Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 46, jan./00
Pós inertes no controle do caruncho do feijão armazenado Acanthoscelides obtectus (Say) (Coleoptera: Bruchidae)
Irineu Lorini 1
C. Simonetto 2
A.L.V. Bonato 2
Introdução

O caruncho do feijão (Acanthoscelides obtectus), coleóptero da família Bruchidae, tem ocorrência relatada em todo o país, desde as regiões mais quentes até as mais frias (Vieira, 1983). Em armazéns, causa danos nos grãos, perfurando-os e conferindo-lhes sabor desagradável, com conseqhente depreciação do valor comercial. Nas sementes a praga consome as reservas dos cotilédones, comprometendo a germinação, o que resulta em plântulas debilitadas (Vieira, 1983).

O inseto adulto é um besouro de coloração pardo-acinzentada, com élitros que não cobrem todo o abdome. O corpo mede de 2,5 a 3,5 mm de comprimento e de 1,5 a 2,0 mm de largura. Os ovos, de coloração branca, são depositados, isolados ou agrupados, no interior das vagens, ainda no campo. As larvas se desenvolvem no interior do grão e transformam-se em pupas em uma câmara, previamente preparada junto à superfície interna do grão. Os adultos não atacam os grãos de feijão, sendo os danos ocasionados unicamente pelas larvas (Mariconi, 1986; Booth et al., 1990).

Para evitar o ataque dessa praga em feijão, os agricultores usam vários produtos misturados ao grão, como: cinza de madeira, pimenta-do-reino, pó de batedura de feijão, areia, argila ou, ainda, substâncias oleosas (Vieira, 1983). O uso de pós inertes foi revisto por Barreto et al. (1983), que citam bentonita, sílica cristalina, talco etc., desde 1939, para combater a praga, em grãos de feijão. Esses autores citam que o uso de pimenta-do-reino moída, na dose de 2,75 g/kg de feijão, reduziu a infestação em 78 % até 100 dias, e na dose de 5,50 g/kg chegou a 100 % de controle.

Recentemente, outros pós inertes, como a terra de diatomáceas, para controle de pragas de grãos de várias espécies em armazenamento, estão sendo empregados em propriedades rurais e em grandes unidades armazenadoras de grãos. Esse produto, na dose de 1,0 g/kg de grãos, protege-os contra o ataque das principais pragas, constituindo uma alternativa não química de controle de pragas em armazenamento (Lorini, 1999).

Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito da cal, da cinza e do calcário na proteção de grãos de feijão armazenados contra o caruncho Acanthoscelides obtectus.

Metodologia

O experimento foi realizado em 1989-90, na unidade armazenadora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, em delineamento experimental de blocos ao acaso, com 10 tratamentos e quatro repetições. As unidades experimentais foram compostas de sacos de algodão contendo 1,0 kg de feijão limpo e seco. Os tratamentos avaliados foram cal hidratada, cinza e calcário dolomítico, nas doses de 2, 4 e 6 gramas por quilograma de feijão, além de uma testemunha sem tratamento. Os produtos foram misturados, individualmente, aos grãos, os quais foram armazenados por um período de 240 dias, em condições normais de armazenagem. As avaliações foram feitas a cada 30 dias, retirando-se uma amostra de 200 grãos por unidade experimental e contando-se o número de insetos vivos, o número de grãos perfurados e o número de orifícios feitos pela praga nos grãos.

Os resultados das avaliações foram submetidos à analise de variância e as médias comparadas entre si, pelo teste de Duncan, a 5 % de probabilidade.

Resultados e Discussão

A cal, nas doses de 4 e 6 g/kg de grãos, destacou-se como o melhor tratamento usado no experimento, evitando a infestação e danos significativos do caruncho no feijão. Essas doses apresentaram o menor número de grãos atacados pelo inseto, aos 240 dias após a aplicação do tratamento, não diferindo estatisticamente entre si, e estas diferindo significativamente dos demais tratamentos (Tabela 1).

A severidade do ataque ao produto armazenado pôde ser verificada pelo número de orifícios nos grãos aos 240 dias após o tratamento. Os tratamentos com cal nas doses de 4 e 6 g/kg de feijão apresentaram controle superior ao dos demais tratamentos, aos 210 e 240 dias (Tabela 2), resultando em menor número de grãos com orifícios.

O número de adultos da praga que infestaram os tratamentos foi crescente ao longo do tempo de avaliação, sendo significativamente menor no tratamento com cal de 6 g/kg de feijão. Este, porém, não diferiu significativamente da dose de 4 g/kg de feijão e foi mais eficiente que os demais tratamentos (Tabela 3).

Considerando o número de insetos nos grãos, o calcário foi superior, estatisticamente, à testemunha aos 240 dias, porém não apresentou eficácia desejada na proteção da praga no feijão. A cinza teve resultados intermediários entre os obtidos com a cal e com o calcário.

Dessa forma, verificou-se que a cal, nas doses de 4 e 6 g/kg de feijão, pode ser uma alternativa para tratar preventivamente os grãos durante o armazenamento para evitar danos do caruncho do feijão.

 


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.
ilorini@cnpt.embrapa.br
2 Eng.-Agr. Ex-estagiário da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS.
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