Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 21, dez./99

Pragas: no armazém, proteja os grãos
Irineu Lorini 1

1. Introdução

A necessidade crescente de produtos para suprir a demanda mundial de alimentos, tendo em vista o crescimento populacional, exige que a qualidade do grão colhido na lavoura seja mantida, com o mínimo de perdas, até o consumo final.

Estima-se que de cerca de 80 milhões de toneladas de grãos, produzidas anualmente no Brasil, 20 % são desperdiçados no processo de colheita, no transporte e no armazenamento, e que metade destas perdas são devido ao ataque de pragas durante o armazenamento.

As pragas são as maiores causadoras de perdas físicas, além de serem responsáveis pela perda na qualidade dos grãos e dos subprodutos, no momento que são destinados à comercialização e ao consumo. Existem dois importantes grupos de pragas que atacam estes grãos no armazenamento, que são besouros e traças. Nos besouros encontram-se as espécies mais importantes por causarem os maiores danos e justificarem a maior parte do controle preventivo. Os principais são o besourinho dos cereais (Rhyzopertha dominica) que ataca trigo e arroz; os gorgulhos (Sitophilus oryzae e S. zeamais) que atacam milho, trigo e arroz; e Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis e Tribolium castaneum, que atacam todos os tipos de grão. As espécies de traças mais importantes são a traça do milho (Sitotroga cerealella), e as traças das farinhas que atacam a superfície do grão (Plodia interpunctella, Ephestia kuehniella e Ephestia elutella).

Fatores como armazéns inadequados, sujeira nas instalações de armazenagem, poucos inseticidas registrados para controle das pragas, resistência das pragas aos inseticidas, falta de preocupação do armazenador com a presença de pragas e pouco treinamento dos encarregados em fazer o controle, entre outros, têm contribuído para que ocorram elevadas perdas de grãos, tanto em quantidade como em qualidade destes. Freqüentemente, observa-se apodrecimento de grandes quantidades de grãos nos armazéns, problemas na comercialização de grãos devido à presença de insetos, farinha com presença de restos de insetos, problemas oriundos da má-conservação dos grãos.

A solução para essa situação passa pela execução do manejo integrado de pragas, que prevê que se esteja informado a respeito da situação dos grãos e da unidade armazenadora, a identificação das espécies e das populações da praga ocorrente, a associação de medidas preventivas e curativas de controle das pragas, o conhecimento dos inseticidas recomendados e sua eficiência, a resistência das pragas aos inseticidas em uso, a análise econômica do custo de controle e das perdas a serem evitadas e, também, a adoção de rigoroso sistema de monitoramento das pragas, da temperatura e da umidade da massa de grãos.

Descreveremos a seguir as medidas de controle preventivo, que é o mais importante segmento nas estratégias de controle integrado das pragas destes produtos armazenados. O controle preventivo pode ser realizado da forma física, com uso dos pós inertes, ou da forma química, com emprego dos inseticidas químicos residuais.

Uso de pó inerte

O uso dos pós inertes para controlar pragas de produtos armazenados é bem antigo, pois o registro de um produto formulado para ser empregado no controle destas pragas no Brasil tem apenas alguns meses. Este produto disponível no mercado tem como ingrediente ativo terra de diatomáceas, proveniente dos fósseis de algas diatomáceas, cujo dióxido de silício é o componente básico. Este produto com nome comercial de INSECTO é um inerte que controla todos os besouros pragas de grãos armazenados, basta ser misturado com os grãos secos de trigo, milho e arroz em casca, na dose de 1,0 kg de INSECTO por tonelada de grão. Atua na praga por dessecação logo após contato desta com o produto. Pesquisas realizadas na Embrapa Trigo em Passo Fundo, com as principais pragas de cereais no Brasil demostraram excelente performance da terra de diatomáceas. Por ser praticamente atóxico, pode ser facilmente manuseado pelos operadores de armazéns, de forma segura, e também apresenta longo período de proteção da massa de grãos, sem deixar resíduos nos alimentos que chegam ao consumidor. Pode ser uma alternativa para controlar as raças das pragas resistentes aos inseticidas químicos sintéticos, e com isto ser usado no manejo integrado de pragas de grãos armazenados.

Uso de inseticidas químicos

Os inseticidas químicos protetores aplicados diretamente sobre os grãos para prevenir danos das pragas, são os mais empregados na atualidade.

Após os grãos terem sido limpos e secos, expurgados ou não, deverão ser guardados em armazéns previamente higienizados, por período variável, dependendo do consumo e do interesse de cada armazenador. Se o período de armazenagem for superior a três meses, pode-se fazer o tratamento preventivo dos grãos para proteção contra pragas. Esse tratamento consiste em aplicar inseticidas líquidos sobre os grãos, no momento de carregar o armazém, na correia transportadora, e homogenizá-los, de forma que todo grão receba inseticida. Este protegerá o grão contra o ataque de pragas que tentarão se instalar na massa de grãos, por período não inferior a seis meses.

A pulverização deve ser realizada com os grãos descansados, ou seja, não efetuar o tratamento com a massa de grãos quente, logo após esta ter saído do secador. Os grãos quentes apresentam uma série de inconvenientes para tratamento, que pode resultar em ineficácia. Assim, é aconselhável deixar os grãos esfriarem por alguns dias para, depois, fazer a pulverização com inseticidas e proceder à armazenagem adequada.

Para este tratamento, é necessário instalar adequadamente o equipamento de pulverização, que pode ser específico ou adaptado a partir de um pulverizador de lavoura. Deve-se instalar uma barra de pulverização, com três ou cinco bicos, sobre a correia transportadora, no túnel ou na passarela, distribuídos de maneira que todo grão receba inseticida. Também devem ser colocados tombadores sobre a correia transportadora para que os grãos sejam misturados quando estiverem passando sob a barra de pulverização. Durante este processo, devem ser verificadas a vazão dos bicos e a da correia transportadora. Se houver necessidade, deve-se fazer o ajuste de acordo com as doses de inseticidas e de calda por tonelada de grãos. Recomenda-se a dose de 1,0 a 2,0 litros de calda/t, a ser pulverizada sobre os grãos. Para arroz e trigo, em que o besourinho dos cereais e os gorgulhos são as pragas mais importante, recomenda-se uso de dois inseticidas combinados para se obter eficácia no tratamento. Pode-se usar inseticida piretróide (ProStore 25 CE na dose de 16 ml/t de grãos ou K-Obiol 25 CE na dose de 14 ml/t de grãos) e inseticida fosforado (Actellic 500 CE na dose de 14 ml/t de grãos ou Sumigran 500 CE na dose de 16 ml/t de grãos). É necessário o uso de um inseticida de cada grupo para conseguir o controle das diferentes pragas do arroz e trigo. Para milho a ser armazenado basta usar inseticida fosforado, Actellic 500 CE na dose de 14 ml/t de grãos ou Sumigran 500 CE na dose de 16 ml/t de grãos, para se obter controle, pois apenas os gorgulhos atacam estes grãos. Não se deve realizar o tratamento via líquida na correia transportadora, caso exista infestação de qualquer praga na massa de grãos, pois poderá resultar em falhas de controle e início de um problema de resistência das pragas aos inseticidas. A resistência das pragas geralmente inicia devido ao uso inadequado das medidas de controle e dos inseticidas.

Não se deve esquecer que, para se obter um longo período de proteção dos grãos, deve-se fazer pulverizações mensais nas paredes do armazén e sobre a superfície da massa de grãos armazenados, o que evitará a entrada de qualquer inseto no grão estocado.

Estas medidas bem aplicadas, associadas aquelas descritas anteriormente sobre manejo integrado de pragas em grãos arnazenados, garantirão a qualidade ao milho, trigo e arroz a serem comercializados e consumidos, após o período necessário de armazenamento.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. ilorini@cnpt.embrapa.br
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