Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 37, dez./99

Resistência à Mancha Bronzeada em germoplasma de trigo no Brasil
Wilmar Cório da Luz 1

A mancha bronzeada (MB) do trigo, incitada por Drechslera tritici-repentis (Died.) Shoem. (Teleomorfa: Pyrenophora tritici-repentis (Died.) Drech., ocorre no sul do Brasil e sua intensidade tem aumentado substancialmente, principalmente quando esse cereal é cultivado sob sistema plantio direto ou preparo reduzido (Luz, 1995). A resistência a essa doença é altamente influenciada pela umidade relativa do ar, pela temperatura e pela virulência do patógeno. A maioria das cultivares de trigo usadas comercialmente no Brasil é suscetível à MB. O primeiro estudo de resistência de germoplasma de trigo à MB no Brasil foi realizado por Luz (1995). Recentemente os programas de melhoramento de trigo no Brasil têm demonstrado interesse na obtenção de fontes de resistência à MB.

O objetivo desta investigação foi determinar novas fontes de resistência à MB, caracterizando genótipos de trigo quanto à reação à doença. Uma coleção de 165 cultivares de trigo foi conduzida em experimentos realizados no município de Santa Rosa, RS, em 1996 e 1997, na presença de epifitias naturais da MB.

O delineamento experimental usado foi blocos ao acaso, com três repetições, e os materiais foram semeados em fileira de 1,0 m de comprimento, espaçadas 20 cm.

A severidade da doença (a percentagem da área foliar com necrose ou clorose) foi avaliada no estádio 90 (grão em massa mole) da escala descrita por Zadocks et al., 1974. A avaliação foi realizada por nota visual e usaram-se três classes: resistente, 0 a 15 %; moderadamente resistente, 16 a 45 %; e suscetível, mais de 45 % (Luz, 1995). As observações foram coletadas nas três folhas superiores. Os dados foram transformados em e submetidos à análise de variância, usando-se o teste de Tukey (p> 0,05), para comparação de médias.

A ocorrência natural da doença foi alta nos dois anos de experimentação, apresentando diferenças entre os genótipos no nível de severidade da MB (Tabela 1).

A grande maioria dos genótipos apresentou altos níveis de suscetibilidade. Infecções severas (mais de 45 %) foram observadas em 112 dos genótipos, enquanto 30 mostraram infecções moderadas (15 a 45 %) na média dos anos de observação (Tabela 1).

Foram identificadas 13 fontes de resistência à MB, apresentando níveis da doença substancialmente reduzidos (abaixo de 15 %) em ambos os anos, sendo eles: BR 8, BR 32, BR 34, Flórida 301, Ning 8331, PF 86509, PF 87511, BRS 120, BRS 177, PF 92342, PF 87451, PF 9052 e Wuhan 1-18b-0Y. O nível de resistência de alguns desses materiais observados em campo, nos dois anos de estudo, foi ratificado em testes anteriores avaliados por Luz (1995) em condições controladas e em campo. O presente estudo, entretanto, revelou outras fontes de resistência não avaliadas anteriormente.

Cultivares como BR 8 e BH 1146, descritas na literatura como possuidoras de resistência a D. tritici-repentis (Luz & Hosford, 1980; Luz & Bergstrom, 1986; Nagle, 1981; Rees & Plataz, 1990, 1992; Gilchrist, 1992), apresentaram reações resistente e moderadamente resistente, respectivamente.

BH 1146 tem sido descrita na literatura como resistente a maioria dos isolados e como suscetível a poucos (Luz & Hosford, 1980), resistente a moderadamente resistente (Luz & Bergstrom, 1986; Rees & Plataz, 1989, 1992; Gilchrist, 1992) e suscetível (Lamari & Bernier, 1989); entretanto, nas avaliações de campo, o nível de infecção dessa cultivar não tem ultrapassado o grau de moderadamente resistente.

Poucos genótipos apresentaram reações discordantes nos dois anos de estudo. Genótipos de trigo (Triticum aestivum) contêm genes de resistência à doença, mas não conferem proteção completa à MB (Luz & Bergstrom, 1986). Embora a resistência incompleta seja eficiente (Rees & Plataz, 1992), depende da temperatura (Luz & Bergstrom, 1986), da umidade (Hosford, 1971) e da virulência do patógeno (Luz & Hosford, 1980; Schilder & Bergstrom, 1990). Qualquer um desses fatores, ou a combinação deles, pode justificar os poucos dados discordantes de resultados nos anos de teste.

A resistência presente nas cultivares brasileiras foi obtida sem seleção intencional para resistência a D. tritici-repentis. Apenas recentemente os programas de melhoramento no país, têm incluído a resistência à MB como um de seus objetivos. Esses genótipos resistentes devem ser incorporados aos programas de melhoramento de trigo, objetivando a criação de cultivares que aliem a resistência ao patógeno à produtividade e à maior adaptação aos diferentes sistemas de cultivo.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. wilmar@cnpt.embrapa.br
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