Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 24, dez./99

Tratamento de sementes de cereais
Edson Clodoveu Picinini 1
José Maurício Fernandes 2

As sementes de cereais de inverno, como trigo, triticale, cevada e aveia, são freqüentemente colonizadas por microorganismos patogênicos, responsáveis por consideráveis perdas no rendimento de grãos. Do ponto de vista sanitário, a semente ideal seria aquela que fosse livre de qualquer patógeno indesejável. Nas condições de cultivo do Sul do Brasil, os fatores climáticos influenciam na qualidade das sementes, sendo essas reflexo do ano em que foram produzidas. A maioria das doenças importantes dos cereais de inverno é causada por patógenos transmitidos por sementes. No trigo e no triticale temos como patógenos mais importantes os fungos Bipolaris sorokiniana e Drechslera tritici-repentis, cusadores, respectivamente, da mancha marrom e da mancha bronzeada da folha. Especialmente na última safra agrícola (1998), em virtude das condições de clima serem prevalecentes ou serem favoráveis às doenças de uma maneira geral (chuvas na fase de colheita), a giberela ou fusariose (Fusarium graminearum) têm sido detectada em níveis considerados extremamente altos nas sementes, tanto de trigo como de cevada. Na cultura de cevada, os patógenos mais importantes nas sementes são os fungos Bipolaris sorokiniana e Drechslera teres, causadores, respectivamente das doenças denominadas de mancha marrom e de mancha-em-rede. Em aveia, destacam-se a mancha marrom (Bipolaris sorokiniana) e a mancha da folha (Drechslera avenae).

Por se constituírem no veículo mais eficiente de disseminação de uma doença, as sementes quando infectadas, devem merecer atenção especial, e se necessário, serem tratadas. Dentre os principais objetivos do tratamento de sementes em cereais de inverno destacam-se:

  1. erradicar os fungos patogênicos localizados internamente no embrião da semente, como por exemplo o carvão do trigo; internamente, como micélio, no periplasma, e no endosperma como Bipolaris sorokiniana, Fusarium graminearum, Stagonospora nodorum e os localizados externamente, aderidos à semente, como por exemplo a cárie do trigo;
  2. impedir o crescimento de fungos necrotróficos como Bipolaris, Fusarium, Drechslera etc., que infectam sementes, evitando a contaminação do coleoptilo e das raízes, não transmitindo a doença para a parte aérea das culturas;
  3. diminuir a fonte de inóculo primário que proporciona pontos de infecção distribuídos ao acaso na lavoura, garantindo o processo de infecção nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura;
  4. reduzir o número de aplicações de fungicidas na parte aérea das culturas, pela erradicação do patógeno nas áreas novas ou em áreas de rotação;
  5. proporcionar, adicionalmente, controle de fungos biotróficos como oídio no início do desenvolvimento da cultura;
  6. manutenção do vigor de sementes pelo controle de fungos deterioradores das mesmas, como Penicillium spp. e Aspergilus spp.;
  7. aumento do poder geminativo de sementes, pelo controle de fungos que possam impedir a emergência a campo.
Os laboratórios de análises de sementes realizam procedimentos denominadas de rotina (germinação e pureza), bem como análises de sanidade, denominadas de "análises patológicas". De posse desse conjunto de análises, torna-se extremamente fácil ao responsável técnico, a tomada de decisão sobre o destino do lote analisado, recuperando-o com tratamento de sementes ou rejeitando-o, enviando as sementes para indústria. Os procedimentos a serem tomados, com base na análise sanitária são os seguintes:
  • lotes de sementes com índices de infecção por Bipolaris sorokiniana, Drechslera tritici-repentis, Drechslera teres e Drechslera avenae de até 30 %, devem ser tratados, enquanto que lotes com infecções superiores a esse índice devem, preferencialmente, ser substituídos por lotes menos infectados;
  • para Stagonospora nodorum, o tratamento de sementes é recomendado quando se observar índice de infecção superiores a 5 %; e,
  • para Fusarium graminearum, as sementes de trigo, de cevada e de triticale colhidas na safra anterior (1998) apresentam-se altamente contaminadas, e muitos lotes poderão ser descartados por não atingir a germinação mínima estabelecida por lei (80 %). Para esse patógeno, os fungicidas atualmente recomendados (Tabela 1) não apresentam, em testes realizados "in vitro", nenhuma fungitoxidade. Como estratégia para recuperação do lote, recomenda-se, no teste de germinação, o umedecimento do papel germitest em uma solução 0,5 % com fungicidas à base de benzimidazole que, ao controlar o fungo, melhora a germinação da semente. É importante o assistente técnico estar atento para o fato de que a população de Fusarium graminearum nas sementes decresce naturalmente com o tempo de armazenamento e que sob ponto de vista patológico, os grãos infectados têm pouca importância, pois são eliminados na trilha e na limpeza de grãos. Os danos por esse patógeno a campo limitam-se à morte de algumas plantas e a algumas podridões radiculares; não se recomenda, até o momento, tratamento de sementes especificamente para esse fungo.

O tratamento de sementes para o controle do carvão deve ser realizado em lavouras destinadas à produção de sementes, nas quais tenham sido determinados índices superiores a 0,1 % de espigas contaminadas com o patógeno.

Os fungicidas para o controle de fungos patogênicos recomendados pela pesquisa para as sementes das culturas de trigo, de triticale, de cevada e de aveia são mostrados na Tabela 1.

O controle de oídio é realizado por funcicidas como Baytan, Vincit, Spectro e Premis, principalmente naquelas cultivares suscetíveis ao patógeno. Essa prática tem-se mostrado mais econômica no controle do patógeno do que a pulverização na parte aérea da cultura.

A maior ou menor eficiência do tratamento de sementes depende de dois aspectos importantes: a distribuição e a aderência do produto à semente (cobertura), e a qualidade da semente, que deve possuir alto vigor e germinação.

O tratamento das sementes poderá ser realizado por via seca ou via úmida. Por via úmida, recomenda-se a adição de 1 a 2 % de água. Os álcoois polivinílicos melhoram a cobertura, além de se evaporarem rapidamente, mantendo as sementes secas.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. picinini@cnpt.embrapa.br
2 Pesquisador da Embrapa Trigo. mauricio@cnpt.embrapa.br
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