Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 41, dez./99

Ferrugem da folha do trigo no Brasil e em outros países do Cone Sul - Levantamento de raças de 1997
Amarilis Labes Barcellos 1

A ferrugem da folha do trigo é causada pelo fungo Puccinia triticina Erikss (Anikster et al., Canadian Journal of Botany 75: 2082-2096, 1997), que se diferencia em raças cuja distinção não é perceptível por meio de sintomas ou sinais nas plantas. As raças se distinguem por suas reações diferenciais em cultivares de trigo selecionadas.

O levantamento das raças ocorrentes no Brasil é realizado anualmente. O conhecimento das alterações das populações de raças do fungo através da determinação das fórmulas de avirulência/virulência influi na escolha da cultivar a ser plantada, na escolha e no uso dos genes a serem combinados nos programas de melhoramento e nas estratégias de controle químico a serem adotadas.

O monitoramento das raças, nas diferentes regiões tritícolas do Brasil e nas regiões onde o trigo é cultivado no Cone Sul da América do Sul, é indispensável aos programas de melhoramento genético de trigo, visando à estabilidade da resistência. Com esse objetivo, houve participação neste trabalho, por meio da coleta de amostras, no ano de 1997, para a identificação das raças, das seguintes instituições: Brasil - Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Trigo, Embrapa Sementes Básicas, Embrapa Soja, Embrapa Clima Temperado, EPAGRI, FUNDACEP, IAC, IAPAR, OR Melhoramento de Sementes Ltda.; Argentina - Barrow, INTA, J.S. Buck; Chile - INIA; e Bolívia - CIMMYT.

A Embrapa Trigo é o único centro de pesquisa no Brasil, e dos poucos no Cone Sul, que identifica raças do fungo, desenvolvendo pesquisas sobre virulência (capacidade específica de superar o gene de resistência do trigo) das populações patogênicas. Os dados gerados em Passo Fundo, desde 1975, têm sido utilizados em programas de outras instituições de pesquisa, públicas e privadas, no Brasil e em países vizinhos. Resultados desse monitoramento de ocorrência do patógeno, de distribuição geográfica e de alterações de virulência têm sido satisfatórios. O fator limitante é a superação freqüente da resistência das cultivares melhoradas pelo desenvolvimento de novas virulências.

Para determinação de raças fisiológicas do patógeno e de freqüência nas regiões tritícolas e para a detecção de novas raças, são coletadas folhas de trigo infectadas em lavouras e em campos experimentais. O inóculo de cada amostra é usado para infectar plantas suscetíveis a todas as raças identificadas no Brasil. Por meio de isolados monopustulares, separam-se raças distintas que muitas vezes coexistem na mesma folha. Inocula-se o fungo, cerca de sete dias após a semeadura, na primeira folha totalmente expandida de plantas suscetíveis, para a obtenção de quantidade de inóculo suficiente para infectar a série de linhagens de trigo diferenciais de raças. A série é composta de linhagens portadoras de genes Lr (genes de resistência à ferrugem da folha do trigo) conhecidos, cada uma com um gene Lr diferente (Lr1, 2, 2a, 2c, 3, 3ka, 9, 10, 11, 14a, 14b, 16, 17, 18, 20, 21, 23, 24, 26 e 30). Seis a oito plantas de cada uma das vinte linhagens de trigo diferenciais e da testemunha suscetível são semeadas simultaneamente, usando-se equipamento automatizado construído na Embrapa Trigo, especialmente para essa finalidade. Após incubação (15 h) em câmara escura e úmida, as plantas são transferidas para casa-de-vegetação com ambiente parcialmente controlado, na Embrapa Trigo, em Passo Fundo. As avaliações são realizadas de 12 a 15 dias após inoculação, conforme escala específica de 0 a 4, em que escores de 0 a 2 indicam resistência e 3 ou 4, suscetibilidade. A fórmula de avirulência/virulência das raças é determinada conforme identificação de genes Lr efetivos e não efetivos, que conferem, respectivamente, resistência e suscetibilidade da linhagem de trigo diferencial a cada isolado do patógeno (Tabela 1).

As raças de Puccinia triticina ocorrentes em 1997 foram identificadas em 380 amostras, sendo 322 do Brasil (RS, PR, SC, MS e SP), 29 do Chile, 24 da Argentina e 5 da Bolívia (Tabela 2). B42, B38, B40 e B34 foram as raças mais freqüentes no Brasil. B42 prevaleceu no Rio Grande do Sul, B34 e B42 no Paraná e B38 em São Paulo. B42 foi virulenta na cultivar Embrapa 16, extensivamente cultivada em 1997. Houve freqüência expressiva de B34 no Chile, tendo sido detectada também na Argentina e na Bolívia. Na Argentina, destacou-se B43, prevalecendo nos trigos voluntários na entressafra de trigo.

Considerando-se o sistema norte-americano de codificação de raças, foram identificadas, em isolados do Brasil, da Argentina, da Bolívia e do Chile, 69 diferentes fórmulas de avirulência/virulência (Tabela 3). Estas correspondem a dez raças B (Brasil). Houve predominância de LFG-MS (B42). Conforme a nomenclatura norte-americana, as raças são designadas por código de três letras (ex.: LFG), seguidas de um hífen que as separa de outras duas letras (ex.: MS), as quais codificam as diferenciais suplementares locais. As diferenciais foram classificadas em grupos de quatro, e uma letra foi designada para cada uma das 16 combinações de tipos de infecção possíveis. Exemplificando, se as diferenciais do primeiro grupo (Lr1, Lr2a, Lr2c e Lr3) conferirem resistência, a letra é B; se as reações forem de suscetibilidade, T. No caso da B42, L (1° grupo) significa suscetibilidade com relação a Lr1 e resistência produzida por Lr2a, Lr2c e Lr3; F (2° grupo) significa suscetibilidade com relação a Lr24 e a Lr26 e resistência produzida por Lr9 e por Lr16 etc.

As raças detectadas na Argentina, na Bolívia e no Chile ocorrem no Brasil.

Raças novas - Denominaram-se B44 e B45 as raças detectadas por primeira vez em 1997. Não conferem resistência a essas raças os seguintes genes Lr: 1, 9, 10, 11, 14a, 14b, 18, 23, 24, 26 e 30 (inefetivos a B44) e 3, 3ka, 11, 14a, 14b, 16, 17, 18, 23, 26 e 30 (inefetivos a B45). As seguintes combinações de dois genes, que conferiam resistência a todas as raças, tornaram-se inefetivas: Lr9 + Lr10, Lr 9 + Lr24 e Lr9 + Lr26, devido à B44 e Lr16 + Lr26, à qual B45 é virulenta. São, ainda, efetivas para resistência as combinações de genes: Lr2a + Lr26, Lr3 + Lr9, Lr3ka + Lr9, Lr9 + Lr16, Lr9 + Lr21, Lr10 + Lr16, Lr16 + Lr24 e Lr3 + Lr10 + Lr24 + Lr26.


1 Pesquisadora da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. amarilis@cnpt.embrapa.br
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