas onde ocorrem os danos no verão (janeiro e fevereiro), recomenda-se a semeadura de uma cultura de "safrinha" com inseticida no sulco de semeadura ou no tratamento de sementes.

Ao decidir sobre o controle de corós, é necessário identificar a espécie predominante, avaliar a capacidade de danos e, se necessário, optar por alternativas com menor impacto ambiente.

Broca-do-azevém

A broca-do-azevém, Listronotus bonariensis (Col., Curculionidae), apresenta ciclo biológico de 4 a 5 semanas. O besouro adulto realiza a postura em gramíneas, com destaque para o azevém, centeio e trigo. A larva (Figura 5) atinge 0,3 cm de comprimento e alimenta-se de plantas pequenas, de gemas e de afilhos, causando o definhamento e a morte do hospedeiro.

As larvas maiores migram das plantas de azevém dessecadas para as plântulas de milho, broqueando o ponto de crescimento e causando a morte destas (Figura 6). O dano da broca-do-azevém em milho sempre ocorre a partir de insetos presentes na lavoura.

A aplicação de inseticidas, misturados com herbicidas ou pulverizados na parte aérea de plantas de milho, não controla as larvas da broca-do-azevém, e poucos produtos são eficazes contra os adultos. O tratamento de sementes de milho com inseticidas resulta em controle parcial, não garantindo proteção efetiva de plantas contra larvas e adultos da broca-do-azevém.

Para o controle de larvas sugere-se dessecar o azevém infestado, com antecedência, usando herbicidas de ação rápida. Com isso corta-se o ciclo biológico da praga, impedindo a presença de larvas na fase de germinação de milho.

Grilos

Os grilos (Ort., Gryllidae), Gryllus assimilis e Anurogryllus muticus (Figura 7), permanecem no interior de galerias subterrâneas durante o dia, bloqueando a entrada com terra. Após períodos de chuva, os grilos depositam montículos de terra, resultantes da escavação, que caracteriza a presença da praga na lavoura. No período entre abril e junho, a contagem dos montículos permite determinar a população e a distribuição do inseto nas lavouras.

A partir do início da primavera passam à fase adulta, iniciam a reprodução e causam danos severos em plântulas. Causam, ainda, redução na população de plantas, especialmente durante períodos de estia-gem.

O controle de grilos em lavouras extensivas é considerado difícil em virtude do hábito de a praga proteger-se nas galerias e, aparentemente, evitar o consumo de plantas tratadas com veneno.

A aplicação de inseticidas na parte aérea de plantas resulta em controle insatisfatório. Entretanto, pode proteger a cultura contra a praga por alguns dias, possivelmente por repelência. O uso de iscas com inseticidas é a alternativa de controle de grilos em lavouras.

Lagartas cortadoras de plântulas

As lagartas (Lep., Noctuidae) que ocorrem com maior freqüência atacando plântulas são a lagarta-rosca, Agrotis spp., a lagarta-da-aveia, Pseudaletia spp., e a lagarta-militar, Spodoptera frugiperda. Em geral predomina uma das espécies, que está associada à cultura anterior.

A lagarta-rosca (Figura 8) ocorre em vários ambientes associada a algumas plantas hospedeiras. Nas várzeas e em áreas infestadas com língua-de-vaca (Rumex spp.) ou caruru (Amaranthus spp.), desenvolvem populações mais elevadas. A larva corta plântulas rente ao solo e as transporta para dentro da galeria. Essa característica, diferentemente da lagarta-da-aveia, determina índices menores de controle com inseticidas no tratamento de sementes.

A lagarta-da-aveia desenvolve-se a partir de postura realizada em plantas verdes. As lagartas deslocam-se dezenas de metros em busca de alimento. Consomem as folhas de plântulas a partir do ápice e até dentro do solo. A dessecação duas a três semanas antes da semeadura da cultura de milho interrompe o ciclo biológico da lagarta-da-aveia. Alguns inseticidas em tratamento de sementes são eficazes no controle da lagarta-da-aveia até duas semanas após a semeadura.

A lagarta-militar ou lagarta-do-cartucho também ocorre na fase de plântula, nos cerrados, e pode ser confundida com a lagarta-rosca.

A aplicação de inseticidas, via líquida, no sulco de semeadura parece ser uma alternativa eficiente de proteção contra lagartas que atacam plântulas.

Percevejo barriga-verde

O percevejo barriga-verde é conhecido como inseto secundário em soja e importante praga em plântulas de milho. A espécie mais freqüente em soja e em milho é Dichelops (Neodichelops) furcatus (Hem., Pentatomidae) (Figura 9). Nos cerrados predomina a espécie D. melacanthus (Figura 10).

O ciclo biológico das duas espécies completa-se em pouco mais de um mês. Os adultos voam distâncias curtas (até alguns quilômetros) em busca de plantas adequadas, como ervilhaca (Vicia spp.) e outras leguminosas. Tendem a ocorrer em milho semeado sobre leguminosas infestadas ou em cultivo de safrinha sobre áreas de soja.

Na fase de germinação de milho, praticamente, não há planta verde na lavoura e o ambiente é desfavorável para o percevejo. Para emigrar, os percevejos necessitam alimentar-se e armazenar energia para viabilizar o vôo para outras áreas.

Os percevejos barriga-verde sugam a base de plântulas de milho, injetando saliva para facilitar a penetração dos estiletes e para solubilizar substâncias a serem extraídas. O milho é muito sensível a essa saliva. As folhas que crescem após o dano do inseto apresentam deformações (Figura 11), havendo redução no crescimento e morte de plantas.

Um sintoma típico do dano causado pelo percevejo é o aparecimento de folhas com orifícios dispostos em linha transversal no limbo foliar (Figura 12). Quanto menor o tamanho da planta atacada, maior é o potencial de dano do percevejo.

Cigarrinhas-das-pastagens

Várias espécies de cigarrinhas-das-pastagens (Deois spp., Hom., Cercopidae) ocorrem em gramíneas nativas ou cultivadas. Os adultos atingem 1,0 cm de comprimento e apresentam coloração variável, com desenhos nas asas, que caracterizam as diferentes espécies. O ciclo biológico completa-se em dois meses e a longevidade dos adultos é de duas a três semanas.

Em milho, apenas as cigarrinhas-das-pastagens adultas causam danos. Durante o processo de introdução dos estiletes na planta, elas injetam saliva fitotóxica, que causa a morte de plântulas. Populações equivalentes a duas cigarrinhas podem causar a morte de uma plântula de milho.

A partir da fase de quatro folhas, as plantas de milho toleram o dano da cigarrinha.

As populações de cigarrinhas podem desenvolver-se em gramíneas que precedem o milho ou imigrar de pastagens das proximidades da lavoura. A infestação de fora resulta na morte de plantas nas bordas, seguidas de plantas com menor desenvolvimento vegetativo e plantas normais.

Nas gramíneas que precedem o milho, deve-se decidir sobre a necessidade de controle antes da semeadura.

Nas lavouras próximas à pastagens nativas ou cultivadas, infestadas com cigarrinhas, deve-se controlar a praga na borda da lavoura e na borda da pastagem, com inseticida.

Cigarrinha-do-milho

A cigarrinha-do-milho apresenta tamanho pequeno, inferior a 0,5 cm de comprimento, coloração verde-clara, com variações entre esbranquiçado e marrom-claro. As fêmeas realizam a postura em gramíneas. Os adultos movimentam-se com agilidade e são encontradas principalmente em lavouras isoladas, inseridas em regiões com gramíneas nativas e pastagens. Ocorrem em população maior no final do verão e no outono, em milho plantado tardiamente ou safrinha. As ninfas e os adultos extraem seiva das folhas e são vetores de micoplasmas, causadores do enfezamento e do nanismo-arbustivo do milho e do vírus do mosaico-de-estrias finas. A saliva tóxica, injetada nas plântulas, pode reduzir a velocidade de crescimento e provocar estrias amareladas nas folhas.

Na Argentina, cigarrinhas dos gêneros Delphacodes e Toya, transmitem Fijivirus e causam a doença denominada mal-de-Rio Quarto, com sintomas semelhantes aos do enfezamento.

O uso de inseticidas, antes das cigarrinhas alimentarem-se de milho, é uma alternativa de controle. Entretanto, pouco se conhece sobre plantas hospedeiras de micoplasmas e de vírus, para recomendar-se estratégias eficazes de manejo da praga. O uso de inseticidas não impede o aparecimento de plantas com enfezamento, nanismo ou mosaico, pois a cigarrinha, ao extrair seiva da planta, antes de intoxicar-se com inseticida, pode injetar saliva e com ela os microrganismos, morrendo após.

Estratégias de controle de pragas iniciais em milho

Os inseticidas aplicados na parte aérea, na dessecação, causam a morte de insetos que se encontram acima da superfície do solo (lagartas, percevejos, besouros, moscas, vespas etc.), com persistência inferior a uma semana. Não têm efeito sobre pragas de solo e não substituem o tratamento de sementes.

O tratamento de sementes de milho protege contra pragas que atacam sementes (corós, cupins, larva-arame, lanudo etc.) e apresenta resultados erráticos contra insetos na fase de plântula.

O uso de inseticidas no sulco de semeadura (granulados ou líquidos) apresenta a vantagem de se aplicar maior quantidade de ingrediente ativo do que permite o tratamento de sementes em milho e maior persistência na proteção das plantas.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. sac@cnpt.embrapa.br
Referenciação Referenciação
Publicações OnlinePublicações Online PragasPragas RetornoEmbrapa Trigo

Copyright © 2000, Embrapa Trigo