Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 25, dez./99

Plantio de precisão: o desafio para o século XXI
José Antonio Portella 1

No Brasil, cada vez mais se expandem o conceito e as técnicas de plantio direto. Com a expansão da área, cresce o interesse dos usuários e o nível de questionamentos, bem como a necessidade de produtos de qualidade, de confiabilidade e de eficiência agronômica.

No mercado agrícola, existe uma variada oferta de tipos e modelos de semeadoras para plantio direto, o que torna difícil a tomada de decisão para aquisição por parte do agricultor. Desse modo, os esforços da pesquisa têm sido canalizados para avaliar, projetar e implementar melhorias nos aspectos relacionados com o corte de palha, a abertura de sulco e a deposição da semente e fertilizante ao solo.

Nos últimos anos, o Brasil tem produzido cerca de 80 milhões de toneladas de grãos, destacando-se soja e milho. A área agrícola ocupada anualmente por essas culturas corresponde a 60 % da safra de verão, razão pela qual o processo de semeadura deveria ser realizado dentro de elevados padrões de precisão, uma vez que a produtividade está diretamente associada a esta. As semeadoras hoje empregadas no estabelecimento dessas culturas, em sua quase totalidade, perdem o caráter de precisão em virtude da velocidade de trabalho em que são usadas (acima de 8 km/h), independente do tipo de mecanismo dosador de sementes que possuam (rotor acanalado, discos alveolados horizontais, dedos prensores etc.).

Procurando solucionar esse problema, algumas indústrias nacionais passaram a incorporar mecanismos dosadores de sistemas pneumáticos a vácuo em seus modelos comerciais. Entretanto, em função das condições de uso e de manutenção dessas semeadoras, poucos projetos apresentaram resultados promissores em relação ao que já vinha sendo obtido por outros mecanismos dosadores. Na Expointer 98, entretanto, um novo e revolucionário método de regulagem e distribuição de sementes recebeu o Prêmio Gerdau. Trata-se do projeto Plant-Ar da Indústria de Máquinas Agrícolas Lavrale, que apresenta-se como inovação tecnológica cujos resultados preliminares em ensaios de campo demonstraram elevados índices de precisão no plantio. Baseia-se no transporte de grãos em dutos de pequeno diâmetro, por um processo pneumático de pressão positiva em todo circuito.

PLANTIO DE PRECISÃO x QUALIDADE TOTAL

Ao longo da década de 90, cada vez mais tem-se lido nos jornais, escutado no rádio, visto na televisão, o conceito de QUALIDADE TOTAL. No entanto, o que vemos e ouvimos, aparentemente, vem sempre de uma mesma fonte - as grandes indústrias automobilísticas, de tratores, de colhedoras, de máquinas e implementos agrícolas, e outras.

Para estes segmentos, a Qualidade Total é um conceito definitivo, sem volta. Produzir com qualidade é fator de sobrevivência, fator de competitividade, fator decisivo para o lucro final.

Este novo conceito na agricultura moderna, leva a acreditar que, cada vez mais, a mecanização agrícola deve corresponder com parcela importante na propriedade agrícola. Assim sendo, o uso correto dos equipamentos, principalmente semeadoras, deve levar a rendimentos técnicos correspondentes, com custo adequado ao tamanho e forma de exploração da propriedade.

A lavoura de milho tem duas grandes fases: o plantio perfeito e a colheita correta.

Também vale lembrar que milho apresenta lavouras mais tecnificadas no mundo todo, além da área cultivada e da grande produção anual (490 milhões de toneladas). Assim, plantar milho com qualidade total será, sem sombra de dúvidas, fator de aumento da produtividade e de lucro para o agricultor.

FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE

A lavoura produz mais com semeadora bem regulada. O mais importante em uma semeadora é que ela consiga, com a máxima regularidade possível, depositar a semente no sulco para obter um estande de pantas capaz de alcançar adequada produtividade.

De todos fatores de produção que serão listados a seguir, nenhum é mais importante do que a população final de plantas por ocasião da colheita.

Trabalhos técnicos escritos por diferentes autores, em várias regiões produtoras de milho no Brasil confirmam que uma lavoura de milho, capaz de atingir produtividade econômica (100 - 150 sacos por hectare), deve ter, na colheita, uma população final, variando entre 40 e 60 mil plantas de milho.

Vários são os fatores condicionantes desta população final, entre eles a cultivar que está sendo semeada (precoce, super-precoce ou tardia), o regime hídrico da região onde a lavoura está situada e, fundalmentalmente, o nível de fertilidade do solo da lavoura. Milho não produz em terra pobre, fraca. Além da matéria orgânica e de adequados níveis de fósforo e de potássio no solo, é necessária uma adubação de base e coberturas nitrogenadas no decorrer do ciclo.

Finalizando, deve-se ter em mente que a cultura de milho é altamente correlacionada com precisão e eficiência. Assim sendo, o mecanismo dosador de sementes pode, e deve, ser considerado como coração da semeadora. Ele é responsável, em grande parte, pela regularidade da semeadora.

No grande elenco de semeadoras comerciais existem três sistemas de distribuição de sementes, com precisão, para a cultura de milho: discos alveolados horizontais, dedos preensores ou recolhedores e sistema pneumático (vácuo ou pressão).

Sistema Pneumático

Este sistema, embora ainda pouco usado no Brasil, representa o último avanço tecnológico em termos de precisão de plantio de milho. Existem dois modelos distintos: sistema por pressão de ar ou por sucção de ar. Em ambos casos, a pressão ou sucção é formada por um turboventilador acionado pela TDP do trator através de eixo cardã. Para cada cultura a ser implantada existem os pratos perfurados correspondentes. As sementes, por ação de pressão ou de vácuo, são forçadas a aderir aos furos, sendo liberadas em uma abertura em que o efeito do ar é minimizado e elas são liberadas para o tubo condutor.

SEMEADORAS PNEUMÁTICAS DO MERCADO NACIONAL

Na escolha de uma semeadora deve-se, antes de mais nada, atentar para o tamanho da propriedade ou seja, a relação custo x benefício entre o tamanho (modelo) da semeadora e a área de milho a ser plantada. Aqui entra outro ponto muito interessante que é capacidade gerencial da propriedade. De forma similar ao que acontece com a seleção de materiais genéticos de milho, existem semeadoras para baixa, média e alta tecnologia. O agricultor precisa entender que alta tecnologia (semeadoras pneumáticas, por exemplo), exige uma elevada capacidade gerencial, geralmente atrelada à assistência técnica .

Vamos apresentar o elenco de semeadoras pneumáticas existentes no Brasil, com algumas características de funcionamento.

SEMEADORA PST ACTIVA PNEUMATIC - Marchesan

A PST ACTIVA PNEUMATIC é equipada com distribuidor de sementes à vácuo, de exclusivo sistema de vedação, proporcionando menor desgaste, maior vida útil e fácil operação.

A elevada precisão deste distribuidor independe do formato e tamanho das sementes, as quais são aspiradas e liberadas com mínimo risco de dano mecânico, resultando em adequado estande de plantio.

Extremamente simples e preciso, o distribuidor à vácuo efetua o plantio de milho, soja, feijão, girassol, etc, com a simples troca de discos seletores.
Figura 1

SEMEADORA PNEUMÁTICA 5030 - Fankhauser

A semeadora 5030 pertence à linha de plantio de precisão da Indústria de Máquinas Agrícolas Fankhauser. Foi desenvolvida para plantio de soja, milho, girassol, feijão, etc. Possue reservatórios de fertilizante e de semente confeccionados em polietileno.
Figura 2

SEMEADORA PNEUMÁTICA SOLOMATIC - Baldan

A semeadora pneumática SOLOMATIC é dotada de eficiente dosador de sementes à vácuo, composto de tambor rotativo com disco conjugado e dois seletores de semente reguláveis, que asseguram precisão no plantio. Utiliza discos perfurados de aço inox para distribuição de milho, soja, feijão, girassol e algodão deslintado.
Figura 3

SEMEADORA PNEUMÁTICA EXACTA - Jumil

Utiliza o sistema pneumático por aspiração de ar (vácuo) para a seleção e distribuição de sementes. A caixa de distribuição é equipada com disco inox e um seletor (exclusivo) que retira o excesso de grãos. O vácuo é regulado em função do peso ou da densidade de semente a ser plantada.
Figura 4

SEMEADORA PNEUMÁTICA VACUMETER - SLC

A SLC agrega à sua linha de semeadoras da série 800 ou 900 o mecanismo de distribuição pneumática de sementes - VacuMeter. Mecanismo de fácil manutenção (para trocar de cultura, troca-se somente o disco distribuidor de sementes e ajusta-se o vácuo). Planta milho, soja, feijão, algodão, etc.
Figura 5

SEMEADORA PLANT-AR - Lavrale

A semeadora Plant-Ar diferencia-se das demais existentes no mercado em relação ao sistema de seleção e distribuição de sementes, bem como seu contato no fundo do sulco, favorecendo a emergência de plântulas e garantindo um perfil de população superior ao das demais semeadoras do mercado.

A seleção da semente, feita dentro da câmara de distribuição, é pneumática por pressão positiva de ar. Através de um jato de alta vazão de ar, constante e com níveis de pressão relativamente baixos (60 mbar para milho e 40 mbar para soja).

Tradicionalmente após a seleção da semente, esta percorre o trajeto até o solo por efeito da gravidade, sofrendo nesse percurso, rebotes e acelerações (em função da velocidade de trabalho, normalmente elevada), que alteram consideravelmente o ponto de deposição, reduzindo a precisão de plantio. No sistema Plant-Ar o transporte pneumático de sementes é feito através de dutos de pequeno diâmetro, em que as sementes são impulsionadas por jatos de ar até o sulco de deposição. Enquanto que nas demais semeadoras velocidades próximas a 7 km/h influem significativamente no desempenho da distribuição, a Plant-Ar obteve, em testes oficiais, desempenhos respeitáveis em velocidades de até 10 km/h.
Figura 6

QUANTO VOCÊ PERDE POR ERROS DE REGULAGEM?

Devemos sempre ter em mente que erros de regulagem de uma semeadora podem ser fatais, uma vez que não existe forma de compensar o problema.

Por exemplo: recomenda-se, para determinada lavoura, a densidade de plantio de 50.000 plantas úteis por hectare. O técnico responsável regula a semeadora para essa razão de distribuição.

Na realidade quantas sementes de milho deverão ser semeadas para se atingir esta meta? Atenção, pois alguns fatores devem ser levados em consideração no cálculo da regulagem de plantio. São eles:

  • Poder germinativo da semente: PG = 95 %
  • Emergência das sementes: E = 95 %
  • Sobrevivência das plântulas: S = 98 %
  • Deslizamento das rodas motrizes: D = 94 %
  • Preenchimento de alvéolos ou dedos: P = 97 %

Assim sendo, a População Desejada de Plantas é:

PDP =
50.000
0,95 x 0,95 x 0,98 x 0,94 x 0,97

PDP = 62.000 sementes por hectare.

PERDAS

Assim, por um erro de regulagem você vai perder 12.000 plantas de milho por hectare.

Supondo que cada uma destas plantas produzisse apenas uma espiga, e que cada espiga tenha, em média, 160g.

Você vai perder, por erros de regulagem: 1920 kg/ha
= 32 sacos/ha x R$ 10/saco = R$ 320/ha

Deste modo, em uma lavoura de 100 hectares você perde R$ 32.000, que equivale a compra de uma semeadora pneumática de precisão.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451. CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. portella@cnpt.embrapa.br
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