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ISSN 1517-4964
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As pragas-de-solo compreendem pragas subterrâneas típicas e pragas de superfície intimamente associadas ao solo e dele dependentes. São insetos e outros pequenos animais que se alimentam de órgãos subterrâneos de plantas, havendo casos em que órgãos aéreos também são consumidos.
O controle de pragas-de-solo é tarefa complexa, tendo em vista a dificuldade de se localizar, monitorar e atingir o alvo. Pelas mesmas razões, o estudo de pragas-de-solo se reveste de maior dificuldade e é mais lento em relação ao estudo de pragas da parte aérea. A Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, tem dedicado desde o início da década de 80 grande esforço em pesquisa entomológica às pragas-de-solo associadas a sistemas de produção de grãos, firmando-se como referência nacional no assunto. Em 1988, a Embrapa Trigo realizou a 1ª Reunião Sul-Brasileira de Pragas de Solo (PragasSolo-Sul), que em 1999 foi realizada a sexta edição.
Em geral, as pragas de solo não são específicas, sendo possível identificar alguns grupos mais importantes e comuns em gramíneas (arroz, aveia, cevada, milho e trigo) e em leguminosas (feijão e soja) produtoras de grãos.
Corós
Corós é o nome vulgar dado às larvas de grande número de espécies de besouros, as quais possuem tamanho variável e aspecto tipicamente escarabeiforme: corpo em forma de "c", coloração geral branca, com cabeça e pernas de cor marrom. Existem corós rizófagos (comem raízes), que podem danificar as culturas e ser pragas, bem como espécies saprófagas (alimentam-se de matéria orgânica em decomposição), que possuem importante papel na reciclagem de material orgânico, na natureza. Os principais corós-praga no Brasil são o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga), o coró-da-soja (P. cuyabana), o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus) e o coró-do-arroz (Euetheola humilis). Os corós possuem longo ciclo biológico, levando de um a dois anos para completarem uma geração. Atacam praticamente todas as culturas produtoras de grãos, causando sérios prejuízos em todo o país. Outras espécies estão sendo registradas à medida que cresce a ocupação de áreas com grandes extensões de culturas anuais, principalmente sob sistemas de manejo conservacionista de solo.
Larva-alfinete
Trata-se da forma jovem da vaquinha verde-amarela (Diabrotica speciosa), praga desfolhadora de diversas plantas. A fêmea faz postura no solo próximo a plantas hospedeiras, de onde eclodem as larvas que vão se alimentar dos órgãos subterrâneos de plantas. A larva é branca, mede cerca de 1 cm de comprimento, possui a parte anterior do corpo afilada e a posterior mais robusta, com uma placa escura no último segmento. Ocorrem várias gerações anuais. Entre as culturas graníferas, é em milho que a larva-alfinete tem maior importância pelos danos que causa e pela ampla distribuição geográfica. Pode-se encontrar mais de uma dezena de larvas junto ao sistema radicular, destruindo as raízes, deixando a planta debilitada, com sintomas de deficiência nutricional e mais suscetível a estiagens e a acamamento. Normalmente, os danos são mais intensos entre quatro e seis semanas após a emergência de plântulas de milho.
Larvas-arame
As verdadeiras larvas-arame são formas jovens de besouros elaterídeos (vagalumes), que quando colocados de costas dão um estalido com o corpo e se colocam novamente na posição normal. Das diversas espécies existentes, Conoderus scalaris e C. stigmosus parecem ser as mais comuns. Possuem ciclo longo, provavelmente com uma geração anual. As larvas são subterrâneas, de cor amarelada e apresentam corpo rígido, cilíndrico ou ligeiramente achatado, com até 3 cm de comprimento. Consomem sementes, raízes e base do caule de plantas. Ocasionalmente, podem causar danos em cereais, logo após a emergência de plântulas. As falsas-larvas-arame são semelhantes às verdadeiras, porém pertencem à espécie de tenebrionídeo Blapstinus punctulatus e vivem próximo à superfície do solo. O adulto é um besouro marrom conhecido por ligeirinho, que possui em torno de 1 cm de comprimento e vive na superfície de solo ou a pequenas profundidades. Tanto larva como adulto atacam as plantas, especialmente soja em períodos de estiagem.
Gorgulhos-do-solo
São larvas ápodas, que atingem até 1,2 cm de comprimento, de corpo branco, no qual se destacam as peças bucais escuras. O s adultos são besouros de asas atrofiadas, do gênero Pantomorus, que possuem cabeça com bico projetado para frente. Medem cerca de 1,5 cm de comprimento e têm coloração parda-acinzentada. As larvas consomem a parte subterrânea de diversas culturas. Normalmente, vivem enterradas próximo à superfície do solo, aprofundando-se em épocas de seca.
Cupins
São insetos sociais, que vivem em colônias de indivíduos ápteros e alados, que constituem castas com funções específicas (operários, soldados e reprodutores). Uma das espécies mais conhecidas é o cupim-de-montículo (Cornitermes cumulans), comum em pastagens e que começa a ser mais freqüente em áreas sob plantio direto. O s cupins-subterrâneos, principalmente dos gêneros Syntermes e Procornitermes, vivem em ninhos subterrâneos, atacam pastagens e lavouras que sucedem gramíneas após abertura de campos e cerrados. Os cupins consomem sementes e raízes.
Percevejos-da-raiz
Algumas espécies de percevejos vivem e se multiplicam no solo, sugando as raízes de plantas. O percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) é a espécie mais conhecida. O adulto tem o corpo marrom, que atinge até 0,9 cm de comprimento e possui pernas anteriores escavatórias. As formas jovens são quase totalmente brancas logo após a eclosão e vão se tornando marrom-claras à medida que se desenvolvem. Adultos e jovens (ninfas) sugam raízes, provocando sintomas típicos na parte aérea. Quando se escava o solo infestado, o odor característico de "fede-fede" revela a presença dessa praga. Outras espécies de percevejos de raiz, como Atarsocoris brachiariae e Cyrtomenus mirabilis (percevejo-preto), também ocorrem.
Pulgões-da-raiz
São insetos sugadores que formam colônias, constituídas por ninfas e adultos, nas raízes de plantas. Possuem corpo arredondado, mole e de pequeno tamanho (2-3 mm). Em períodos de deficiência hídrica para as plantas, seus danos se tornam mais evidentes na parte aérea (murcha, amarelecimento, secamento e até morte). As espécies mais comuns são Rhopalosiphum rufiabdominale e Smynthurodes betae, que podem atacar diversas culturas gramíneas e leguminosas.
Mosca-da-semente
Trata-se de uma pequena mosca (Delia platura) que é atraída para colocar seus ovos em solos com vegetais em decomposição ou mesmo em plântulas com dificuldade de emergência. As larvas são brancas e ápodas, com a parte anterior do corpo pontiaguda, e se desenvolvem em sementes e na parte da planta que fica enterrada. Grupos de larvas podem ser encontrados alimentando-se e destruindo tecidos, caracterizando o que muitos chamam de "bicheira". A pupação ocorre no mesmo local onde as larvas se desenvolveram. A ocorrência dessa praga está associada a fatores que dificultam e retardam a germinação de sementes e a emergência de plântulas, como baixas temperaturas de solo em culturas de primavera-verão, semeadura muito profunda, compactação superficial de solo e sementes com baixo vigor.
Larva-angorá
É a larva do besouro amarelo com manchas pretas (Astylus variegatus), que mede aproximadamente 0,8 cm de comprimento e no verão é facilmente encontrado em flores de plantas. A larva desenvolve-se no solo, do verão à primavera, alimentando-se essencialmente de sementes de plantas cultivadas ou não. Em seu desenvolvimento máximo atinge 1 cm de comprimento. O corpo tem coloração geral marrom, revestido por pêlos finos, sendo mais robusto na extremidade posterior, onde apresenta dois prolongamentos maiores que os pêlos.
Broca-do-azevém
Também chamada de broca-da-coroa-do-trigo, a larva do curculionídeo Listronotus bonariensis ataca a região onde se formam os afilhos de gramíneas, broqueando em diversas direções e destruindo os tecidos de crescimento. Besouro e larva são de tamanho diminuto, medindo cerca de 2 e 3 mm de comprimento, respectivamente, o que os torna difíceis de ser encontrados. A postura pode ser feita em azevém e em cereais de inverno. No entanto, ao contrário de azevém, a alta incidência não é muito freqüente, neste últimos. Danos expressivos podem ocorrer em milho semeado sobre culturas de inverno infestadas, dessecadas quimicamente, em decorrência de migração dos insetos para as plantas recém-emergidas.
Broca-do-colo
É a larva do lepidóptero Elasmopalpus lignosellus, também denominada lagarta-elasmo. É polífaga, podendo atacar gramíneas e leguminosas produtoras de grãos. Seus danos são mais intensos em clima e ambientes quentes e secos. Broqueia plântulas na região do colo, onde penetra e faz galeria ascendente. Quando em repouso, aloja-se num abrigo que constrói no solo, junto ao orifício de entrada na planta, juntando partículas de solo e excrementos com fios de seda. Dificilmente causa danos em culturas sob plantio direto.
Lagartas
São larvas de lepidópteros que vivem na superfície do solo ou enterradas a pequenas profundidades e que saem para atacar as plantas à noite ou em dias nublados. Em geral, são capazes de causar danos quando o ataque ocorre logo após a emergência de plântulas e nas duas ou três semanas seguintes. As principais espécies são a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) e a lagarta-do-trigo (Pseudaletia sequax). As duas últimas espécies, além do comportamento descrito, também agem como pragas da parte aérea de plantas já desenvolvidas. A lagarta-rosca corta as plântulas ao nível do solo e seus danos são maiores quando já se encontra na área por ocasião do plantio. Pode migrar de outras plantas, como língua-de-vaca e caruru. A lagarta-do-trigo tem sido problema quando, presente em aveia-preta que é dessecada quimicamente para plantio de milho, passa para as plantas recém-emergidas, comendo toda parte aérea das plantas. A lagarta-militar ocorre na fase inicial da cultura de trigo em regiões onde o inverno é seco e não rigoroso. O ataque ocorre em manchas na lavoura, que aumentam à medida que as lagartas crescem e onde os danos ao estande de plantas podem ser severos. Aproximadamente, as lagarta-do-trigo e a lagarta-militar têm duração de três semanas e a lagarta-rosca, de quatro semanas. Ultimamente, tem aparecido outra espécie de lagarta (Peridroma saucia) em culturas de inverno, como em nabo, e em milho semeado em sucessão.
Grilos
Os grilos são insetos pantófagos, mais conhecidos como pragas de hortas e jardins. Em lavouras, começam a ter maior importância no sistema plantio direto. O grilo-preto (Gryllus assimilis) vive em ambientes úmidos, sob torrões e restos culturais. O grilo-marrom (Anurogryllus muticus) faz galerias, deixando montículos de terra na entrada destas, denunciando sua presença na área. Os grilos têm hábitos noturnos e se alimentam na superfície ou cortam e carregam partes de plantas para dentro do solo. Os maiores danos às culturas ocorrem na primavera e no verão, especialmente logo após a emergência das plantas.
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