Introdução

A cultura de soja (Glycine max (L.) Merrill) ocupa uma área, no Estado do RS, de aproximadamente 3 milhões de hectares. A grande área de abrangência e, em algumas situações, o cultivo sucessivo de soja na mesma área, levam a uma série de problemas, como as doenças, por exemplo. As doenças afetam a parte aérea da planta e podem alcançar as sementes, e, dessa maneira, os agentes causais das doenças se perpetuam e disseminam-se a longas distâncias. O estado sanitário das sementes de soja nos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, em anos de elevada precipitação pluvial na fase de colheita, tem mostrado, principalmente nas lavouras em que as sementes foram colhidas após as chuvas, altas freqüências de Phomopsis spp., de Cercospora kikuchii e de Fusarium spp., tornando necessário o tratamento químico das áreas afetadas. Testes especiais, como o DIACON (Diagnose Completa das Sementes) (França Netto & Henning, 1992), devem ser realizados, tendo-se, com isso, um exame preciso da qualidade fisiológica e sanitária dos lotes a serem tratados. A recomendação oficial (Reunião ... 1998a) indica inúmeros produtos químicos para o controle de diferentes patógenos em sementes, e maiores informações sobre a eficácia dos fungicidas recomendados podem ser obtidas nos trabalhos de Henning et al., 1991 e 1994, de Goulart et al., 1995, e de Picinini & Fernandes, 1996. Diversas consultas têm sido feitas à Embrapa, Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, principalmente por técnicos de cooperativas e por produtores, sobre a possibilidade de se realizar o tratamento antecipado das sementes, ganhando-se com isso considerável economia de tempo. Com o objetivo de responder a essas indagações foi conduzido o presente trabalho.

Metodologia

Os experimentos foram realizados nos anos de 1996 e 1998 com as cultivares BR-16 e Embrapa 66, respectivamente. Um quilograma de sementes de cada cultivar, para os diferentes tratamentos com fungicidas, foi colocado em frascos de Erlenmeyer de 2.000 ml de capacidade aos quais adicionou-se 0,25 % de água destilada, para todos os fungicidas, com exceção das misturas agrotensil (400,0 g/l de álcool polivinílico + 60,0 g/l de nonilfenol oxietilado + 60,0 g/l de álcool isopropílico) + carbendazim e agrotensil + carbendazim + sumprix (corante). Após a homogeneização, adicionaram-se os fungicidas agitando-se até a completa cobertura das sementes. As sementes das cultivares BR-16 e Embrapa 66 foram tratadas nos dias 16/06/96 e 11/05/98, respectivamente, e, após, foram mantidas em sacos multifolhados de papel em condições de laboratório. Usaram-se 100 sementes para cada tratamento, em cada repetição, perfazendo o total de 400 sementes. Os plantios foram realizados, para cada cultivar, em cinco épocas, sem periodicidade, em bandejas de alumínio de 30 cm X 40 cm X 6 cm contendo areia lavada, em casa de vegetação. A profundidade de semeadura foi uniforme (3 cm), obtida mediante o uso de um perfurador de solo regulável. Para a cultivar BR-16, os plantios iniciaram-se em 16/06/96 e findaram em 15/08/96 (90 dias); para a cultivar Embrapa 66, iniciaram em 11/05/98 e findaram em 17/08/98 (96 dias). O número de plantas emergidas em cada tratamento foi avaliado em intervalos que variaram de 12 a 21 dias para a cultivar BR-16, no ano de 1996, e de 11 a 17 dias para a cultivar Embrapa 66, no ano de 1998.

Resultados

Os resultados obtidos com a cultivar BR-16 (Tabela 1) mostram que, embora os tratamentos thiabendazole PM + thiram PM e thiabendazole PM + captan PM na 2ª avaliação, testemunha, agrotensil + carbendazim SC, agrotensil + carbendazim SC + sumprix, thiram SC, carbendazim SC, thiabendazole PM e thiabendazole PM + PCNB PM na 3ª avaliação e carbendazim SC e thiabendazole PM na 5ª avaliação tivessem apresentado germinação abaixo do padrão oficial (80 %), na média, apenas o tratamento thiabendazole PM foi inferior ao padrão. Resultados discrepantes na germinação de sementes como os aqui obtidos são freqüentemente citados com as cultivares BR-16 e Embrapa 48 e parecem estar relacionados às condições específicas no momento dos testes, como, por exemplo, a sensibilidade ao dano de embebição (Reunião... 1998b) em que, nesse caso, mesmo sendo o teste realizado em areia, conforme indicado, observou-se mais que 6 % de plântulas anormais, impedindo uma boa germinação. Observa-se com a cultivar BR-16, nessa tabela, independente do tratamento, um índice de germinação alto em uma avaliação, caindo na avaliação subseqüente e voltando a subir na avaliação posterior. Para a cultivar Embrapa 66 (Tabela 2), observa-se que em todos os tratamentos a germinação foi alta e uniforme, variando, na média, de 93 % (difenoconazole SC + thiram SC) a 97 % (thiram SC e thiabendazole PM + captan PM).

Conclusões

Pelos resultados obtidos, pode se concluir que:

1. As sementes de soja podem ser tratadas e armazenadas por um período de até 90 dias, desde que, no momento do tratamento, não se exceda a quantidade de água de 0,25 % a 0,30 % = 250 ml a 300 ml/100 kg de sementes, conforme a recomendação oficial.
2. Os resultados obtidos neste trabalho com a cultivar BR-16 devem-se, provavelmente, à sensibilidade ao dano de embebição das sementes dessa cultivar e não ao fungicida usado.
3. As combinações agrotensil + carbendazim ou agrotensil + carbendazim + corante, nas doses testadas nesse trabalho, também podem ser usadas.
4. As sementes, após tratadas, devem ser mantidas em condições normais de armazenamento. O tratamento com fungicidas não melhora as condições fisiológicas da semente, apenas as mantêm. Portanto, deve-se, preferencialmente, tratar e armazenar aqueles lotes que apresentam boa germinação (acima de 80 %) e bom vigor (acima de 70 %).